Dirce Camargo derruba Joseph Safra como 3ª mais rica do país
Viúva de Sebastião Camargo, empresária controla a Camargo Corrêa, conglomerado sediado em São Paulo
Da Redação
Publicado em 23 de agosto de 2012 às 11h36.
São Paulo - Com o controle discreto de um dos maiores grupos empresariais brasileiros, Dirce Navarro de Camargo tornou-se a mulher mais rica do país e tomou de Joseph Safra a posição de terceira maior fortuna local.
Viúva de Sebastião Camargo, Dirce controla a Camargo Corrêa SA, conglomerado sediado em São Paulo que tem entre seus ativos empresas de cimento, energia e a fabricante das sandálias Havaianas. Seu patrimônio líquido é estimado em US$ 13,1 bilhões, colocando-a na 59ª posição entre as pessoas mais ricas do mundo, de acordo com o Índice Bloomberg de Bilionários. Ela não aparece em nenhum outro ranking de fortunas.
O grupo, fundado pelo falecido Camargo em 1939, é controlado por meio da holding Participações Morro Vermelho SA. De acordo com documentos de incorporação publicados em 2002, as ações da Morro Vermelho estão igualmente distribuídas entre as três filhas de Dirce: Regina, Renata e Rosana. Parte das ações foi emitida em usufruto vitalício de Dirce, o que significa que ela terá o benefício das ações até morrer. O restante não pode ser vendido, transferido ou penhorado por suas filhas.
“Você nunca os vê nas colunas sociais”, disse David Fleischer, analista político da Universidade de Brasília. “Eles deixam administradores profissionais fazerem toda a gestão.”
Quando Sebastião Camargo morreu em 1994, ele já fazia parte do pequeno grupo de bilionários brasileiros e era reconhecido por seu papel na construção de hidrelétricas e rodovias no país após a Segunda Guerra Mundial. A fortuna de sua viúva só cresceu desde então, com o país despejando dinheiro em projetos de infraestrutura em preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Este ano, o grupo gastou quase 3 bilhões de euros (R$ 7,6 bilhões) na compra de 95 por cento da Cimpor- Cimentos de Portugal SGPS, sediada em Lisboa.
Transporte de areia
A assessoria de imprensa da empresa disse que Dirce Camargo controla a fortuna da família e se recusou a fazer comentários sobre seu patrimônio pessoal. Joseph Safra, que tem US$ 10,4 bilhões, é dono da quarta maior fortuna do país, de acordo com o Índice Bloomberg de Bilionários. Eike Batista permanece como número 1, com US$ 21,1 bilhões, seguido por Jorge Paulo Lemann, da Anheuser-Busch InBev, com US$ 17,4 bilhões.
Entre os investimentos da família Camargo em empresas de capital aberto estão uma fatia de 26 por cento na distribuidora CPFL Energia SA, avaliada em US$ 2,8 bilhões; uma participação de 17 por cento na concessionária de rodovias CCR SA, avaliada em US$ 2,6 bilhões; e uma participação majoritária na fabricante de calçados Alpargatas SA, avaliada em US$ 1,1 bilhão. Carro- chefe do grupo, o braço de construção -- atualmente envolvido na construção das usinas de Belo Monte e Jirau na região Amazônica -- gerou aproximadamente 30 por cento da receita total de R$ 17,3 bilhões do grupo no ano passado.
Nascido em 1909, Sebastião Camargo começou a transportar areia nas costas de jegues ainda em sua adolescência. Abriu uma empresa de construção em 1939 com dois sócios, de quem a família Camargo acabou comprando as participações mais tarde. A empresa conquistou contratos do governo para construção de rodovias e ferrovias na década seguinte. Nos anos 1950, a companhia participou da construção de Brasília.
"Vacas gordas"
O empresário, que recebeu o diploma honoris causa da Escola Superior de Guerra em 1967, diversificou as atividades da empresa para a produção de cimento. Foi um período de “vacas gordas” para o investimento público, de acordo com Fleischer. A Camargo Corrêa assumiu projetos de infraestrutura cada vez maiores, como o metrô de São Paulo, a Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói.
“O grande progresso do Brasil foi no governo militar”, afirmou Camargo à Folha de S.Paulo em dezembro de 1990.
Nos anos 70, Camargo trabalhou na expansão do grupo pela América Latina. O general Leônidas Pires Gonçalves contou ao Museu da Pessoa, de São Paulo, que Camargo uma vez pediu sua ajuda para garantir a assistência do governo brasileiro para mediar uma disputa trabalhista em um projeto na Venezuela. O general concordou. Na volta da democracia em 1985, ele foi nomeado Ministro do Exército.
Legado em "concreto"
Os negócios de Camargo continuaram prosperando sob o regime democrático. Durante a onda de privatização da década de 1990, a companhia comprou a CPFL e arrematou concessões para operação de rodovias que foram mais tarde reunidas na CCR. Sebastião Camargo comandou o grupo até sua morte em 1994, quando o controle passou para sua esposa, Dirce.
“Sebastião ousou. Ousou sempre”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em dezembro de 2002, em discurso na hidrelétrica de Tucuruí, outro projeto da Camargo Corrêa. “E o resultado da sua ousadia está plantado em concreto pelo Brasil afora.”
Hoje, a Camargo Corrêa continua tendo apoio do governo. Empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social representam cerca de 24 por cento da dívida do grupo, de acordo com José Vertiz, diretor de finanças corporativas para América Latina da Fitch Ratings.
Gestores profissionais
Dirce Camargo atuou brevemente como presidente do conselho após a morte do marido. A companhia hoje é comandada por administradores profissionais, como o presidente Vitor Hallack. Dois genros do fundador fazem parte do conselho: Carlos Pires Oliveira Dias e Luiz Roberto Ortiz Nascimento. O terceiro genro, Fernando Arruda Botelho, morreu em um acidente aéreo em abril.
O braço de construção é o maior ativo do grupo após os investimentos em empresas de capital aberto, que somam US$ 9,5 bilhões. No ano passado, a unidade apresentou receita de R$ 5,2 bilhões e lucro antes dos impostos, juros, depreciação e amortização de R$ 166 milhões. A divisão está avaliada em US$ 2,2 bilhões, com base no valor do empreendimento-Ebitda de quatro empresas do setor com capital aberto: a peruana Grana y Montero SAA, a chilena Besalco SA, a China State Construction International Holdings Ltd. e a Arabtec Holding Co., de Dubai.
Excluindo a Cimpor, que tem ações negociadas em bolsa, o faturamento do grupo com cimento chegou a US$ 1,1 bilhão em 2011. Com base no valor do empreendimento-vendas da Cimpor e quatro companhias do ramo -- a colombiana Cementos Argos SA, a mexicana Cemex SAB, a PT Holcim Indonesia Tbk e a indiana Ultratech Cement Ltd. --, a fatia privada da divisão de cimento está avaliada em US$ 1,3 bilhão.
Construção naval
As operações de construção naval do grupo tiveram receita de R$ 609 milhões, Ebitda negativo de R$ 449 milhões e prejuízo de R$ 188 milhões no ano passado. A unidade está avaliada em US$ 250 milhões, com base no valor do empreendimento-vendas de quatro armadores de Cingapura: Nam Cheong Ltd., JES International Holdings Ltd., Yangzijiang Shipbuilding Holdings Ltd. e STX OSV Holdings Ltd.
Um desconto de liquidez de 5 por cento foi aplicado a cada uma das unidades de capital fechado. Foi somado um passivo de US$ 3,2 bilhões ao balanço patrimonial da Camargo para refletir a dívida líquida total do conglomerado, de acordo com a estimativa contida em um relatório de Vertiz, da Fitch, de junho de 2012.
Campos de golfe
A Camargo Corrêa divulgou lucro líquido somado de mais de US$ 4,2 bilhões só na última década, de acordo com seus relatórios anuais. Com base no dividendo estatutário de 15 por cento do lucro líquido e ajustando para o desempenho estimado no mercado e o custo de vida, a família provavelmente tem mais de US$ 3 bilhões em dinheiro, imóveis e outros ativos fora do grupo, segundo o Índice Bloomberg de Bilionários. Isso inclui diversos campos de golfe perto de São Paulo, de acordo com reportagem da revista Veja, de julho de 2002. A família também é dona de uma fazenda no Mato Grosso.
Nas eleições presidenciais de 2010, a Camargo Corrêa foi uma das maiores doadoras para as duas campanhas. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o grupo doou por meio de suas unidades pelo menos R$ 15 milhões ao PT e ao PMDB e R$ 8,5 milhões ao PSDB.
“É uma divisão de apostas”, disse Fleischer, da Universidade de Brasília. “Todos esses governos precisam de projetos de construção, seja regime militar ou regime civil. Eles não têm nenhuma ideologia.”
São Paulo - Com o controle discreto de um dos maiores grupos empresariais brasileiros, Dirce Navarro de Camargo tornou-se a mulher mais rica do país e tomou de Joseph Safra a posição de terceira maior fortuna local.
Viúva de Sebastião Camargo, Dirce controla a Camargo Corrêa SA, conglomerado sediado em São Paulo que tem entre seus ativos empresas de cimento, energia e a fabricante das sandálias Havaianas. Seu patrimônio líquido é estimado em US$ 13,1 bilhões, colocando-a na 59ª posição entre as pessoas mais ricas do mundo, de acordo com o Índice Bloomberg de Bilionários. Ela não aparece em nenhum outro ranking de fortunas.
O grupo, fundado pelo falecido Camargo em 1939, é controlado por meio da holding Participações Morro Vermelho SA. De acordo com documentos de incorporação publicados em 2002, as ações da Morro Vermelho estão igualmente distribuídas entre as três filhas de Dirce: Regina, Renata e Rosana. Parte das ações foi emitida em usufruto vitalício de Dirce, o que significa que ela terá o benefício das ações até morrer. O restante não pode ser vendido, transferido ou penhorado por suas filhas.
“Você nunca os vê nas colunas sociais”, disse David Fleischer, analista político da Universidade de Brasília. “Eles deixam administradores profissionais fazerem toda a gestão.”
Quando Sebastião Camargo morreu em 1994, ele já fazia parte do pequeno grupo de bilionários brasileiros e era reconhecido por seu papel na construção de hidrelétricas e rodovias no país após a Segunda Guerra Mundial. A fortuna de sua viúva só cresceu desde então, com o país despejando dinheiro em projetos de infraestrutura em preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Este ano, o grupo gastou quase 3 bilhões de euros (R$ 7,6 bilhões) na compra de 95 por cento da Cimpor- Cimentos de Portugal SGPS, sediada em Lisboa.
Transporte de areia
A assessoria de imprensa da empresa disse que Dirce Camargo controla a fortuna da família e se recusou a fazer comentários sobre seu patrimônio pessoal. Joseph Safra, que tem US$ 10,4 bilhões, é dono da quarta maior fortuna do país, de acordo com o Índice Bloomberg de Bilionários. Eike Batista permanece como número 1, com US$ 21,1 bilhões, seguido por Jorge Paulo Lemann, da Anheuser-Busch InBev, com US$ 17,4 bilhões.
Entre os investimentos da família Camargo em empresas de capital aberto estão uma fatia de 26 por cento na distribuidora CPFL Energia SA, avaliada em US$ 2,8 bilhões; uma participação de 17 por cento na concessionária de rodovias CCR SA, avaliada em US$ 2,6 bilhões; e uma participação majoritária na fabricante de calçados Alpargatas SA, avaliada em US$ 1,1 bilhão. Carro- chefe do grupo, o braço de construção -- atualmente envolvido na construção das usinas de Belo Monte e Jirau na região Amazônica -- gerou aproximadamente 30 por cento da receita total de R$ 17,3 bilhões do grupo no ano passado.
Nascido em 1909, Sebastião Camargo começou a transportar areia nas costas de jegues ainda em sua adolescência. Abriu uma empresa de construção em 1939 com dois sócios, de quem a família Camargo acabou comprando as participações mais tarde. A empresa conquistou contratos do governo para construção de rodovias e ferrovias na década seguinte. Nos anos 1950, a companhia participou da construção de Brasília.
"Vacas gordas"
O empresário, que recebeu o diploma honoris causa da Escola Superior de Guerra em 1967, diversificou as atividades da empresa para a produção de cimento. Foi um período de “vacas gordas” para o investimento público, de acordo com Fleischer. A Camargo Corrêa assumiu projetos de infraestrutura cada vez maiores, como o metrô de São Paulo, a Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói.
“O grande progresso do Brasil foi no governo militar”, afirmou Camargo à Folha de S.Paulo em dezembro de 1990.
Nos anos 70, Camargo trabalhou na expansão do grupo pela América Latina. O general Leônidas Pires Gonçalves contou ao Museu da Pessoa, de São Paulo, que Camargo uma vez pediu sua ajuda para garantir a assistência do governo brasileiro para mediar uma disputa trabalhista em um projeto na Venezuela. O general concordou. Na volta da democracia em 1985, ele foi nomeado Ministro do Exército.
Legado em "concreto"
Os negócios de Camargo continuaram prosperando sob o regime democrático. Durante a onda de privatização da década de 1990, a companhia comprou a CPFL e arrematou concessões para operação de rodovias que foram mais tarde reunidas na CCR. Sebastião Camargo comandou o grupo até sua morte em 1994, quando o controle passou para sua esposa, Dirce.
“Sebastião ousou. Ousou sempre”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em dezembro de 2002, em discurso na hidrelétrica de Tucuruí, outro projeto da Camargo Corrêa. “E o resultado da sua ousadia está plantado em concreto pelo Brasil afora.”
Hoje, a Camargo Corrêa continua tendo apoio do governo. Empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social representam cerca de 24 por cento da dívida do grupo, de acordo com José Vertiz, diretor de finanças corporativas para América Latina da Fitch Ratings.
Gestores profissionais
Dirce Camargo atuou brevemente como presidente do conselho após a morte do marido. A companhia hoje é comandada por administradores profissionais, como o presidente Vitor Hallack. Dois genros do fundador fazem parte do conselho: Carlos Pires Oliveira Dias e Luiz Roberto Ortiz Nascimento. O terceiro genro, Fernando Arruda Botelho, morreu em um acidente aéreo em abril.
O braço de construção é o maior ativo do grupo após os investimentos em empresas de capital aberto, que somam US$ 9,5 bilhões. No ano passado, a unidade apresentou receita de R$ 5,2 bilhões e lucro antes dos impostos, juros, depreciação e amortização de R$ 166 milhões. A divisão está avaliada em US$ 2,2 bilhões, com base no valor do empreendimento-Ebitda de quatro empresas do setor com capital aberto: a peruana Grana y Montero SAA, a chilena Besalco SA, a China State Construction International Holdings Ltd. e a Arabtec Holding Co., de Dubai.
Excluindo a Cimpor, que tem ações negociadas em bolsa, o faturamento do grupo com cimento chegou a US$ 1,1 bilhão em 2011. Com base no valor do empreendimento-vendas da Cimpor e quatro companhias do ramo -- a colombiana Cementos Argos SA, a mexicana Cemex SAB, a PT Holcim Indonesia Tbk e a indiana Ultratech Cement Ltd. --, a fatia privada da divisão de cimento está avaliada em US$ 1,3 bilhão.
Construção naval
As operações de construção naval do grupo tiveram receita de R$ 609 milhões, Ebitda negativo de R$ 449 milhões e prejuízo de R$ 188 milhões no ano passado. A unidade está avaliada em US$ 250 milhões, com base no valor do empreendimento-vendas de quatro armadores de Cingapura: Nam Cheong Ltd., JES International Holdings Ltd., Yangzijiang Shipbuilding Holdings Ltd. e STX OSV Holdings Ltd.
Um desconto de liquidez de 5 por cento foi aplicado a cada uma das unidades de capital fechado. Foi somado um passivo de US$ 3,2 bilhões ao balanço patrimonial da Camargo para refletir a dívida líquida total do conglomerado, de acordo com a estimativa contida em um relatório de Vertiz, da Fitch, de junho de 2012.
Campos de golfe
A Camargo Corrêa divulgou lucro líquido somado de mais de US$ 4,2 bilhões só na última década, de acordo com seus relatórios anuais. Com base no dividendo estatutário de 15 por cento do lucro líquido e ajustando para o desempenho estimado no mercado e o custo de vida, a família provavelmente tem mais de US$ 3 bilhões em dinheiro, imóveis e outros ativos fora do grupo, segundo o Índice Bloomberg de Bilionários. Isso inclui diversos campos de golfe perto de São Paulo, de acordo com reportagem da revista Veja, de julho de 2002. A família também é dona de uma fazenda no Mato Grosso.
Nas eleições presidenciais de 2010, a Camargo Corrêa foi uma das maiores doadoras para as duas campanhas. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o grupo doou por meio de suas unidades pelo menos R$ 15 milhões ao PT e ao PMDB e R$ 8,5 milhões ao PSDB.
“É uma divisão de apostas”, disse Fleischer, da Universidade de Brasília. “Todos esses governos precisam de projetos de construção, seja regime militar ou regime civil. Eles não têm nenhuma ideologia.”