Dia das grandes promoções: por que a Black Friday se chama assim?
Nos Estados Unidos, houve até uma tentativa de mudar o nome da Black Friday para Big Friday, mas foi um grande fracasso
Felipe Giacomelli
Publicado em 29 de novembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 29 de novembro de 2019 às 07h00.
São Paulo — O desespero já tomava conta dos comerciantes: os produtos de Natal estavam literalmente a caminho de suas lojas, mas não havia espaço para colocá-los nas gôndolas. Como vender do dia para a noite as mercadorias destinadas ao tradicional feriado americano de Ação de Graças, que haviam empacado nas prateleiras, e liberar espaço para os itens natalinos?
Foi nesse contexto que, no fim da década de 1950 e no começo da de 1960, na cidade da Filadélfia, nos EUA , surgiu a Black Friday , o dia seguinte ao feriado do Dia de Ação de Graças (que sempre cai na última quinta-feira de novembro), marcado por grandes descontos para acabar com os estoques da loja.
O pontapé inicial foi dado por um grupo de comerciantes locais que se uniu para divulgar que os preços estariam muito mais baixos que o normal. Resultado: a população foi em peso às lojas para aproveitar as liquidações, e a Filadélfia viveu um dia de caos.
Havia outro problema: como o Dia de Ação de Graças é em uma quinta-feira, tinha quem aproveitava para faltar no trabalho na sexta e emendar os quatro dias de folga. Muitos desses ausentes trabalhavam justamente no comércio, que já estava sobrecarregado pelo fluxo maior de clientes, aumentando a bagunça na cidade.
“Foram os policiais que criaram a expressão Black Friday, porque era um dia em que eles tinham que trabalhar demais. Era muita gente passeando, muita gente na rua para ficar de olho. E nos Estados Unidos o prefixo 'black' tem sentido negativo e era usado porque era um dia de muito trabalho para esses policiais”, explica o professor Fábio Mariano Borges, de comportamento do consumidor, da ESPM.
No português, a semântica é parecida. A expressão “a situação está preta”, que muitas pessoas consideram racista, costuma indicar um dia ruim.
“Tem registros dessa época relatando que os jornalistas iam cobrir a Black Friday, mas eles não faziam reportagens sobre como estavam as vendas nas lojas. Eles ficavam nas ruas para ver se o trânsito tinha aumentado em relação ao ano anterior, para contar o número de acidentes”, acrescenta Borges.
O dia de caos nas compras na Filadélfia não é o primeiro registro que existe sobre uma “black friday”. Em 1869, houve uma sexta-feira com grande queda da bolsa nos EUA, por causa do preço do ouro, que tinha desabado e afetado profundamente a economia por lá. Como resultado, esse dia ganhou o apelido de “black friday”, mas não há nenhuma ligação entre a depressão financeira e o dia destinado às liquidações.
Se, no começo, a expressão Black Friday era usada principalmente para designar o caos nas ruas da Filadélfia, houve um longo caminho até ela passar a significar um dia de megadescontos, como conhecemos hoje.
A mudança começou no início da década de 1960 com Abe S. Rose, um experiente profissional de relações públicas daquela cidade americana. Para popularizar as compras após o Dia de Ação de Graças, ele propôs mudar o nome de Black Friday para Big Friday, mostrando que o importante eram os preços mais baixos, não o caos e o trânsito.
Seu plano foi um fracasso. O nome Big Friday não pegou, e todos continuavam a se referir à data como Black Friday. Mas o termo mudou de sentido. A bagunça foi ficando para trás, enquanto as queimas de estoque ganharam mais importância e passaram a se espalhar pelos Estados Unidos.
Como as vendas eram muito boas para os lojistas, esse era o dia em que as contas saíam do vermelho e iam para o azul. “No Estados Unidos, quando se diz que uma empresa está no azul, diz-se que está no preto — no 'black'. Então esse profissional de relações públicas começou a associar a Black Friday a essa expressão típica dos contadores”, afirma o professor Fábio Mariano Borges.
E no Brasil?
Por aqui, a Black Friday não surgiu a partir da necessidade de queimas de estoque. Como no Brasil não há feriado de Ação de Graças, não é preciso liberar as prateleiras da noite para o dia. Também não havia um motivo para dar grandes descontos em mais uma sexta-feira de novembro.
Embora varejistas como o Magazine Luiza fizessem promoções após datas festivas, foi só a partir de 2010 que empresas de e-commerce se juntaram para criar sua própria Black Friday — na mesma data que nos EUA — mas com o objetivo de divulgar as compras na internet.
Desde então, esse fenômeno vem crescendo, e a expectativa é que, neste ano, as compras pela web atinjam 3,3 bilhões de reais. É, de longe, o dia de maior movimento nas lojas online. Já no varejo físico, que só a partir de 2012 passou a se movimentar nesta sexta de descontos, a alta nas vendas pode chegar a 8%.