Das roupas baratas ao e-commerce, como a Forever 21 foi do auge à quebra
O pedido encerra meses de especulação sobre a continuidade das operações da empresa, que chegou a ficar sem caixa para comprar roupas e repor os estoques
Karin Salomão
Publicado em 30 de setembro de 2019 às 13h00.
Última atualização em 30 de setembro de 2019 às 19h38.
Embora tenham contribuído para o sucesso da varejista Forever 21 durante anos, as peças lançadas rapidamente a preços baixos também podem ter sido uma das razões para a sua queda. A falta de visão para as mudanças no consumo e para o avanço do comércio eletrônico levou a empresa a dificuldades e o resultado é que a varejista americana de moda informou neste domingo (29) que vai entrar com pedido de recuperação judicial nos EUA.
O pedido encerra meses de especulação sobre a sobrevivência da Forever 21, que chegou a ficar sem caixa para comprar novas roupas e repor os estoques em loja. A varejista, que não é cotada em bolsas e não informou números da operação, disse que vai buscar maximizar os resultados das lojas remanescentes nos Estados Unidos. A rede atua no Brasil desde 2014, e o negócio aqui deve ser mantido.
O caso da Forever 21 é o mais emblemático das mudanças de hábitos dos consumidores nos Estados Unidos e no mundo. Com lojas gigantes em espaços de destaque, como a Times Square em Nova York, em menos de seis anos, a empresa foi de sete a 47 países, o que aumentou a complexidade do negócio.
No entanto, com o avanço do comércio eletrônico, os shopping centers e grandes lojas de departamento sofreram com a queda de visitas e vendas. Apenas neste ano, cerca de 8.200 lojas fecharam nos Estados Unidos, mais do que as quase 5.600 unidades fechadas em 2018, de acordo com uma pesquisa da Coresight Research. O número de unidades fora de operação neste ano pode chegar a 12.000, segundo o levantamento.
Em carta aos clientes, a Forever 21 diz que o pedido de recuperação judicial protege seus negócios, “para que as lojas continuem operando normalmente enquanto ela dá passos positivos para reorganizar o negócio, retornar para a lucratividade e focar novamente em entregar estilos incríveis e moda ainda por muitos anos”.
“Este foi um passo importante e necessário para garantir o futuro de nossa empresa, o que nos permitirá reorganizar nossos negócios e reposicionar a Forever 21”, disse a vice-presidente Linda Chang em comunicado. Linda é filha de Do Won e Jin Sook Chang, imigrantes coreanos que fundaram a companhia em 1984 e ainda são seus acionistas controladores.
A Forever 21 reforça que não irá deixar de operar e que as lojas, negócios e benefícios continuarão funcionando, mas que está estudando quais lojas deve fechar nos próximos meses.
Cerca de 350 unidades deverão ser fechadas em todo o mundo, incluindo quase 180 nos Estados Unidos. A empresa deverá sair de mercados internacionais como Ásia e Europa, mas deve continuar a operar na América Latina. Atualmente a Forever 21 tem 549 lojas nos Estados Unidos e 251 no resto do mundo.
Para continuar a operar, a empresa afirmou que recebeu 275 milhões de dólares em financiamento do banco JPMorgan Chase e 75 milhões em injeção de capital da TPG Sixth Partners.
No ano passado, o faturamento da Forever 21 foi de 3,3 bilhões de dólares, enquanto em 2016 havia faturado 4,4 bilhões de dólares. O número de funcionários também caiu, de 43.000 para 32.800 no mesmo período. Com a reestruturação, a empresa espera que as vendas fiquem na casa de 2,5 bilhões de dólares por ano.
A queda da Forever 21 não afeta apenas a companhia. Muitas de suas lojas estão localizadas em shopping centers mais distantes e de produtos mais populares, disse ao jornal The New York Times Jon Goulding, executivo da consultoria Alvarez & Marsal, que está liderando o projeto de reestruturação da empresa. Esses foram justamente os shoppings que mais sofreram com a crise do varejo americano e já perderam outras âncoras importantes, como as lojas de departamento Sears e Macy’s.
Apesar do cenário devastador, esse é só o começo do chamado "apocalipse do varejo". Um relatório do UBS prevê que mais de 75 mil lojas devem fechar na América do Norte entre 2019 e 2026.
Fast fashion
Ao lado da Zara e da H&M, a Forever 21 cunhou o termo fast fashion, ou moda rápida. Ao invés de oferecer roupas novas em coleções a cada mudança de estação, a empresa lança novidades a um ritmo frenético. No entanto, a Forever 21 já não é a mais rápida do segmento. Varejistas como Asos e Fashion Nova, voltadas para o consumidor digital, lançam novos modelos ainda mais rapidamente.
No entanto, o consumidor está mudando. Consumidores mais jovens se voltam cada vez mais a bens e marcas que afirmam a sustentabilidade como valor, disse Wendy Liebmann, diretora executiva da consultoria WSL Strategic Retail, em entrevista ao New York Times. “A Forever 21 colocou suas apostas na noção de que fast fashion iria continuar do mesmo jeito da última década, e que eles só precisavam estar nos lugares certos e criar a sensação de novidade”, disse ela. “Mas essa estética física e emocional não é mais o que o consumidor quer."
Em um relatório de 2015, a empesa de pesquisas Nielsen apontou o crescimento da tendência da sustentabilidade entre os jovens. A pesquisa, que entrevistou 30 mil consumidores em 60 países, descobriu que 66% dos jovens estão dispostos a pagar mais por marcas mais sustentáveis. As marcas que demonstravam compromisso com a sustentabilidade cresceram 4% naquele ano, enquanto o mercado avançou menos de 1%.
A falta de apelo à sustentabilidade é só um dos problemas da Forever 21, já que a modalidade de fast fashion continua forte para outras marcas. Concorrentes oferecem peças com uma qualidade ligeiramente maior por alguns dólares a mais. A rival da Forever 21, H&M, apresentou crescimento de 10% nas vendas no primeiro semestre do ano. A companhia não tem lojas no Brasil.