Cyrela cria nova marca para voltar ao Minha Casa Minha Vida após 6 anos
O interesse da empresa pela baixa renda pode ser explicado pela resiliência do setor em meio ao desânimo da economia brasileira
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de setembro de 2018 às 09h20.
A incorporadora Cyrela , que tem tradição em imóveis de médio e alto padrão, está retomando os empreendimentos próprios no segmento popular após seis anos. A companhia vai abrir neste fim de semana o estande para pré-lançamento de seu primeiro projeto sob a marca Vivaz, braço de negócios recém-criado para atuar no Minha Casa Minha Vida (MCMV), com apartamentos de até R$ 240 mil em grandes cidades.
A Cyrela costumava trabalhar com projetos populares com a marca Living, criada em 2006. No entanto, aos poucos a operação se especializou em empreendimentos típicos da classe média, com preços de até R$ 700 mil, enquanto os projetos da Cyrela geralmente superam a marca de R$ 1 milhão.
Em 2012, a Living deixou de lado os clientes que podem ser beneficiados pelo programa habitacional do governo. A presença da companhia no MCMV ficou então restrita às joint ventures com as construtoras Cury e Plano & Plano, nas quais a Cyrela detém 50% de participação, mas sem atuação no dia a dia das operações.
"Percebemos que havia uma oportunidade para se ampliar o portfólio de forma orgânica", diz o diretor de incorporação das marcas Vivaz e Living, Felipe Cunha. "Com a Vivaz, teremos amplitude suficiente para vestir toda a pirâmide."
A empresa não tem receio de "canibalizar" as companhias das quais é sócia. "Não é uma concorrência direta. Tem espaço para todos", diz o presidente da Plano & Plano, Rodrigo Luna. "O mercado está aquecido. Se a Cyrela não ocupasse esse espaço, outro iria ocupar", afirma Ronaldo Cury, diretor da Construtora Cury.
Resiliência
O interesse da Cyrela pela baixa renda pode ser explicado pela resiliência do setor em meio ao desânimo da economia brasileira. As vendas são voltadas a clientes que, em sua grande maioria, não têm casa própria, o que garante uma forte demanda. Além disso, há oferta de financiamento a taxas baixas, com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), facilitando a conversão em vendas.
A disputa na base da pirâmide tem aumentado. Neste ano, as incorporadoras Eztec e RNI voltaram a trabalhar no MCMV. O levantamento mais recente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) mostra que, nos 12 meses encerrados em julho, os imóveis dentro do programa habitacional responderam por 72,1% dos lançamentos no País e por 65,5% das vendas.
Participação
Segundo Cunha, os projetos da Vivaz responderão por uma pequena fatia do portfólio da Cyrela em 2018 e 2019, mas a participação será crescente, podendo atingir de 10% a 20% no médio prazo. No primeiro semestre, a Cyrela lançou seis empreendimentos, totalizando um VGV de R$ 259 milhões. Para o segundo semestre, estão previstos 16 lançamentos, sendo dois da Vivaz.
O executivo lembra que os projetos do MCMV têm um teto de preço estabelecido pelo programa e margens apertadas, o que exige atenção na condução do orçamento e das obras. "É uma operação que aceita pouquíssimo erro, então temos que funcionar como um relógio suíço", ressalta.
Por outro lado, o período de obras de cada projeto da Vivaz deve ficar entre 18 e 23 meses, enquanto Living e Cyrela têm empreendimentos que levam cerca de 30 meses para serem concluídos. Além disso, as vendas de imóveis na planta no segmento de baixa renda permitem o repasse imediato dos clientes aos bancos, acelerando o giro do capital. Dessa forma, Cunha prevê que os investimentos no novo negócio gerem um retorno similar ao das demais operações do grupo.