Concordata de Madoff supera US$ 1 bi seis anos após prisão
Custo de liquidar a defunta empresa de assessoria em investimentos de Bernard Madoff para indenizar milhares de vítimas superou US$ 1 bilhão
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2014 às 15h36.
Nova York - Desmantelar o maior esquema Ponzi da história dos EUA não tem sido barato.
Seis anos depois do desmoronamento da fraude de Bernard Madoff , o custo de liquidar sua defunta empresa de assessoria em investimentos para indenizar milhares de vítimas superou US$ 1 bilhão, embora os ex-clientes do vigarista não estejam pagando a conta.
As compensações, pagas pela Securities Investor Protection, organização que conta com financiamento do setor e está administrando o caso, financiaram uma equipe de advogados que nesta semana ultrapassou US$ 10 bilhões em recuperações para as vítimas, quase 60 por cento do capital que desapareceu após a prisão de Madoff em dezembro de 2008.
Irving Picard, o advogado de concordatas que está liderando o esforço como administrador para a empresa de Madoff, incluiu o novo total de compensações em um relatório provisório publicado ontem no seu site.
Um juiz de concordatas em Manhattan aprova as compensações regularmente, às vezes ignorando as objeções de grupos de vítimas.
As vítimas, que acreditavam que seus investimentos estavam sendo utilizados para comprar títulos, receberam quase US$ 6 bilhões de Picard desde que ele começou a distribuir os fundos recuperados. A última distribuição, de cerca de US$ 349 milhões, foi feita em maio.
Origens na década de 1960
A fraude, que segundo os promotores começou ainda na década de 1960, envolveu milhares de páginas de operações e extratos de contas falsos para milhares de clientes.
Picard empregou centenas de profissionais para desembaraçar a falcatrua e determinar quem tinha reclamações validas e quem deveria ser processado, mostram registros do tribunal.
Picard, do estúdio Baker Hostetler em Nova York, recuperou o dinheiro mediante centenas de processos legais e acordos com os clientes de Madoff e com os bancos que se beneficiaram com o esquema, embora não estivessem cientes da falcatrua.
Muitos dos casos foram recorridos, alguns deles perante o Supremo Tribunal dos EUA. Apesar de que US$ 6 bilhões foram pagos, mais bilhões estão sendo reservados até que a resolução das demandas determine quem obtém o quê.
A equipe de advogados ultrapassou a cifra recuperada de US$ 10 bilhões em 17 de novembro após chegar a um acordo com dois fundos que canalizaram dinheiro para a fraude, o Primeo Fund e o Herald Fund, ambos com sede nas Ilhas Cayman.
Os fundos concordaram em pagar um total de US$ 497 milhões para finalizar os processos contra eles pelos saques que fizeram da empresa de Madoff.
Clientes particulares
Para pagar aos perdedores líquidos, o administrador também processou dezenas de clientes particulares que sacaram mais dinheiro do que tinham depositado em suas contas.
O velho amigo de Madoff, Edward Blumenfeld, um desenvolvedor imobiliário de Nova York que construiu uma fortuna investindo com o vigarista durante décadas, concordou em pagar US$ 62 milhões para terminar o processo contra ele – acordo aprovado pelo tribunal em 18 de novembro.
“São obscenas”, disse por e-mail Helen Davis Chaitman, advogada que representa algumas das vítimas no caso, sobre as compensações.
Chaitman, que diversas vezes contestou Picard nos tribunais, disse que os promotores federais recuperaram a maior parte do dinheiro para as vítimas e que Picard deveria pagar mais do que somente o capital.
Um júri federal em Manhattan declarou em março que cinco ex-funcionários de Madoff são culpados por auxiliá-lo na fraude durante décadas, com a criação de documentos de operações e extratos de conta falsos.
Eles foram acusados de atingir milhares de aposentados, investidores ricos, organizações de caridade e até mesmo familiares e amigos, e de se enriquecer no processo. A sentença dos cinco ex-funcionários está agendada para o mês que vem.
Madoff, 76, se declarou culpado de fraude em 2009 e atualmente cumpre uma pena de 150 anos em um presídio federal na Carolina do Norte.
Pelo menos outras sete pessoas se declararam culpadas de participar do esquema, entre elas seu irmão Peter Madoff, quem cumpre uma pena de dez anos.
Quando o esquema entrou em colapso, descobriu-se que 160 milhões de cupons postais eram necessários para sustentar as margens que seduziam os investidores. Mas só existiam 27.000 no mercado. Condenado a anos de prisão, Ponzi posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro, onde morreu pobre em 1949. Seu nome carimbou o golpe de pirâmide, mundialmente conhecido como esquema de Ponzi.
Uma década se passou até que a empresa abrisse seu capital, exigência da CVM para que as atividades continuassem sendo exercidas. Ao longo desse tempo, multiplicaram-se os interessados no esquema. A Boi Gordo investiu inclusive em anúncios apresentados pelo ator Antônio Fagundes nos intervalos da novela “Rei do Gado”. Poucos anos depois a situação mudaria de figura: em 2001 a empresa não tinha mais dinheiro para honrar os resgates solicitados. A falência foi decretada em 2004, mas o processo ainda corre na justiça. Para indenizar os investidores, estuda-se a entrega das propriedades da Boi Gordo, transferindo-as para fundos em nome dos credores. Já o processo criminal instaurado contra o dono da empresa, Paulo Roberto de Andrade, foi cancelado pelo Superior Tribunal de Justiça em dezembro de 2009. Na CVM, a condenação sofrida por ele em 2003 combinou uma multa de mais de 20 milhões e a proibição de exercer o cargo de administrador de companhia aberta por 20 anos.
O canto da sereia era a proposta de rendimento de 1% ao mês. Com a fama consolidada, novos clientes nunca deixaram de lhe bater à porta. Parte do dinheiro recolhido nunca foi investida. A outra parte servia para remunerar os que solicitavam o resgate. Estima-se que os investidores tenham perdido entre 12 e 20 bilhões de dólares ao longo dos anos. Em 2009, Madoff foi condenado por 11 crimes, entre fraude contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e perjúrio.
Apostando antes na propaganda do que nas aves em si, o grupo conquistou 40.000 investidores no Brasil, 30.000 deles só no estado de Goiás. Para engordar a base da pirâmide, foram gastos 4 milhões de reais em publicidade em 2004 - e apenas 100.000 reais em ração para as avestruzes. Quando a pirâmide ruiu em 2005, a empresa fechou as portas e seus sócios fugiram para o Paraguai. Em 2010, a Justiça Federal condenou os dois filhos e o genro do dono da Avestruz Master a indenizar os investidores em 100 milhões de reais. Jerson Maciel, controlador do grupo, morrera dois anos antes da decisão. Os acusados também receberam penas de 12 a 13 anos de prisão. A execução da indenização, contudo, só irá acontecer quando todos os recursos judiciais tiverem se esgotado. Se executada, ela não será suficiente para cobrir o prejuízo total amargado pelos investidores, estimado em 1 bilhão de reais.
Como os demais golpes do tipo, o fundo prometia um retorno de 5% ao mês acrescido de um bônus semestral. Mas depois que um investidor solicitou o resgate de 3 milhões de reais em julho de 2010, a pirâmide não conseguiu se manter de pé. Maioline desapareceu por 140 dias, sendo preso em dezembro do ano passado. Seu julgamento começou no dia 22 de junho deste ano e ainda não foi concluído.
Embora a CVM tenha divulgado um alerta ao mercado sobre a irregularidade das operações, a empresa continuou funcionando até janeiro de 2009, quando sofreu intervenção do Banco Central. Estima-se que cerca de 3.000 investidores tenham perdido aproximadamente 100 milhões de reais.