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Concentração em commodities pode atrapalhar crescimento brasileiro

Em debate promovido pela revista The Economist em São Paulo, especialistas dizem que a falta de abertura econômica e de concorrência também travam o país

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

É consenso no mercado que o Brasil atravessa uma fase rica em oportunidades de negócios, principalmente devido a sua recuperação rápida e consistente após a crise econômica global. Por outro lado, a competência do país em administrar e conduzir os novos desafios inerentes ao atual crescimento foi questionada por especialistas em seminário realizado pela revista inglesa The Economist, nesta quarta-feira (21/10).

Na opinião da editora da América Latina da revista, Justine Thody, um dos grandes obstáculos para o crescimento efetivo brasileiro no longo prazo é a concentração de suas empresas multinacionais no setor de commodities, como Vale e Petrobras.

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"É claro que esse mercado é muito importante e deve ser explorado. No entanto, o Brasil ser altamente focado neste segmento o torna menos eficaz em outros setores e, até mesmo, menos capaz de competir com os grandes do mercado global", afirmou Thody.

Para ela, China e a Índia, também países emergentes, estão à frente do Brasil em relação às políticas de mercado. Ambos, além de incentivar o potencial doméstico, possuem uma economia muito mais aberta, com fortes investimentos nos segmentos de serviços e inovações.

"As empresas do Brasil encaram uma alta carga tributária e um custo de crédito muito alto. Isso acarreta uma falta de investimento do setor privado em pesquisa e desenvolvimento, o que reprime a inovação", disse Thody.

Ambição internacional

Mesmo com uma inflação controlada, um sistema financeiro forte e projeções positivas para o futuro do Produto Interno Bruto (PIB), os especialistas em geral concordam que o país ainda tem pouca ambição internacional.

"O governo incentiva muito pouco a saída das empresas do país quando comparado com a China e a Índia. Isso acontece porque as margens de lucro aqui são mais altas do que lá fora. Porém, este é o momento de ser mais ambicioso neste sentido", afirmou Aldemir Drummond, diretor acadêmico do programa voltado para economias emergentes BRICs on BRICs, da Fundação Dom Cabral.

Na opinião de Walter Cruz, gerente de estratégia e marketing da fabricante de ônibus Marcopolo, a criação de joint ventures para empresas que desejam expandir seus negócios é uma ótima opção. "A Marcopolo enfrentou muitas dificuldades de gestão em outros países e resolveu fazer parcerias locais, o que facilitou muito o nosso negócio", afirmou Cruz.

Além do estímulo ao mercado exterior, o incentivo à concorrência é outro ponto que deve ser melhor conduzido no país, segundo o presidente da Azul Linhas Aéreas, David Neeleman.

"A pouca competitividade em diversos setores no Brasil pode tornar os serviços menos eficientes. A predominância da Gol e TAM na aviação brasileira é um exemplo de como as empresas podem afrouxar a eficiência de seus serviços quando não há competidores", disse Neeleman.

De acordo com ele, a Azul soube aproveitar a necessidade de melhor preço e produto no setor aéreo brasileiro. (Continua)


Desafios

A importância de significativas melhorias nas áreas de saúde, educação e infraestrutura no Brasil foi outro aspecto de comum acordo entre os executivos e críticos presentes no seminário da revista The Economist.

Para eles, não existe crescimento sólido e consistente no longo prazo sem o desenvolvimento desses setores.

"O programa governamental Bolsa Família é ótimo, pois faz com que os jovens cheguem à escola. Mas, como ficam as coisas a partir daí? O Brasil tem muitas deficiências nesse quesito que ainda entravam o seu crescimento", afirmou Thody.

E meio a tantas notícias positivas como a realização da Copa do Mundo de 2014, Jogos Olímpicos de 2016, descobertas petrolíferas e a boa recuperação econômica no pós crise, é inegável dizer que o Brasil é o país do presente. No entanto, tendo em vista a opinião de diversos especialistas, as coisas não parecem ser tão favoráveis em relação ao seu potencial de crescimento no longo prazo.


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