Companhias aéreas em crise tentam sobreviver à espera de vacinas
Com o pedido de insolvência da Norwegian Air Shuttle na semana passada, cerca de 42 empresas decretaram falência ou pediram recuperação judicial neste ano
Juliana Estigarribia
Publicado em 23 de novembro de 2020 às 10h56.
Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 11h01.
O trio de vacinas contra o coronavírus na corrida pela aprovação pode chegar à população tarde demais para evitar outra rodada de insolvências de companhias aéreas.
Com o pedido de insolvência da Norwegian Air Shuttle na semana passada, cerca de 42 companhias aéreas globais decretaram falência ou entraram com pedido de recuperação judicial neste ano, segundo pesquisa da consultoria IBA Group. O número pode ultrapassar 70 até março, à medida que o aumento de casos de coronavírus pesa sobre a receita e operadoras tentam garantir novos financiamentos.
“O quarto trimestre e o primeiro trimestre do próximo ano podem ser igualmente terríveis,” disse Stuart Hatcher, do IBA, em entrevista. “As companhias aéreas farão de tudo para chegar até a Páscoa, quando a maior demanda deve coincidir com a distribuição das vacinas, mas chega um ponto em que o dinheiro acaba.”
Embora uma recuperação dos voos no final do verão do hemisfério norte tenha limitado insolvências de companhias aéreas nos últimos meses, uma nova onda de restrições para controlar a covid-19, combinada com a típica queda do tráfego no inverno, levará mais empresas à beira do colapso, disse Hatcher.
As operadoras que não conseguirem obter mais ajuda de governos, que já enfrentam limitações fiscais, serão as mais vulneráveis, disse.
A Norwegian Air entrou com pedido de proteção contra credores na Irlanda na semana passada, depois de a Noruega ter recusado anteriormente um segundo resgate além do empréstimo estatal de 3 bilhões de coroas (333 milhões de dólares) concedido em maio.
O que não está claro é o quanto os avanços em relação às vacinas afetarão as reservas antecipadas de companhias aéreas e a capacidade das operadoras de levantar dinheiro do governo ou de fontes privadas, disse Hatcher.
“Parece que há luz no fim do túnel, então pode haver mais confiança para intervir”, disse. “Então, novamente, as aprovações finais para vacinas ainda são necessárias, a distribuição levará muitos meses e não veremos a recuperação de mercados de longa distância em particular por muito tempo.”
O IBA diz que os números nos registros também subestimam a extensão das reestruturações, especialmente na Ásia, onde há uma proporção maior de companhias aéreas nacionais, como a Pakistan International Airlines e a Air India, em processos de estatais de reestruturação.
América Latina
Pedidos de insolvência têm sido mais comuns na América Latina, refletindo uma indisponibilidade relativa de financiamento estatal e pronto acesso aos procedimentos da Lei de Falência dos Estados Unidos, dos quais as principais operadoras como Latam, Avianca e grupo Aeroméxico devem emergir, de acordo com Hatcher.
Cerca de 50 bilhões de dólares em empréstimos e pagamentos de trabalhadores por meio da chamada Lei Cares ajudaram a evitar pedidos de recuperação judicial nos Estados Unidos, juntamente com um fluxo residual de receita de voos domésticos, disse.
Na Europa, há um grande desequilíbrio em financiamento entre os bilhões de euros de ajuda estatal concedida à Air France-KLM e Deutsche Lufthansa e os montantes muito menores acessados por aéreas de baixo custo, incluindo a Ryanair, disse Hatcher. Algumas operadoras, como a EasyJet, que tentam obter mais financiamento devem ser bem-sucedidas, disse.