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Com reestruturação vetada, JBS pode retomar IPO de subsidiárias

O frigorífico estava em processo para criar uma holding que concentraria seus negócios internacionais. Mas o projeto foi vetado pelo sócio BNDESPar

JBS: "estávamos confiantes de que a reestruturação geraria valor, mas vamos continuar buscando alternativas", disse Wesley Batista (PAULO FRIDMAN/Reuters)

Luísa Melo

Publicado em 26 de outubro de 2016 às 13h48.

Última atualização em 31 de outubro de 2016 às 10h35.

São Paulo - Com o cancelamento do processo para concentrar seus negócios internacionais em uma holding, v etado nesta quarta-feira (26) pelo BNDESPar, a JBS pode retomar os planos de abrir o capital de subsidiárias.

Em teleconferência com analistas, o presidente da empresa, Wesley Batista, disse que não vai se comprometer, mas que essa é uma das opções estudadas.

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"Não estou dizendo que vamos seguir esse caminho, mas claramente está dentro do rol de alternativas. Mas também tem outras, não quero especular", disse.

No passado, o frigorífico já tinha cogitado fazer o IPO da unidade que tem nos Estados Unidos, a JBS USA, e da Seara (antiga JBS Foods).

Segundo Batista, a reorganização dos ativos havia sido proposta, principalmente, porque a "soma das partes da companhia dá um valor infinitamente superior ao que está refletido seu valor total hoje".

Com a abertura de capital, as subsidiárias poderiam ter seus valores individuais melhor definidos para compor a empresa como um todo, afirmou.

Mirando investimentos

Pela reestruturação, a JBS seria criaria uma nova companhia com sede na Irlanda, que abarcaria as operações no exterior e a Seara, chamada JBS Foods International.

Os negócios locais de carne bovina, biodiesel, colágeno, couro e a transportadora seguiriam na JBS S/A, que passaria a se chamar JBS Brasil.

Um dos objetivos da mudança era conseguir mais acesso a investidores e recursos financeiros.

Proposta rejeitada

O plano foi rejeitado pelo BNDESPar, braço de participações do banco de fomento, que detém 20,36% das ações do frigorífico. A possibilidade de veto está contemplada no acordo de acionistas, vigente até 2019.

Batista evitou detalhar os motivos da decisão, que classificou como "desapontadora". Ele disse apenas que o banco analisou bastante e entendeu que " a reorganização, como está proposta, não é o melhor movimento para a companhia".

O banco alega que o movimento "desnacionalizaria" a empresa e que submetê-la a legislações estrangeiras comprometeria os deveres e direitos dos acionistas.

Batista deu a entender que as mudanças ocorridas no BNDES, que trocou de comando quando Michel Temer assumiu a presidência, podem ter influenciado o processo de alguma forma.

Ele disse que foram realizadas diversas reuniões para discutir os caminhos que a JBS pode seguir no futuro, mas que o sócio não colocou nenhuma sugestão específica na mesa.

"Tivemos mudanças de conselheiros que representam o banco, o banco teve mudança no time que faz as análises... Fica difícil para o BNDES sugerir [uma nova proposta] porque ele está na curva de entendimento e conhecimento do que a JBS é", afirmou.

Apesar do desvio nos projetos, Batista acredita que a empresa ainda tem força para crescer.

"A companhia chegou até onde chegou com a estrutura atual. Estávamos confiantes de que [a reorganização] geraria valor, mas vamos continuar buscando alternativas", colocou.

Batista mencionou como fatores positivos o aumento do consumo de proteína no mundo, o fato de o frigorífico ter duas plataformas importantes nos Estados Unidos (onde a economia vai bem), e a melhora do cenário brasileiro.

"Acreditamos que a fase mais árdua [no país] está ficando para trás. Estamos assistindo à recuperação da bolsa, da confiança, o que traz um cenário positivo para 2017".

Os motivos

Em nota, o BNDESPar informou que busca proteger os interesses da empresa, na qual investiu, e que não aprovou a reorganização "porque não a considerou como a alternativa que melhor atende aos interesses da companhia e de seus acionistas".

O braço de participação do banco alegou que "a reorganização proposta, ao prever a transferência da propriedade de ativos que representam aproximadamente 85% da geração do caixa operacional da JBS para uma companhia estrangeira, implicaria na desnacionalização da empresa e alteraria substancialmente os direitos e deveres conferidos a todos os acionistas".

Um dos efeitos negativos dessa internacionalização estaria a submissão da companhia a legislação e jurisdição estrangeiras.

O BNDESPar reiterou que permanece aberto para discutir outras soluções para a JBS e lembrou que seu apoio ao frigorífico teve início em 2007, por meio de participação acionária e, mais tarde, da compra de debêntures conversíveis.

"À época, a JBS era uma empresa pouco internacionalizada, com receita de aproximadamente R$ 4 bilhões ao ano. Hoje é uma empresa brasileira líder global no setor de proteínas, com vendas anuais de R$ 163 bilhões e presença em todos os continentes", reiterou.

Texto alterado às 10h35 de 31 de outubro de 2016 para incluir posicionamento do BNDESPar.

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