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Com compra da Estácio, Kroton se torna "inalcançável"

O conselho de administração da Estácio aprovou as bases financeiras da última proposta feita pela Kroton para comprá-la

Kroton (Germano Lüders/EXAME)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2016 às 12h12.

São Paulo - Depois de um mês, as conversas para combinar os negócios das duas maiores empresas de educação do país podem ter chegado ao fim.

O conselho de administração da Estácio aprovou nesta sexta-feira (1) as bases financeiras da última proposta feita pela Kroton para comprá-la, ou seja, concordou com o valor que a rival está disposta a desembolsar.

A informação foi antecipada pelo blog Primeiro Lugar, da Revista EXAME.

Outros termos do acordo serão discutidos e uma decisão final não foi tomada. A operação ainda precisaria ser aprovada pela administração de ambas as companhias e por órgãos reguladores.

Pela proposta, a Kroton passaria a deter toda as ações da Estácio, cujos investidores receberiam em troca 1,281 ação ordinárias da compradora, além de dividendos extraordinários no valor de 170 milhões de reais.

Com os bônus, a relação de permuta subiria para 1,322 ação da Kroton por cada papel da Estácio.

A favor da transação, pesa a sobreposição de acionistas, que têm participação nas duas companhias e estariam propensos a aceitar a aquisição pela Kroton, afirma Ricardo Kim, analista da XP Investimentos.

Um dos acionistas em comum é o Coronation, fundo de investimentos da África do Sul.

É extremamente improvável que a combinação seja aprovada sem restrições pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), por conta do potencial de formação de monopólio.

A análise, assim como ocorreu com a compra da Anhanguera, pode levar meses para ser finalizada.

Mas, apenas para dimensionar o tamanho do negócio, se isso acontecesse, as universidades, juntas, teriam cerca de 1,5 milhão de alunos, 1.080 polos de ensino a distância e 213 campi.

As receitas das duas no ano passado, somadas, passam de 8 bilhões de reais e, os lucros, chegam a quase 2,5 bilhões de reais.

“Isso torna o grupo muito forte, com uma grande hegemonia e capacidade de negociação”, afirma William Klein, presidente da consultoria de educação Hoper.

Segundo ele, é importante analisar não apenas a força financeira das duas empresas, mas também sua qualidade educacional e acadêmica.

“A educação é um ativo social, não apenas financeiro, por isso a aquisição precisa ser muito bem acompanhada por órgãos como o MEC”, afirma.

Inalcançável

Com a aquisição , a Kroton, que já é a maior companhia do setor no Brasil e no mundo, se torna "praticamente inalcançável" pelos competidores locais, nas palavras Alexandre Montes, analista da consultoria de investimentos Lopes Filho.

"A compra é estratégica e cara e, por isso, destrói valor no curto prazo, mas agrega muito no longo. Ela ganha escala, se torna ainda mais gigante, elimina estruturas em duplicidade e passa a não ser ameaçada por mais ninguém", disse.

Bruno Giardino, do Santander, concorda, mas faz ressalvas.

"A Kroton vai usar a escala a seu favor, ter mais eficiência, oferecer preços melhores. É muito difícil que alguém consiga replicar o seu tamanho, mas o mercado de ensino é muito regional, nada garante que ela vai ter as marcas de melhor reputação em todas as cidades que opera", pondera.

A capacidade de agregar valor da operação é confirmada pelo movimento do mercado. Desde o início de junho, quando as negociações começaram, as ações da Estácio subiram 56,17% e, as da Kroton, 22,74%.

Análise do Cade

Nos cálculos do analista do Santander, as sinergias seriam da ordem de 350 milhões de reais por ano, um montante total de cerca 4 bilhões de reais trazido a valor presente.

Segundo ele, para dar sinal verde ao negócio, o Cade pode exigir, principalmente, que as companhias se desfaçam de ativos de ensino a distância.

Juntas, elas concentram 48% das matrículas nessa modalidade, segundo os últimos dados do MEC, de 2014, cedidos por Giardino.

A Ser Educacional, que está na disputa para levar a Estácio com uma proposta no valor de 1 bilhão de reais, poderia vir a comprar os ativos que precisarão ser vendidos.

No campo de educação presencial, os problemas serão mais pontuais e, portanto, mais fáceis de serem solucionados, de acordo com Giardino.

Há 14 cidades em que tanto a Estácio quanto a Kroton têm campi. Em seis delas, conforme as contas do analista, a fatia de mercado de ambas ultrapassa 40%: Santo André (SP), Niterói (RJ), São José (SC), Campo Grande (MS), Macapá (AP) e São Luís (MA).

A análise do Cade, porém, pode considerar a concentração das duas em cada curso, isoladamente. Foi o que aconteceu quando a Kroton comprou a Anhanguera, em 2013.

Consolidação

A crise econômica e a consequente queda dos investimentos do país em programas de financiamento, como FIES, tornaram o crescimento das companhias de educação mais difícil.

Com fusões e aquisições, fica mais fácil gerar receita – e lucros. A dificuldade de crescer de forma orgânica é outra particularidade do mercado, afirma Ricardo Kim.

Por isso, a educação é um setor que tende a se expandir por meio de aquisições. Não à toa, o setor vive uma consolidação.

"A compra da Estácio pode ser um gatilho para que outras transações ocorram no segmento, as empresas tendem a ficar inclinadas a se combinar para se manterem competitivas", diz Giardino, do Santander.

Também não é por acaso que a Kroton fechou o primeiro trimestre com um caixa de 574,4 milhões de reais.

"Ela é capitalizada demais. Se não houvesse esse processo de consolidação do setor, estaria na hora de distribuir dividendos polpudos aos acionistas", diz Montes, da Lopes Filho.

Para os analistas, a possibilidade de a Estácio fechar acordo com a Ser Educacional, que já era pequena porque as sinergias com a Kroton são maiores, diminuiu ainda mais.

São Paulo – Grandes fusões e aquisições podem levar meses, até anos para serem concluídas, depois do anúncio. É preciso ter consenso de uma série de detalhes, além de aprovações para que o acordo possa realmente sair do papel. Nesta lista, fornecida pela Merrill DataSite, empresa de solução de data room virtual para processos de due dilligence, estão reunidos os 10 maiores negócios concluídos no país em 2015. Confira o estudo completo com o detalhe de cada transação a seguir.
  • 2. Telefônica Brasil

    2 /12(REUTERS/Susana Vera)

  • Veja também

    Alvo: GVT Em agosto de 2014, a Telefônica Brasil pagou R$ 26,2 bilhões por 100% das ações da GVT, que então pertenciam a francesa Vivendi. Mas o negócio foi concluído apenas em maio de 2015 e por isso lidera o ranking.
  • 3. Altice

    3 /12(Bloomberg)

  • Alvo: PT Portugal A francesa Altice concluiu a aquisição de 100% do capital social da PT Portugal por aproximadamente R$ 20,1 bilhões. Grande parte do montante foi destinado ao pagamento das dívidas da PT Portugal. A compra foi anunciada em novembro de 2014, mas só foi concluída em junho de 2015.
  • 4. Oi

    4 /12(Marcelo Correa / EXAME)

    Alvo: Portugal Telecom Depois de uma longa negociação, Oi e Portugal Telecom concluíram um acordo de fusão, anunciado em 2013. O negócio envolveu R$ 14,7 bilhões em ações da Portugal Telecom incorporadas pela Oi de acionistas privados. O negócio, concluído em setembro de 2015, acabou por criar uma nova operadora de telecomunicações, a CorpCo, uma multinacional com cerca de 100 milhões de clientes. Pelo acordo, a PT passou a deter 25,6% do capital social da empresa criada, com a opção de aumentar sua participação em até 37,4% - o restante ficou com a brasileira Oi.
  • 5. Cielo

    5 /12(WIKIMEDIA COMMONS)

    Alvo: Nova empresa A Cielo e a subsidiária do Banco do Brasil,Elo Cartões, formaram uma joint venture de R$ 11,6 bilhões, tendo R$ 8,1 bilhões sido aportados pela Cielo e R$ 3,5 bilhões em ativos do banco. A nova empresa fará a gestão das transações de débito e crédito feitas por meio do Ourocard, do Banco do Brasil. Das ações, 70% são da Cielo e 30% do banco (que tem participação na Cielo também e terá de forma direta e indireta cerca de 50,05% da joint venture).
  • 6. Rumo

    6 /12(Divulgação)

    Alvo: ALL A Rumo Logística conclui a incorporação da ALL- América Latina Logística em março de 2015, quando as ações da ALL passaram a ser negociadas como Rumo na BM&F Bovespa. A companhia desembolsou R$ 10 bilhões pelo negócio.
  • 7. Ecolab

    7 /12(Divulgação)

    Alvo: negócio de tratamento de água O negócio de tratamento de água e comercialização de produtos químicos da suíça Clariant no Brasil, Argentina e Colômbia foi adquirido pela Ecolab, por um valor não divulgado. Com a compra, concluída em março de 2015, a empresa americana pretende ampliar sua presença no setor.
  • 8. British American Tobacco

    8 /12(Germano Lüders/EXAME.com)

    Alvo: Souza Cruz A empresa britânica British American Tobacco concluiu uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) na Souza Cruz no valor de R$ 9,32 bilhões – R$ 27,20 por ação. Com a finalização da transação, a BAT passou a deter 97,70% do capital social da Souza Cruz, com o plano de tirar a companhia da bolsa de valores.
  • 9. JBS

    9 /12(Diego Giudice/Bloomberg)

    Alvo: Divisão de carne suína Por meio de sua subsidiária norte-americana, a JBS comprou os ativos da divisão de carne suína da Cargill, sediada em Minnesota, por um valor de R$ 5,623 bilhões A divisão Cargill Pork inclui duas fábricas de processamento de carne, cinco de ração e quatro granjas de suínos.
  • 10. BTG

    10 /12(Thinkstock/Ingram Publishing)

    Alvo: BSI Bank O banco brasileiro BTG Pactual concluiu em setembro de 2015 a aquisição do banco privado suíço BSI Bank por R$ 4,954 bilhões – uma transação anunciada em julho de 2014. Foi a primeira vez que uma instituição bancária de investimentos brasileiro comprou um banco relevante na Europa.
  • 11. JBS

    11 /12(Divulgação)

    Alvo: Moy Park Também em setembro, a Marfrig concluiu a venda de 100% do capital social da sua subsidiária irlandesa Moy Park para a JBS por R$ 4,851 bilhões. Com o negócio, a Marfrig espera focar em produtos que tragam maior ganho, como a exportação de carne bovina, enquanto a JBS pretende expandir o fornecimento de carne de aves para Ásia e Europa.
  • 12. Por falar em desafios...

    12 /12(Divulgação)

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