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Chefe do FMI pagou US$ 3.000 em diária de hotel. É muito?

Para um executivo do porte de Dominique Strauss-Kahn, valor pode até ser considerado comum, mas, seguindo o padrão das empresas no Brasil, o luxo é exagerado

Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI e acusado de assédio sexual, estava acostumado com luxo (Harold Cunningham/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2011 às 17h57.

São Paulo – O quarto 2806 do hotel Sofitel, em Nova York, chamou a atenção por outro motivo além do fato de ter sido palco de uma suposta tentativa de estupro por parte do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn contra uma camareira de 32 anos. Com uma antessala, sala de conferências, sala de estar, quarto e banheiro, o executivo francês pagou 3.000 dólares (quase 4.900 reais) de diária. Segundo a imprensa internacional, o FMI afirmou que a viagem à Nova York não foi feita a serviço e, por isso, Strauss-Kahn teve que arcar com as próprias despesas. Mesmo assim, nas ocasiões em que estava trabalhando, tudo era pago pelo fundo e sem economizar no luxo.

Apesar de receber um salário anual relativamente baixo, de 420.000 dólares, além da remuneração variável, Strauss-Kahn ganhava cerca de 75.000 dólares para manter um “padrão de vida adequado para trabalhar no fundo”. Em seu contrato, está definido que todas suas viagens a serviço devem ser feitas em primeira classe. Todo esse luxo está distante da realidade de muitas empresas no Brasil. De acordo com o executivo sênior de RH Werner Mitteregger, uma diária de 3.000 dólares em um hotel é um preço exorbitante, mesmo para os padrões de Nova York, cidade onde o setor hoteleiro tem preços altos em comparação com outros lugares dos Estados Unidos.

A média de pagamento de diárias em hotéis que as empresas costumam cobrir gira em torno de 300 a 400 dólares, um valor que garante conforto e o atendimento das necessidades para o executivo fazer bem seu trabalho. Nos aviões, a maioria costuma viajar de classe executiva. “Isso vale até para os presidentes-executivos de operações de multinacionais no Brasil, mas não significa que o presidente global dessas empresas não tenha o mesmo padrão do chefe do FMI. São liturgias do cargo”, afirma.


Mitteregger já trabalhou como diretor de RH em grandes companhias, como Unilever, Pfizer, Pepsico e Tecnisa, e conta que, em geral, as empresas costumam definir um teto de gastos em viagens. “Esses limites se fixam anualmente de acordo com as refeições e com as diárias de hotel usadas. As outras despesas variam muito de acordo com a necessidade de usar taxi, por exemplo, ou com as parcerias que a empresa pode fazer com companhias aéreas para diminuir os preços das passagens”, diz.

Nas empresas em que não é dado um limite para gastos, os abusos são evitados por meio de parcerias com redes de hotéis e companhias aéreas. Assim, os mais “espertos” não conseguem ter um luxo maior e mais caro do que o aceito pela empresa. Para a consultora da DBM Carmelina Nickel, muitos desses executivos acabam fazendo com o dinheiro da empresa aquilo que não fariam se fossem pagar do próprio bolso. “Se um executivo pode gastar até 3.000 reais, ele vai gastar 3.000 reais. É muito mais fácil gastar porque é a empresa que permite”, afirma.

Outra forma de conter esses abusos é a aprovação posterior de todas as contas apresentadas pelos executivos durante a viagem. Se a empresa julgar que determinado gasto foi excessivo, quem paga é o executivo. Werner Mitteregger conta que já presenciou esse tipo de caso. “Uma vez, o superior do executivo se recusou a reembolsar o valor de um vinho que ele havia pedido em um almoço. Não havia necessidade de pedir aquilo e ele não recebeu o valor de volta”.

Não que isso ocorra sem reclamações. O executivo de RH conta que já ouviu colegas reclamarem da “pequena” verba para as viagens, mas, para ele, reclamar é da “natureza humana”. “Quando se estabelece um valor, sempre tem um questionamento, dizem que não dá para nada, mas não tem jeito. Ou eles vão se adaptar ou vão pagar a diferença”, diz. No caso de Strauss-Kahn, ele preferiu pagar a diferença.

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Apesar de receber um salário anual relativamente baixo, de 420.000 dólares, além da remuneração variável, Strauss-Kahn ganhava cerca de 75.000 dólares para manter um “padrão de vida adequado para trabalhar no fundo”. Em seu contrato, está definido que todas suas viagens a serviço devem ser feitas em primeira classe. Todo esse luxo está distante da realidade de muitas empresas no Brasil. De acordo com o executivo sênior de RH Werner Mitteregger, uma diária de 3.000 dólares em um hotel é um preço exorbitante, mesmo para os padrões de Nova York, cidade onde o setor hoteleiro tem preços altos em comparação com outros lugares dos Estados Unidos.

A média de pagamento de diárias em hotéis que as empresas costumam cobrir gira em torno de 300 a 400 dólares, um valor que garante conforto e o atendimento das necessidades para o executivo fazer bem seu trabalho. Nos aviões, a maioria costuma viajar de classe executiva. “Isso vale até para os presidentes-executivos de operações de multinacionais no Brasil, mas não significa que o presidente global dessas empresas não tenha o mesmo padrão do chefe do FMI. São liturgias do cargo”, afirma.


Mitteregger já trabalhou como diretor de RH em grandes companhias, como Unilever, Pfizer, Pepsico e Tecnisa, e conta que, em geral, as empresas costumam definir um teto de gastos em viagens. “Esses limites se fixam anualmente de acordo com as refeições e com as diárias de hotel usadas. As outras despesas variam muito de acordo com a necessidade de usar taxi, por exemplo, ou com as parcerias que a empresa pode fazer com companhias aéreas para diminuir os preços das passagens”, diz.

Nas empresas em que não é dado um limite para gastos, os abusos são evitados por meio de parcerias com redes de hotéis e companhias aéreas. Assim, os mais “espertos” não conseguem ter um luxo maior e mais caro do que o aceito pela empresa. Para a consultora da DBM Carmelina Nickel, muitos desses executivos acabam fazendo com o dinheiro da empresa aquilo que não fariam se fossem pagar do próprio bolso. “Se um executivo pode gastar até 3.000 reais, ele vai gastar 3.000 reais. É muito mais fácil gastar porque é a empresa que permite”, afirma.

Outra forma de conter esses abusos é a aprovação posterior de todas as contas apresentadas pelos executivos durante a viagem. Se a empresa julgar que determinado gasto foi excessivo, quem paga é o executivo. Werner Mitteregger conta que já presenciou esse tipo de caso. “Uma vez, o superior do executivo se recusou a reembolsar o valor de um vinho que ele havia pedido em um almoço. Não havia necessidade de pedir aquilo e ele não recebeu o valor de volta”.

Não que isso ocorra sem reclamações. O executivo de RH conta que já ouviu colegas reclamarem da “pequena” verba para as viagens, mas, para ele, reclamar é da “natureza humana”. “Quando se estabelece um valor, sempre tem um questionamento, dizem que não dá para nada, mas não tem jeito. Ou eles vão se adaptar ou vão pagar a diferença”, diz. No caso de Strauss-Kahn, ele preferiu pagar a diferença.

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