Computador: na esteira de um movimento global dessas empresas, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco preferiram não assistir passivamente à entrada dessas companhias em nichos valiosos (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2016 às 20h16.
São Paulo - Os grandes bancos brasileiros estão se apressando a desenvolver inovações internamente para enfrentar a rápida multiplicação de empresas de tecnologia que prestam serviços financeiros, as chamadas fintechs.
Na esteira de um movimento global dessas empresas, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco preferiram não assistir passivamente à entrada dessas companhias em nichos valiosos do mercado brasileiro e já estão testando soluções criadas em seus próprios laboratórios.
O Banco do Brasil criou uma diretoria de negócios digitais, responsável por colher, desenvolver e premiar ideias de empregados para novos serviços com uso de tecnologia. O Bradesco está em fase avançada de testes para dois projetos concebidos dentro de seu programa InovaBra. E o Itaú Unibanco montou um espaço para startups em parceria com o fundo de capital empreendedor da Redpoint, o Cubo.
Em apresentações recentes a investidores, Bradesco e BB tomaram a maior parte do tempo normalmente usado para apresentar suas inovações tecnológicas para mostrar suas iniciativas para desenvolver ou cooptar fintechs. Apesar do Itaú não ver as fintechs como ameaça, a superintendente de Gestão de Tecnologia da Informação do Itaú Unibanco, Erica Jannini, afirma que os bancos ainda não têm clareza sobre qual o melhor modelo para lidar com elas.
"Reproduzir em escala a experiência positiva que os clientes têm com as fintechs é a resposta de 1 bilhão de dólares", resume Erica.
Por ora, um dos foco dos bancos no Brasil tem sido as ferramentas de renegociação online de dívidas. O serviço do BB criado para esse fim já movimentou cerca de 2 bilhões de reais em pouco mais de um ano. O Bradesco está em fase avançada de testes para um produto parecido.
"Uma vantagem desse sistema é evitar o constrangimento do cliente ter que ir até a agência (para renegociar dívida). Ele faz isso sozinho", disse o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do Banco do Brasil, Walter Malieni Júnior.
O interesse maior em ferramentas como renegociação faz sentido. Algumas das fintechs que estão ganhando terreno mais rápido, como a Geru e a Lendico, se concentram na oferta de crédito pessoal com juros mais baixos do que os do setor bancário. A Lendico afirma que pratica taxas de juro entre 2,79 e 5,26 por cento ao mês (algo entre 39 e 85 por cento ao ano), enquanto na Geru as taxas são de 25 a 80 por cento ano.
"Boa parte dos que nos procuram querem empréstimo para pagar cartão de crédito e cheque especial de bancos de varejo", disse Sandro Reiss, um dos quatro sócios-fundadores da fintech Geru, lançada no ano passado.
Num momento em que o spread bancário --a diferença entre a taxa paga pelos bancos para captar recursos e a cobrada de clientes-- beira o pico em duas décadas, ofertas de taxas que chegam a ser a metade das praticadas no mercado têm sido um canto da sereia para pessoas com alto endividamento.
Mas se os bancos têm os próprios canais de refinanciamento, com taxas menores, por que as pessoas procurariam as fintechs? "Não é só juro, tem também a agilidade", diz Marcelo Ciampolini, presidente da Lendico, portal também concentrado em empréstimo pessoal. Criado na Alemanha, esta fintech começou a operar no Brasil em julho passado.
Segundo Ciampolini, o uso intenso de modelos matemáticos para seleção dos clientes, permite às fintechs pinçarem os tomadores menos arriscados, o que explica os juros mais baixos. Segundo Ciampolini, em 400 operações, apenas duas tiveram atrasos acima de 90 dias.
Tarifas menores ou inexistentes são outro atrativo. O brasileiro Nubank, por exemplo, oferece cartão de crédito sem tarifa, em parceria com a MasterCard. A plataforma já recebeu 1,6 milhão de pedidos e tem uma lista de espera de 300 mil pessoas.
"Os bancos subindo tarifas e taxas estão sendo uma oportunidade pra gente", disse David Vélez, presidente-executivo e um dos sócios do Nubank, que tem empréstimo rotativo que cobra juro de 7,75 por cento ao mês.
INVESTIMENTOS
Segundo levantamento da consultoria CB Insights, bancos internacionais têm gradativamente investido eles mesmos no capital dessas startups financeiras. Bank of America, Citi, Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Morgan Stanley e Wells Fargo fizeram investimentos estratégicos em 30 fintechs desde 2009.
Seguem o exemplo de grandes fundos de private equity globais, que vêm investindo volumes cada vez mais robustos nessas companhias. Segundo um levantamento da Accenture, o volume captado globalmente para aplicar no setor triplicou entre 2013 e 2014, para 12,2 bilhões de dólares.
Das fintechs citadas nessa matéria, o Nubank concluiu neste mês a terceira rodada de captação de investimentos, de 208 milhões de dólares, incluindo recursos dos fundos Sequoia, Tiger Global e Kaszek Ventures. A Lendico recebeu 20 milhões de euros da Rocket Internet. A Geru ainda não tem investidor financeiro.
Para operar no Brasil, as fintechs trabalham como uma espécie de correspondente de uma instituição financeira autorizada a operar pelo Banco Central.
O Geru tem parceria com o AndBank, que no passado operou no país sob o nome LemonBank. A Lendico opera com o BMG. O BC já emitiu quatro circulares e uma resolução após a Lei 12.865, de 2013, o marco regulatório dos arranjos e das instituições de pagamento. A expectativa de especialistas do setor é de que o crescimento das fintechs vai trazer apertos maiores na regulação do setor no país.
"Quando começar a incomodar de verdade, vai ter pressão por regulação maior", diz Ciampolini, da Lendico.