Paulo Guedes: com desaceleração da economia, empresas pedem ajuda ao governo (José Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 20 de março de 2020 às 06h28.
Última atualização em 20 de março de 2020 às 13h13.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem a agenda lotada nesta sexta-feira, 20, por reuniões virtuais com executivos de grandes empresas brasileiras. Na pauta, os efeitos da pandemia Covid-19, causada pelo novo coronavírus, nos mais diversos setores da economia brasileira, e pedidos de socorro.
A primeira teleconferência, às 11h, é com o presidente da rede Accor de hotéis, Patrick Mendes. O setor de turismo, das agências de viagem às companhias aéreas, passando pelos hotéis, está sendo o primeiro a sentir os efeitos negativos do surto do novo coronavírus – que, mais cedo ou mais tarde, vão atingir todas as empresas. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, 90% das reservas nos 30.000 estabelecimentos de viagem do país até junho já foram canceladas.
O setor pede ao governo que pague, usando verbas do seguro-desemprego, parte dos salários de 90% dos seus 380.000 funcionários no país pelos próximos três meses. Nesse período, a administração federal bancaria 70% dos salários, até o máximo de 1.450 reais, e os empregadores ficariam com os 30% restantes, mantendo o vínculo com os trabalhadores. O custo para os cofres públicos seria de cerca de 1 bilhão de reais. A pressão dos demais elos da cadeia cresceu após o governo anunciar na quarta-feira, 18, um pacote de socorro financeiro às empresas aéreas.
Depois, ao meio-dia, é a vez do presidente do conselho de administração da produtora de açúcar e etanol Cosan, Rubens Ometto. Para as usinas, o grande problema é a queda de 54% do preço do petróleo neste ano pelas desavenças entre a Árábia Saudita e a Rússia, grandes produtores, e pela expectativa de desaceleração global devido à pandemia.
O barril do tipo Brent está cotado atualmente em 30 dólares. Se a Petrobras repassar essa baixa para a gasolina, o etanol não vai conseguir competir.
Às 16h, a conversa é com Lorival Luz, presidente da processadora de alimentos BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. Segundo EXAME apurou, quem solicitou a reunião foi a empresa, que quer dar sugestões de medidas para o enfrentamento da covid-19 e de um plano de contingência para garantir o abastecimento de alimentos no país enquanto durar o surto.
Em meio ao processo de reconstrução de uma cadeia de produção complexa após uma séria crise de administração e financeira que poderia ter quebrado a empresa, a BRF quer usar o aprendizado dos tempos duros para ajudar nos esforços de amortecimento da crise econômica e social que certamente virá.
O último interlocutor da lista é Rodrigo Abreu, presidente da operadora de telefonia Oi. Enquanto a Claro, a Vivo e a TIM aproveitam a maior demanda por serviços de comunicação que o isolamento social já está causando para tentar ganhar mercado, a Oi luta pela sobrevivência.
Em recuperação judicial desde 2016 e atrasada na renovação da sua rede de internet banda larga em relação às concorrentes, a Oi precisa vender ativos e conquistar novos clientes para sair do buraco. O novo coronavírus pode prejudicar o plano de recuperação da empresa que nasceu para ser a supertele brasileira.
Demorou pouco, no meio de um furacão, para o liberal Guedes deixar de lado os dogmas da Universidade de Chicago e dar a mãozinha do estado para empresas em dificuldades. Começou pelas aéreas. É impossível dizer aonde vai terminar.