Após IPO pôr fim à alavancagem, CEO da d1000 não quer saber de dívidas
Em entrevista exclusiva à EXAME, Sammy Birmarcker conta que não era o momento ideal para a oferta de ações, precificada no piso da faixa
Guilherme Guilherme
Publicado em 30 de setembro de 2020 às 15h08.
Última atualização em 30 de setembro de 2020 às 22h59.
Foi na busca da virada de jogo que o Grupo Profarma decidiu levar à bolsa sua rede de farmácias d1000. Segunda maior distribuidora de medicamentos do Brasil e acostumada a trabalhar com margens curtas, a Profarma usou a oferta inicial de ações de sua subsidiária ( IPO, na sigla em inglês) para arrumar a casa e alcançar patamares ainda mais altos com seu braço varejista.
"A gente não entrou no setor para ser coadjuvante, por mais duro que seja o varejo farmacêutico. Todo a aprendizado da Proframa em trabalhar com margens apertadas e disputa acirrada está no DNA da d1000", afirma Sammy Birmarcker, presidente da Profarma e da d1000.
Formada em 2013, quando a Profarma decidiu ingressar no varejo com as compras das redes Drogasmil e Farmalife, a d1000 fez aquisições das Drogarias Tamoio, em 2015, e da rede Drogaria Rosário, em 2017. Mas ainda que o crescimento inorgânico esteja nas raízes da empresa, os cerca de 400 milhões de reais levantados em IPO de oferta 100% primária tiveram outra finalidade.
Cerca da metade do dinheiro arrecadado na oferta teve como destino a amortização de parte da dívida líquida de 205 milhões de reais, que até a abertura de capital correspondia a 7,8x do Ebitda ajustado da d1000. A outra metade será para reforçar o caixa e abrir novas lojas. “A gente queria acabar com o problema de alavancagem e a gente entende que o mercado de capitais é a maneira mais barata para os planos da empresa. Tudo que a gente vendeu para os investidores está praticamente garantido”, afirma Birmarcker.
Com a solução da dívida encaminhada, o executivo pretende se manter longe de novos empréstimos, mesmo com taxa de juro na mínima histórica. “O juro pode estar baixo hoje, mas a gente não sabe como vai ser amanhã. Como diz o ditado, cão mordido por cobra tem medo de linguiça.”
"O momento não foi o ideal"
Com IPO precificado no piso da faixa indicativa, Birmarcker admite que o momento da abertura de capital da d1000 não foi o ideal, que, segundo ele, seria no ano que vem, quando a empresa já estaria com resultados mais consolidados para apresentar aos investidores. Ainda assim, o presidente da d1000 preferiu não correr o risco de esperar. “Estamos no mercado há 14 anos com a Profarma e a gente aprendeu que capital se abre quando pode e não quando quer. Mas a janela abriu e estávamos preparados.” Para o presidente da d1000 uma das principais razões de ter aberto o capital em meio à pandemia foi a de ter dinheiro em um momento de grandes oportunidades no mercado de farmácia.
“Há maior oferta de pontos [ de locação ] e, ao mesmo tempo, o valor pedido pelas luvas de aluguel está 30% a 40% menor do que era antes da pandemia.” Birmarcker também conta que os serviços de farmácias se tornaram ainda mais relevantes durante a pandemia. “Assistência farmacêutica ganhou mais peso no setor de farmácias, se tornando quase um posto avançado de cuidado à saúde [ com as pessoas ], evitando entrar em hospitais e clínicas. É um grande momento para as farmácias, mas é um setor mais inelástico, não tem um boom como o de imóveis.”