Após captação de US$ 20 milhões, Traive inicia internacionalização pelo México
Infraestrutura de tecnologia financeira para o agro, a Traive recebeu US$ 20 milhões, em rodada liderada por fundo do Banco do Brasil
Repórter de Negócios
Publicado em 1 de abril de 2024 às 15h59.
Última atualização em 2 de abril de 2024 às 12h50.
Pouco mais de um mês após anunciar um aporte de US$ 20 milhões de dólares, a techfin do agro Traive começa a colocar em marcha o plano de internacionalização, uma das frentes que os novos recursos devem impulsionar.
O processo está começando pelo México, a partir de uma parceria com a fintech agrícola Verqor. A startup financia a cadeia do agro na compra de insumos e maquinários e permite que os pagamentos sejam feitos com as colheitas.
Em operação desde 2018, a startup alocou mais de 10 milhões de dólares em créditos e tem acordos com mais de 200 varejistas de insumos. "Os agricultores retiram seus insumos no varejista de sua preferência e, quando entregam as colheitas ao comprador, a Verqor recebe o crédito do comprador e paga o agricultor", afirma Aaron Sandoval Medina, head de marketing da Verqor.
As duas operações são investidas da SP Ventures, fundo de venture capital dedicado aos negócios do agro, e se conheceram em feiras do setor.
“Nas conversas, nós percebemos que eles tinham, como uma fintech no México, a mesma dor que uma fintech tem no Brasil quando vai dar crédito, que é saber dar crédito. Ter inteligência ao redor disso, ter dados e agilidade ao redor disso”, afirma Fabricio Pezente, cofundador e CEO da Traive.
Qual é o modelo de negócio da Traive
A brasileira Traive atua no meio campo do mercado financeiro, oferecendo uma plataforma de inteligência artificial com produtos financeiros ligados ao agronegócio.
A solução, construída desde 2017, reúne grandes volumes de dados sobre riscos associados às culturas como soja, milho, algodão, cana, café e trigo, momento das safras e questões do clima, e combina a uma infraestrutura de análise de crédito. No total, segundo números internos, são mais de 2.500 pontos de dados.
“Nós não financiamos o nosso cliente, mas estruturamos, fazemos toda a parte de consultoria de crédito, ajudamos a criar os critérios de elegibilidade do produto e também a colocar no mercado”, diz Pezente.
A tecnologia é usada por clientes como multinacionais agrícolas de produção de insumo, tradings agro e cooperativas agrícolas. E, pelo lado financeiro, entram bancos, fundos de investimentos e fintechs.
No comando da startup, além de Pezente, está a também cofundadora Aline Oliveira, com passagens por companhias como Índigo e Cargill. Os dois fizeram mestrado no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Ela, em tecnologia, e ele em administração.
Saíram de lá como sócios para criar a Traive, negócio que desde 2017 recebeu mais de US$ 60 milhões em investimentos. A última rodada, de US$ 20 milhões, foi liderada pelo Fundo BB Impacto ASG I, sob gestão da Vox Capital.
No histórico, a empresa já atraiu recursos de veículos de empresas como Minerva, Syngenta Group Ventures, Serasa Experian VC e CSN Inova Ventures e BASF Venture Capital.
Como funciona o acordo
Com o acordo com a Verqor, a Traive começa a levar a experiência construída ao longo dos últimos anos para a desenvolver as soluções para atender as demandas e peculiaridades do México. Entre os sete maiores mercados agrícolas do mundo, o país da América do Norte é conhecido pela produção de abacate, feijão, tomate, pimentão e milho.
A plataforma de AI será abastecida com dados sobre produtividade, custos e culturas de plantio para criar o score do agro local, facilitando as análises da ferramenta da Verqor. A estimativa é de que os primeiros produtos sejam lançados a partir do terceiro trimestre deste ano.
“Como aqui, eles também têm um financiamento muito forte via mercado de distribuição de insumos, que chamamos de revenda aqui, só que é menor que no Brasil. Consequentemente, essas empresas têm ainda menos capacidade de caixa para poder dar crédito e precisam ainda mais de um financiador”, afirma Pezente sobre uma das diferenças entre os mercados nos dois países.
A estratégia de internacionalização é vista como central na tese da Traive até pela dimensão global do mercado e altamente impactada pelos ventos ao redor do mundo.
Apesar do desejo, a ordem na startup é não fazer movimentos bruscos. Outros mercados, como o americano, estão no radar, mas não devem se tornar uma realidade num curto espaço de tempo. “Com uma empresa em consolidação, em crescimento, nós temos que tomar cuidado com o excesso de frentes”, diz o CEO.
Para este ano, a startup prevê um crescimento em receita em torno de 250% em relação ao ano passado, quando avançou em torno de 500%. O executivo não revela o faturamento.