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Ameaça Trump: tristeza na indústria automotiva mexicana

A fábrica da Ford pretendia consolidar o setor da indústria automotiva, como um dos principais motores econômicos do país

Ford: "Ele (Trump), lá dos Estados Unidos, é que está nos prejudicando", diz um funcionário, que teme que o fechamento de mais fábricas (Carlos Jasso/Reuters)
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AFP

Publicado em 16 de janeiro de 2017 às 22h39.

Última atualização em 16 de janeiro de 2017 às 22h48.

No deserto pedregoso de San Luis Potosí , estão as estruturas inacabadas dos prédios de uma montadora cuja a construção a Ford cancelou inesperadamente.

A notícia foi um balde d'água fria.

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A fábrica da Ford, com um investimento de 1,6 bilhão de dólares, pretendia consolidar o setor da indústria automotiva, como um dos principais motores econômicos do país e da América do Norte.

"Donald Trump nos tirou a Ford para levá-la", disse Concepción Segura, de 54 anos, um dos mexicanos prejudicados pela decisão. Ele, sua esposa e quatro de seus seis filhos trabalham na construção da fábrica.

"Ele (Trump), lá dos Estados Unidos, é que está nos prejudicando", diz Segura, que teme que o fechamento de mais fábricas gere "muita carestia e pouco trabalho".

A Ford Motor Company disse em várias ocasiões que não cancelaria seus planos, apesar das ameaças de Trump. Mas não cumpriu o prometido.

Nos arredores da fábrica da Ford, fica Providencia, um povoado de 30 casas. Ali mora Teresa Contreras, uma mulher de 34 anos, que sonhava em trabalhar no setor de limpeza da companhia.

"Disseram que duraria quatro anos e só foram quatro meses", lamenta. Agora, ela não sabe onde vai trabalhar.

San Luis Potosí renasceu graças às multinacionais, e a vida ali gira em torno da indústria automotiva. As universidades mudaram de foco, buscando mão de obra qualificada, de engenheiros e administradores.

Na autoestrada em que estão as montadoras, proliferam os hotéis executivos e são construídos condomínios residenciais perto dos "clusters" industriais, pensados para a classe média que cresce desde a chegada da General Motors em 2008.

Futuro incerto

"Vínhamos crescendo muito bem, mas com a Ford haveria uma aceleração desse crescimento", explica Gustavo Puente, secretário de Desenvolvimento Econômico de San Luis Potosí, lamentando o cancelamento do projeto que traria ao estado 2.800 empregos diretos e 10.000 indiretos.

Poucos dias antes da posse, cresce a preocupação sobre sobre se as promessas eleitorais de Trump serão cumpridas, entre elas a saída americana do Nafta, que permite ao México exportar veículos com tarifa zero. Se a promessa for cumprida, essas exportações passariam a ter um taxa de 35%.

A decisão da Ford também poderá gerar um efeito dominó entre outras empresas do ramo, atingindo o setor que representa 3% do PIB nacional.

Em 1994, ano em que o Nafta entrou em vigor, foram produzidos no México 1.097.381 automóveis, dos quais foram exportados 52%. Ao fim de 2016, a produção foi três vezes maior, com 3.768.268 unidades, 79,87% delas exportadas.

Pedidos de calma

No entanto, nem todos os fabricantes de auto-peças estão preocupados.

Gunter Daut, vice-presidente no México da alemã Bosch, acha que é "muito cedo" para fazer prognósticos sobre o futuro da indústria com Trump.

Luis Caballero, diretor da TI Automotive, uma marca global de capital americano, demonstra otimismo, não só porque seu principal cliente é a alemã BMW, que inicia suas operações em 2019.

"Não precisamos ficar muito alarmados. É preciso confiar nos negócios que já temos e nos planos de expansão", disse Luis Caballero.

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