Alvo da PF, Renova Energia perde ação e acionistas produzirão provas
Acionistas querem saber se a companhia cometeu crimes ou irregularidades que possam causar prejuízos financeiros
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de julho de 2021 às 15h30.
Investigada por suspeitas de desvios de dinheiro no setor elétrico, a empresa Renova Energia perdeu uma ação no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) em que tentava impedir acionistas minoritários de produzir provas contra a própria empresa. Uma decisão da 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do tribunal, na última quarta-feira, 28, determinou que a diretoria da Renova apresente contratos e comprovantes de pagamento que, até então, eram negados aos acionistas minoritários. Os documentos devem passar por perícia, e a intenção dos acionistas é saber se a companhia cometeu crimes ou irregularidades que possam causar prejuízos a possui tem ações da Renova.
A empresa foi alvo da Operação ‘E o Vento Levou’, da Polícia Federal, ao longo de 2019. A investigação apura desvios de dinheiro da Cemig Geração e Transmissão , que fez um aporte de R$ 850 milhões na Renova.
Os acionistas minoritários dizem que, do valor do aporte, podem ter sido desviados ao menos R$ 115 milhões - montante que poderia chegar a mais de R$ 650 milhões. Os desvios teriam ocorrido por meio de supervalorização de contratos, operações simuladas. Os acionistas citam a delação premiada do ex-diretor jurídico Ricardo Assaf, da Renova, para embasar os valores sob suspeita.
Em 2019, três delatores - entre eles, Assaf - apontaram à PF o caminho de R$ 40 milhões que teria sido desviado do aporte da Cemig. Eles disseram que houve sobrepreço em um projeto eólico vendido pela Casa dos Ventos à Renova, no valor de R$ 40 milhões. O valor teria sido repassado posteriormente a seis empresas, segundo os delatores. Na delação de Assaf há também relato de pagamentos simulados, que teriam sido desviados das contas da companhia, de R$ 10 milhões.
Uma das acionistas majoritárias da Renova, a companhia Light, vendeu a um fundo de investimento todas as suas ações pelo valor de R$ 1 após a operação da PF. As ações correspondiam a 17,7% do capital da Renova, que em seguida apresentou um pedido de recuperação judicial.
Isso fez com que as acionistas minoritárias se sentissem prejudicadas e passassem a solicitar documentos à Renova sobre a administração da empresa. A companhia instaurou no mesmo ano uma auditoria interna, que ainda não foi concluída.
Os acionistas, liderados por um fundo de investimento, pediam na ação judicial o direito de solicitar documentos e a produção antecipada de provas na Justiça comum, em vez de constituir um Tribunal Arbitral para isso. O pedido havia sido negado na primeira instância, sob o entendimento de que a situação não era adequada para o pedido de produção antecipada de provas.
O desembargador Cesar Ciampolini, no entanto, entendeu que os acionistas tinham direito de acesso aos documentos e à produção de provas na Justiça, com base na Lei das Companhias, na Lei Anticorrupção e também na Lei da Ação Civil Pública por Dano ao Investidor. Ciampolini foi acompanhado, no acórdão, pelos outros desembargadores da 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial.
"É fato incontroverso que a companhia pode ser atingida pelas severas consequências de ilícitos", escreveu o desembargador. Ele destacou os ‘muito fortes indícios de um quadro de dilapidação patrimonial’.
A reportagem entrou em contato com a Renova Energia e a Cemig Geração e Transmissão, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.