Acidente da Gol: parentes das vítimas exigem punição a pilotos
Tragédia em que o jato executivo Legacy se chocou com o Boeing 737-800 da Gol, matando 154 passageiros, completa quatro anos
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.
À espera do julgamento dos dois pilotos americanos acusados de causar a morte dos 154 passageiros do voo 1907 da Gol, os parentes das vítimas se dizem indignados com o fato de Joseph Lepore e Jan Paul Paladino ainda não terem sido impedidos de voar. Nesta quarta-feira (29), a tragédia completa quatro anos.
Lepore e Paladino eram, respectivamente, o piloto e o co-piloto do jato executivo Legacy que se chocou com o Boeing 737-800 da Gol, em 29 de setembro de 2006. Na ocasião, Lepore já era funcionário da empresa aérea American Airlines, mas, de licença, veio ao Brasil a serviço da Excel Air, responsável pelo jato em que viajavam executivos da própria companhia e um jornalista americano.
Com a colisão, o Boeing da Gol se despedaçou durante a queda, matando toda a tripulação e passageiros. Mesmo com uma das asas avariadas, os pilotos do Legacy conseguiram pousar em uma base da Aeronáutica na Serra do Cachimbo, no Pará.
Não houve feridos entre as pessoas que estavam a bordo do Legacy. Embora estejam respondendo a processos criminais no Brasil, Paladino segue trabalhando na American Airlines, como piloto de voos regulares, e Lepore na Excel Air.
Os familiares das vítimas cobram das duas empresas que, por precaução e respeito, os dois americanos sejam impedidos de pilotar até a conclusão dos processos. Nesta quarta-feira, a presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas, Angelita de Marchi, viúva do executivo Plínio Luiz de Siqueira Júnior, e sua cunhada, Luciana Siqueira, foram ao escritório da American Airlines, em São Paulo, onde pretendiam, como um ato simbólico, entregar um estojo contendo duas réplicas das caixas-pretas de cada uma das aeronaves.
As duas e o advogado da associação, Dante D'Aquino, deixaram o local frustrados, porque sequer puderam entrar no prédio, recebendo de seguranças do edifício, ainda na calçada, a orientação para deixarem o estojo na portaria. No interior de cada réplica havia um pen drive com o áudio das conversas gravadas nas cabines do Boeing e do Legacy. De acordo com D'Aquino, as gravações comprovam os erros e falhas cometidos por Lepore e Paladino e os momentos de agonia vividos pelos pilotos do Boeing.
"Essa foi a forma encontrada pela associação de trazer ao conhecimento das empresas a informação de que há nos processos criminais dados irrefutáveis sobre a culpa dos pilotos e essas provas fundamentam as ações", disse D'Aquino.
Segundo o advogado, os processos se encontram na fase final de coleta de provas. No próximo dia 5, o brigadeiro Jorge Kersul, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) da Aeronáutica, será ouvido pela Justiça de Sinop (MT) como testemunha. Depois disso, Lepore e Paladino devem voltar a ser interrogados.
Concluída essa fase, haverá o julgamento em primeira instância do piloto e do co-piloto. Se forem condenados, eles podem recorrer. Se forem julgados culpados por homicídio culposo, os dois podem passar entre um e quatro anos presos. A pena pode ser cumprida nos Estados Unidos graças a um acordo entre os dois países.
"A verdade nós já sabemos. Agora nós clamamos por Justiça. Pedimos que esses pilotos irresponsáveis sejam impedidos de pilotar e colocar em risco a vida de milhares de outras pessoas", disse Luciana Siqueira, lembrando que, desde o início do mês, a associação está colhendo assinaturas por meio do site www.190milhoesdevitimas.com.br para cobrar das duas empresas medidas administrativas contra os pilotos.
Segundo Luciana, já foram recolhidas mais de 36 mil assinaturas, entre elas as dos cantores Hebert Vianna e Evandro Mesquita, e do apresentador Luciano Huck.
A "Agência Brasil" entrou em contato com a American Airlines para saber por que os representantes dos parentes das vítimas não foram recebidos e também para obter informações sobre a situação de Paladino. Em nota, a American Airlines se limitou a informar que, devido à política interna, não comenta a situação de seus funcionários.
A companhia manifestou "sinceras condolências a todas as famílias que perderam seus entes no acidente" e assinalou que o Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos Estados Unidos teria concluído que nenhum integrante da tripulação do Legacy foi considerado culpado pelas mortes.
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