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100.000 reais para ir pra casa

Michele Loureiro A economia brasileira, isso é inequívoco, começa a dar sinais de melhora aqui e ali. O problema é que, para uma infinidade de indústrias, a escuridão não está perto de dar lugar à luz. As montadoras são um dos maiores exemplos – e a Mercedes Benz, uma das mais tradicionais do país, seu […]

FÁBRICA DA MERCEDES: objetivo é gastar 140 milhões de reais para demitir funcionários / Germano Lüders (Germano Luders/Site Exame)
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Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2016 às 17h20.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h07.

Michele Loureiro

A economia brasileira, isso é inequívoco, começa a dar sinais de melhora aqui e ali. O problema é que, para uma infinidade de indústrias, a escuridão não está perto de dar lugar à luz. As montadoras são um dos maiores exemplos – e a Mercedes Benz, uma das mais tradicionais do país, seu caso mais dramático. A empresa vive agora seu momento mais difícil desde que começou a operar no Brasil, há exatos 60 anos.

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Para garantir a sobrevivência de sua fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, a montadora alemã está oferecendo 100.000 reais para cada funcionário que deixar a fábrica. Com um excedente de 2.500 pessoas na unidade que emprega 9.800 colaboradores, a companhia praticamente implora que os trabalhadores aceitem ir para casa.

Em comunicado, a montadora afirmou que a redução de quadro é fundamental “para combater a ociosidade de 50% da fábrica e, assim, manter as suas operações enquanto não ocorre a recuperação do mercado brasileiro”. Caso a previsão da Mercedes se confirme, 1.400 funcionários devem aceitar o plano de demissão voluntária (PDV), o que custaria 140 milhões de reais aos cofres da empresa.

O acordo milionário foi feito com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e contempla funcionários que aderirem ao PDV de 24 a 31 de agosto. Não importa o tempo de empresa, nem a área de atuação. Quem topar sair leva o cheque de 100.000 reais, o maior montante já oferecido pela montadora no país.

No dia 15 de agosto a Mercedes começou a enviar telegramas para funcionários que estavam em licença remunerada desde fevereiro avisando sobre as demissões. A companhia divulgou um comunicado dizendo que realizaria 2.000 dispensas e que todos os trabalhadores da unidade teriam de ficar de licença remunerada por tempo indeterminado – nada mais seria produzido.

A notícia revoltou os funcionários, que se mobilizaram, realizaram passeatas e até acamparam na frente da empresa – como é comum acontecer quando a montadora decide demitir. Em junho 2015, cerca de 300 trabalhadores montaram acampamento por 26 dias em frente à montadora depois de 1.300 demissões, que acabaram sendo revertidas.

Um problema do setor

O problema é que as negociações só teriam efeito caso a economia reaquecesse. Como isso ainda não aconteceu, acabaram aumentando o problema e exigindo medidas extremas. Depois de negociar com o sindicato local por nove dias, a fabricante de veículos pesados resolveu ponderar com a contrapartida do PDV e de congelar todos os salários no próximo ano. Segundo o vice-presidente do sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva, após muita insistência e um aval da matriz a companhia resolveu retomar as negociações. “Ainda vamos discutir o que acontecerá com quem ficar na fábrica, mas eles terão estabilidade até dezembro de 2017. Medidas como o lay-off rotativo, licença remunerada e Programa de Proteção ao Emprego (PPE) estão na lista”, diz.

O PPE, do Governo Federal em parceria com o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) não foi o bastante para ajudar a montadora a superar a crise, mesmo com a redução de jornada de trabalho e de salários, que eram complementados pelo governo. Ainda em nota, a companhia afirmou que “tem gerenciado o excedente nessa fábrica desde 2014. Desde então, não tem medido esforços para adequar suas operações à realidade do mercado interno, mas, principalmente, trazer soluções aos seus colaboradores que amenizassem os efeitos da crise, que tem afetado toda a sociedade brasileira”.

A Mercedes tem motivos para se preocupar. O mercado de caminhões não para de cair. Até julho deste ano encolheu 31% em relação ao mesmo período de 2015, para pouco mais de 30.000 caminhões. Em 2011, melhor ano para a indústria, foram vendidas 173 000 unidades. Enquanto isso, de janeiro a julho, as vendas de caminhões da Mercedes-Benz caíram 23,3% na comparação anual, totalizando 8.783 unidades. As vendas de ônibus também não ajudam. No acumulado do ano caíram 27,7%, enquanto no mercado total o recuo foi de 33,4%.

Segundo fontes ouvidas por EXAME Hoje, o estoque de caminhões e ônibus da montadora daria para cerca de três meses de vendas. “As adesões ao PDV são apenas a primeira parte de uma história que pode ficar ainda pior. Isso não será suficiente para fechar as contas da montadora”, diz um executivo do setor.

Não é apenas a Mercedes que sofre com o cenário de retração, que acertou em cheio os veículos pesados. As concorrentes também buscam alternativas para se ajustar ao novo tamanho desse mercado totalmente atrelado ao crescimento do PIB e aos financiamentos subsidiados. Incluindo os segmentos de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e tratores, as montadoras demitiram neste ano 3.000 trabalhadores. No total, empregam 126.800 pessoas.

Segundo a Anfavea, associação que representa as montadoras, atualmente há 21.000 funcionários em lay-off ou fazendo uso do PPE. O setor tem, literalmente, um caminhão de problemas para resolver.

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