'Violência em Londres foi oportunismo criminoso', diz professor de Cambridge
Sociólogo britânico diz que morte de Mark Duggan teve pouco a ver com violência no Reino Unido, e que o primeiro-ministro não tem força política para resolver o problema sozinho
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2011 às 11h00.
São Paulo – Embora a imprensa internacional tenha acompanhado de perto a onda de protestos no Reino Unido, pouco se falou sobre quem são os manifestantes e as causas da violência. Para o sociólogo da Universidade de Cambridge, Robert Blackburn, a morte de Mark Duggan foi apenas um pretexto para as manifestações.
Segundo ele, os saques aconteceram principalmente porque os manifestantes, em sua maioria jovens negros e pobres, perceberam que poderiam fazê-los. “Foi um caso de oportunismo criminoso”, diz Blackburn.
Ainda de acordo com o professor, embora o primeiro-ministro britânico, David Cameron, tenha feito declarações e promessas enfáticas de ação contra a violência, ele não tem força política para agir sozinho. “Isto requer uma ação em conjunto”, afirma.
Robert Blackburn é professor emérito do departamento de Sociologia do Clare College, Universidade de Cambridge. Ele foi diretor do Grupo de Pesquisas em Ciência Social da instituição. É especialista em análise das desigualdades sociais e sociologia do trabalho. Confira abaixo a entrevista que Blackburn concedeu a EXAME.com.
EXAME.com - Quem são estes manifestantes? De onde eles vêm?
Robert Blackburn - Eles são um grupo misto, mas a maioria é de jovens. Não sabemos muito sobre eles, mas são principalmente de lugares mais pobres. Também são mistos quanto à origem étnica, mas, provavelmente, pertencem a minorias com relação à população em geral.
EXAME.com - A morte de Mark Duggan é apontada como a causa dos protestos. O senhor acha que há outras razões?
Blackburn - A principal causa foi eles terem percebido que podiam fazer isto. A destruição de propriedades foi um exercício inútil de poder. Os consequentes saques foram apenas oportunismo dos criminosos. Os ricos trapaceiam não pagando impostos. Os pobres, saqueando. Mas a maioria é contra ambas as atitudes, e reagiu fortemente (no segundo caso).
EXAME.com - O senhor acredita no surgimento de algo como uma “Primavera Britânica”?
Blackburn - Não.
EXAME.com - O que pode ser feito para evitar o aumento da violência nestas manifestações e o surgimento de outras no futuro?
Blackburn - Há muitas razões para o crescimento da violência nas sociedades. Contudo, eu imagino que uma reação do poder público e penas severas nos tribunais (se é que elas serão dadas) vão desencorajar futuros protestos por algum tempo. Além disso, por um fim na crescente desigualdade econômica também ajudaria.
EXAME.com - Dados os últimos eventos envolvendo o governo e a imprensa britânica (caso do News of The World), o senhor acha que o primeiro-ministro David Cameron tem força política suficiente para controlar a situação?
Blackburn - Não sozinho. Isto requer uma ação coletiva.
EXAME.com - E a polícia? Depois de eventos como a morte do brasileiro Jean Charles e os escândalos dos grampos telefônicos, eles não perderam a credibilidade?
Blackburn - Os problemas de cúpula da polícia têm pouca relevância neste caso dos protestos. Você está certo ao dizer que a reputação dos policiais foi manchada, mas estes últimos acontecimentos conquistaram o apoio da opinião pública.
São Paulo – Embora a imprensa internacional tenha acompanhado de perto a onda de protestos no Reino Unido, pouco se falou sobre quem são os manifestantes e as causas da violência. Para o sociólogo da Universidade de Cambridge, Robert Blackburn, a morte de Mark Duggan foi apenas um pretexto para as manifestações.
Segundo ele, os saques aconteceram principalmente porque os manifestantes, em sua maioria jovens negros e pobres, perceberam que poderiam fazê-los. “Foi um caso de oportunismo criminoso”, diz Blackburn.
Ainda de acordo com o professor, embora o primeiro-ministro britânico, David Cameron, tenha feito declarações e promessas enfáticas de ação contra a violência, ele não tem força política para agir sozinho. “Isto requer uma ação em conjunto”, afirma.
Robert Blackburn é professor emérito do departamento de Sociologia do Clare College, Universidade de Cambridge. Ele foi diretor do Grupo de Pesquisas em Ciência Social da instituição. É especialista em análise das desigualdades sociais e sociologia do trabalho. Confira abaixo a entrevista que Blackburn concedeu a EXAME.com.
EXAME.com - Quem são estes manifestantes? De onde eles vêm?
Robert Blackburn - Eles são um grupo misto, mas a maioria é de jovens. Não sabemos muito sobre eles, mas são principalmente de lugares mais pobres. Também são mistos quanto à origem étnica, mas, provavelmente, pertencem a minorias com relação à população em geral.
EXAME.com - A morte de Mark Duggan é apontada como a causa dos protestos. O senhor acha que há outras razões?
Blackburn - A principal causa foi eles terem percebido que podiam fazer isto. A destruição de propriedades foi um exercício inútil de poder. Os consequentes saques foram apenas oportunismo dos criminosos. Os ricos trapaceiam não pagando impostos. Os pobres, saqueando. Mas a maioria é contra ambas as atitudes, e reagiu fortemente (no segundo caso).
EXAME.com - O senhor acredita no surgimento de algo como uma “Primavera Britânica”?
Blackburn - Não.
EXAME.com - O que pode ser feito para evitar o aumento da violência nestas manifestações e o surgimento de outras no futuro?
Blackburn - Há muitas razões para o crescimento da violência nas sociedades. Contudo, eu imagino que uma reação do poder público e penas severas nos tribunais (se é que elas serão dadas) vão desencorajar futuros protestos por algum tempo. Além disso, por um fim na crescente desigualdade econômica também ajudaria.
EXAME.com - Dados os últimos eventos envolvendo o governo e a imprensa britânica (caso do News of The World), o senhor acha que o primeiro-ministro David Cameron tem força política suficiente para controlar a situação?
Blackburn - Não sozinho. Isto requer uma ação coletiva.
EXAME.com - E a polícia? Depois de eventos como a morte do brasileiro Jean Charles e os escândalos dos grampos telefônicos, eles não perderam a credibilidade?
Blackburn - Os problemas de cúpula da polícia têm pouca relevância neste caso dos protestos. Você está certo ao dizer que a reputação dos policiais foi manchada, mas estes últimos acontecimentos conquistaram o apoio da opinião pública.