Vida de opositora cubana ameaçada por greve de fome
"Nesta manhã, a condição dela é muito precária, ela mal pode falar. Tememos por sua vida, que corre sério risco", afirmou Idania Yanes, uma militante que acompanha Marta
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2012 às 18h49.
Havana - Marta Beatriz Roque, conhecida como a "Dama de Ferro" da oposição cubana, confirmou nesta quinta-feira à AFP que manterá a greve de fome que já está em seu terceiro dia, apesar da preocupação de seus colaboradores em relação a seu estado de saúde delicado.
"Nesta manhã, a condição dela é muito precária, ela mal pode falar. Tememos por sua vida, que corre sério risco", afirmou Idania Yanes, uma militante que acompanha Marta.
Perguntada se pretende manter a greve, apesar das crescentes dificuldades de saúde, Roque, diabética e hipertensa aos 67 anos, garantiu que sim, quase sussurrando.
"Eu não quero falar, eu não quero falar, falar com Idania", murmurou a dissidente, cerrando os olhos fechados no quarto de seu pequeno apartamento do bairro popular de Santos Suarez, na capital cubana.
"Ontem (quarta-feira), ela vomitou, teve diarreia e uma parada cardíaca, uma enfermeira precisou reanimá-la. Ela perdeu a consciência por dois minutos, com a febre", explicou Idania Yanes.
Segundo Idania, vários dissidentes em Cuba ou no exterior enviaram mensagens para que ela pare com o jejum. "Mas Marta persiste nesta ideia, considerando que, de uma maneira ou de outra, é preciso acabar com a repressão que atinge os opositores em Cuba", explicou Idania Yanes.
Cinco outros militantes também estão em greve de fome para exigir a libertação do opositor Jorge Vazquez Chiavano, que foi condenado à prisão no dia 9 de setembro, e o fim da repressão contra os dissidentes.
"Hoje, sabemos que 26 pessoas em todo o país seguem em greve de fome", assegurou Idania Yanes, que denuncia a resposta do governo de "reprimir e reprimir sempre."
Economista liberal que aderiu à dissidência em 1989, Marta Beatriz Roque é a única mulher entre os 75 dissidentes condenados a longas penas de prisão durante a "Primavera Negra" de março de 2003. Ela foi libertada por motivos de saúde em 2004.
Até então, já havia cumprido quatro anos de prisão, após a apresentação, em 1997, com três outros opositores, de um documento intitulado "A Pátria pertence a todos".
Conhecida por sua dureza e intransigência, Marta é uma das raras vozes em Cuba a defender vigorosamente as sanções econômicas e financeiras impostas há mais de meio século a Cuba pelos Estados Unidos.
As autoridades cubanas, que consideram geralmente os militantes da oposição como mercenários a serviço dos Estados Unidos, não fizeram nenhuma declaração sobre a greve de fome da dissidente.
Em contrapartida, o blogueiro Yohandry, que comenta de maneira não oficial as posições das autoridades cubanas, afirmou na segunda-feira em seu blog que Marta Beatriz Roque queria apenas chamar atenção para reencontrar seu lugar, após ter sido colocada "no final da fila da lista de beneficiários de subsídios distribuídos pelos Estados Unidos para levar 'a democracia' a Cuba".