Velha raposa da política egípcia aposta em seu prestígio
Moussa é acompanhado por essa aura de "presidenciável", quase de candidato inevitável, o que reforçou seus altos níveis de auto-estima e lhe deu impulso nas pesquisas
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2012 às 20h54.
Cairo - Provavelmente ele não é o candidato mais carismático, nem quem melhor encarna os valores da revolução, mas Amr Moussa, uma velha raposa da política, conta com uma vantagem fundamental: todos os egípcios conhecem seu nome.
Em um país com um terço de analfabetos, Moussa (Cairo, 1936) acredita que o reconhecimento popular que ganhou à frente da Liga Árabe e como ministro de Relações Exteriores o ajudará a se tornar o primeiro presidente do Egito democrático.
Ao mesmo tempo, seu passado é um de seus pontos fracos, já que é visto por uma parte considerável da população como um "fulul", ou seja, um dos remanescentes do regime de Hosni Mubarak.
No entanto, Moussa é acompanhado por essa aura de "presidenciável", quase de candidato inevitável, o que reforçou seus altos níveis de auto-estima e lhe deu impulso nas pesquisas.
Apesar de seu porte de aristocrata, ninguém poderá dizer que o veterano diplomata não sujou seus sapatos.
Uma intensa campanha o levou aos povoados mais remotos do Egito rural, onde é difícil não se deparar com algum cartaz seu, o que delata a generosidade de seus doadores, entre os quais, dizem seus inimigos, estão algumas das maiores fortunas do país.
Moussa conta como aliados com todos os que temem um Egito islamita, além de um bom número de caciques locais que o ajudaram a estender sua rede de influência.
Além disso, utilizou seus melhores dotes de equilibrismo político para não irritar o Exército com suas declarações - costuma evitar as perguntas mais espinhosas sobre a atuação da Junta Militar - e para também não alienar com seu laicismo os piedosos egípcios.
Sua difusa ideologia mistura elementos de nacionalismo com veemência, liberalismo econômico e pragmatismo exterior, tudo isso regido por uma premissa: "O Egito precisa de seriedade", disse em recente entrevista à Agência Efe.
Em sua longa trajetória como diplomata, ele se envolveu em todos os tipos de negociações, o que representa uma de suas maiores virtudes, mas que ao mesmo tempo constitui, como reconheceu, um de seus pontos fracos, por ser considerado alguém capaz de pactuar com Deus e com o diabo.
Filho de um parlamentar egípcio, Moussa formou-se em Direito na Universidade do Cairo e depois completou seus estudos jurídicos em Paris. Antes de desembarcar na Liga Árabe, desenvolveu quase toda sua carreira no Ministério de Relações Exteriores egípcio, onde ingressou em 1958, e foi designado embaixador em União Soviética, Suíça, Índia e na ONU.
Em 1991, alcançou o auge da carreira diplomática com sua nomeação como ministro de Relações Exteriores, cargo que manteve durante uma década complicada. Foi naquela época que forjou uma reputação de linha dura frente a Israel, contrária ao suposto entreguismo de Mubarak, que se conectou com uma opinião pública profundamente antisionista.
Na ocasião, uma canção em sua homenagem invadiu as listas das mais vendidas no mundo árabe. "Odeio Israel e Amo Amr Moussa", de Shaban Abderrahim, ainda pode ser escutada em seus atos eleitorais.
No entanto, o próprio Moussa se encarregou de minguar as esperanças de uma brusca guinada na política em relação ao país vizinho.
"Temos grandes desacordos com Israel e uma grande parte de nosso povo o considera como inimigo, mas o presidente tem que tramitar essa realidade com sabedoria em vez de seguir palavras de ordem que podem levar a um choque para o qual talvez não estejamos preparados", ressaltou em um recente debate eleitoral.
Sua consagração como personalidade internacional chegou em 2001, após ser nomeado secretário-geral da Liga Árabe. À frente da organização, acusada em muitas ocasiões de inoperância, Moussa foi o rosto do mundo árabe perante a comunidade internacional no complexo cenário aberto após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Sua oposição às operações de Israel contra os palestinos e sua rejeição à Guerra do Iraque marcaram a década de sua liderança na Liga Árabe, que terminou quando, em maio de 2011, anunciou sua candidatura às eleições presidenciais.
Focado nos dois principais problemas que, segundo sua opinião, preocupam a cidadania egípcia, a segurança e a economia, Moussa se cercou de uma equipe de antigos assessores e jovens profissionais que o acompanham em seu ônibus de campanha, encarregados de fazer com que sua presença seja sentida também nas redes sociais.
Casado e com uma filha, Moussa, aos 75 anos, está diante da grande oportunidade de sua vida para dirigir o Egito pela via democrática e endireitar o rumo de um país que marcha a tropeções pela transição, após o final de mais de 50 anos de governo militar.
Cairo - Provavelmente ele não é o candidato mais carismático, nem quem melhor encarna os valores da revolução, mas Amr Moussa, uma velha raposa da política, conta com uma vantagem fundamental: todos os egípcios conhecem seu nome.
Em um país com um terço de analfabetos, Moussa (Cairo, 1936) acredita que o reconhecimento popular que ganhou à frente da Liga Árabe e como ministro de Relações Exteriores o ajudará a se tornar o primeiro presidente do Egito democrático.
Ao mesmo tempo, seu passado é um de seus pontos fracos, já que é visto por uma parte considerável da população como um "fulul", ou seja, um dos remanescentes do regime de Hosni Mubarak.
No entanto, Moussa é acompanhado por essa aura de "presidenciável", quase de candidato inevitável, o que reforçou seus altos níveis de auto-estima e lhe deu impulso nas pesquisas.
Apesar de seu porte de aristocrata, ninguém poderá dizer que o veterano diplomata não sujou seus sapatos.
Uma intensa campanha o levou aos povoados mais remotos do Egito rural, onde é difícil não se deparar com algum cartaz seu, o que delata a generosidade de seus doadores, entre os quais, dizem seus inimigos, estão algumas das maiores fortunas do país.
Moussa conta como aliados com todos os que temem um Egito islamita, além de um bom número de caciques locais que o ajudaram a estender sua rede de influência.
Além disso, utilizou seus melhores dotes de equilibrismo político para não irritar o Exército com suas declarações - costuma evitar as perguntas mais espinhosas sobre a atuação da Junta Militar - e para também não alienar com seu laicismo os piedosos egípcios.
Sua difusa ideologia mistura elementos de nacionalismo com veemência, liberalismo econômico e pragmatismo exterior, tudo isso regido por uma premissa: "O Egito precisa de seriedade", disse em recente entrevista à Agência Efe.
Em sua longa trajetória como diplomata, ele se envolveu em todos os tipos de negociações, o que representa uma de suas maiores virtudes, mas que ao mesmo tempo constitui, como reconheceu, um de seus pontos fracos, por ser considerado alguém capaz de pactuar com Deus e com o diabo.
Filho de um parlamentar egípcio, Moussa formou-se em Direito na Universidade do Cairo e depois completou seus estudos jurídicos em Paris. Antes de desembarcar na Liga Árabe, desenvolveu quase toda sua carreira no Ministério de Relações Exteriores egípcio, onde ingressou em 1958, e foi designado embaixador em União Soviética, Suíça, Índia e na ONU.
Em 1991, alcançou o auge da carreira diplomática com sua nomeação como ministro de Relações Exteriores, cargo que manteve durante uma década complicada. Foi naquela época que forjou uma reputação de linha dura frente a Israel, contrária ao suposto entreguismo de Mubarak, que se conectou com uma opinião pública profundamente antisionista.
Na ocasião, uma canção em sua homenagem invadiu as listas das mais vendidas no mundo árabe. "Odeio Israel e Amo Amr Moussa", de Shaban Abderrahim, ainda pode ser escutada em seus atos eleitorais.
No entanto, o próprio Moussa se encarregou de minguar as esperanças de uma brusca guinada na política em relação ao país vizinho.
"Temos grandes desacordos com Israel e uma grande parte de nosso povo o considera como inimigo, mas o presidente tem que tramitar essa realidade com sabedoria em vez de seguir palavras de ordem que podem levar a um choque para o qual talvez não estejamos preparados", ressaltou em um recente debate eleitoral.
Sua consagração como personalidade internacional chegou em 2001, após ser nomeado secretário-geral da Liga Árabe. À frente da organização, acusada em muitas ocasiões de inoperância, Moussa foi o rosto do mundo árabe perante a comunidade internacional no complexo cenário aberto após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Sua oposição às operações de Israel contra os palestinos e sua rejeição à Guerra do Iraque marcaram a década de sua liderança na Liga Árabe, que terminou quando, em maio de 2011, anunciou sua candidatura às eleições presidenciais.
Focado nos dois principais problemas que, segundo sua opinião, preocupam a cidadania egípcia, a segurança e a economia, Moussa se cercou de uma equipe de antigos assessores e jovens profissionais que o acompanham em seu ônibus de campanha, encarregados de fazer com que sua presença seja sentida também nas redes sociais.
Casado e com uma filha, Moussa, aos 75 anos, está diante da grande oportunidade de sua vida para dirigir o Egito pela via democrática e endireitar o rumo de um país que marcha a tropeções pela transição, após o final de mais de 50 anos de governo militar.