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EUA deixa Afeganistão e encerra sua mais longa guerra

O último avião americano deixou hoje o Afeganistão, dando fim a 20 anos de ocupação. Marcado por caos e um atentado, a retirada aérea acabou um dia antes da data estabelecida pelo governo Joe Biden

Militares: mais de 122.000 pessoas foram retiradas de Cabul desde 14 de agosto (AFP/AFP)
Drc

Da redação, com agências

Publicado em 30 de agosto de 2021 às 19h26.

Última atualização em 30 de agosto de 2021 às 20h57.

Os Estados Unidos encerraram a mais longa guerra de sua história. Os últimos oficiais americanos deixaram o Afeganistão nesta segunda-feira, 30, após dias de uma missão para retirar militares e civis do país.

Com a saída, a guerra iniciada após os atentados de 11 de setembro chega a seu fim após 20 anos.

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O principal diplomata dos EUA no Afeganistão, Ross Wilson, esteva no último voo americano, de um avião C-17, segundo disse em coletiva de imprensa o general Frank McKenzie, chefe do Comando Central americano.

O último avião deixou o solo em Cabul um minuto antes da meia-noite (horário local), segundo o Pentágono. Assim, a retirada aérea de emergência chega ao fim um dia antes do prazo de 31 de agosto estabelecido pelo presidente dos EUA, Joe Biden.

Segundo o governo americano, mais de 122.000 pessoas foram retiradas do Afeganistão pelo aeroporto em Cabul desde 14 de agosto, um dia antes de o Talibã tomar a capital. Apesar do controle do Talibã desde então, o aeroporto em Cabul continuou sob comando dos EUA.

Americanos que ficaram

McKenzie, no entanto, reconheceu que nem todos os americanos foram evacuados, alguns por não terem conseguido chegar ao aeroporto a tempo.

O número dos que ficaram chega a menos de 100, segundo o general, mas o fato deve gerar críticas adicionais ao governo Biden. Nenhum americano foi retirado nos últimos cinco voos dos EUA que deixaram Cabul.

Os americanos e outros países aliados vinham nas últimas duas semanas em um processo de evacuar cidadãos de seus próprios países, além de profissionais afegãos que trabalharam com potências ocidentais durante os 20 anos de ocupação e, assim, estavam sob risco diante do novo controle do Talibã.

As retiradas se tornaram ainda mais perigosas quando um ataque suicida reivindicado pelo Estado Islâmico -- considerado como um inimigo do Talibã -- matou ao menos 100 pessoas na última quinta-feira, incluindo 13 militares americanos.

Depois do ataque, os EUA atacaram alvos do Estado Islâmico que se dirigiam ao aeroporto e mataram no sábado, 28, ao menos dois membros do grupo, além de terem interceptado mísseis, segundo o Pentágono.

Além do risco de atentados, o aeroporto virou palco de cenas trágicas nas últimas semanas, com milhares de afegãos tentando deixar o país nos voos de países estrangeiros. Imagens logo após o Talibã controlar Cabul mostraram ao menos duas pessoas caindo ao tentarem se segurar a um avião que decolava.

História da guerra no Afeganistão

A guerra dos EUA no Afeganistão era frequentemente chamada de "guerra sem fim". Em 20 anos, estima-se que tenha custado mais de 1 trilhão de dólares aos cofres americanos.

Os EUA invadiram o Afeganistão após os atentados de 11 de setembro de 2001. O governo afegão, então controlado pelo Talibã, era acusado de esconder Osama Bin-Laden, da organização terrorista Al Qaeda, que se disse responsável pelos ataques em solo americano.

Os americanos e aliados do Ocidente, como uma série de países europeus, de fato derrubaram o Talibã, que governava o país desde 1996 (antes disso, o Afeganistão chegou a ser ocupado também pela antiga União Soviética ).

Mas em 20 anos de ocupação, as potências ocidentais não conseguiram garantir que as instituições de Estado criadas prosperassem no país, o que terminou culminando na rápida retomada do controle pelo Talibã.

Com o anúncio da retirada das tropas americanas nos últimos meses, o Talibã tomou as principais cidades afegãs em poucos dias e o governo afegão caiu quase sem resistência.

O que acontece agora

O fim oficial da presença americana gera incertezas sobre como será o novo governo do Talibã. O agora ex-presidente afegão, Ashraf Ghani, também fugiu do país após a queda de Cabul, e o Talibã ainda não definiu como se dará seu novo governo.

Há temores de um retrocesso em direitos civis e principalmente das mulheres no país. Quando governou nos anos 1990, sob uma interpretação fundamentalista do Islã, o governo do Talibã impedia mulheres de sair desacompanhadas e ir à escola.

Desta vez, o grupo afirma que autorizará que mulheres frequentem escolas, oferecerá anistia aos afegãos que cooperaram com os EUA e permitirá que cidadãos deixem o país em voos comerciais, mas não se sabe se as promessas serão cumpridas.

A ascensão do Talibã no Afeganistão pode também ampliar a instabilidade na Ásia e no Oriente Médio, além de abrir espaço ao avanço de outras organizações jihadistas e potenciais atentados.

Na outra ponta, países como Rússia e China (esta última, vizinha do Afeganistão) afirmaram que tentarão negociar com o Talibã por vias diplomáticas e evitar aumento da instabilidade na região.

Da última vez em que deteve o poder, o Talibã foi isolado diplomaticamente, e ainda não se sabe se o grupo tentará acordos e algum tipo de reconhecimento em órgãos internacionais desta vez, embora essa seja a aposta de alguns analistas.

Impacto nos EUA

A saída dos EUA neste ano se deu após um acordo de retirada de tropas feito com o Talibã pelo ex-presidenteDonald Trump, que acordou com o grupo que os americanos deixariam o país ainda em maio.

Ao assumir, Biden decidiu ir adiante com a retirada, apenas prorrogando o prazo para setembro e, depois, antecipando a saída para agosto, o que de fato aconteceu nesta segunda-feira.

Diante do caos gerado pela evacuação em Cabul, Trump criticou o governo Biden, enquanto o presidente americano culpa o acordo feito pelo antecessor que, segundo ele, teria enfraquecido a posição americana.

Após as cenas em Cabul, a aprovação de Biden caiu para o menor nível desde que tomou posse, em janeiro. Mas apesar das críticas à execução, a saída dos EUA do Afeganistão é popular entre ambos os espectros políticos americanos, devido aos altos custos do conflito e envio de jovens soldados ao exterior. Mais de 60% dos americanos chegaram a apoiar o fim da guerra.

Ao todo, mais de mais de 2.400 soldados americanos morreram durante a ocupação no Afeganistão, mas estimativas apontam que os custos maiores foram pagos pelos civis locais.

Estima-se que mais de 240.000 pessoas morreram no Afeganistão e no vizinho Paquistão devido à guerra, mais de 60.000 civis. Além disso, 30.000 veteranos de guerra americanos se suicidaram após os conflitos no Afeganistão e no Iraque (que também foi invadido após o 11 de setembro, em 2003).

(Com Reuters e AFP)

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