Guerra das Malvinas: mural em Caseros, Argentina, lembra o conflito (Gabriel Rossi/Getty Images)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 11h51.
Última atualização em 4 de dezembro de 2023 às 11h51.
A América do Sul não vê guerras na região há quatro décadas, o que faz com que o continente seja visto como um lugar de paz entre os países vizinhos. Apesar de a região ter um histórico de golpes de Estado e de guerrilhas internas, brigas armadas entre nações tem sido raras.
Este risco, no entanto, ganhou força nas últimas semanas. A Venezuela quer anexar mais da metade do território da Guiana. No domingo, 3, o governo de Nicolás Maduro realizou um plebiscito no qual 95% dos eleitores disseram apoiar a medida, segundo o governo.
O último conflito armado no continente foi em 1982, com a Guerra das Malvinas. Na época, o governo da Argentina decidiu retomar as ilhas Malvinas, sob controle do Reino Unido, que as chamam de Falklands. Os britânicos controlavam as ilhas desde 1833, quando expulsaram argentinos que viviam ali. Como elas ficam a 480 km da costa da Argentina, o país reivindicava soberania sobre elas desde então.
Em abril de 1982, o governo argentino, sob comando de uma ditadura militar, invadiu as ilhas, com mais de 10 mil soldados. No entanto, a resposta do Reino Unido foi dura, com o envio de aviões, submarinos e porta-aviões modernos, muito mais avançados do que a frota argentina, que não conseguiu manter o controle das ilhas. Os militares argentinos se renderam em junho, após cerca de dois meses de confronto.
Os britânicos capturaram mais de 11 mil argentinos durante a guerra, que foram soltos após o conflito. A Argentina teve 650 mortos no conflito, e o Reino Unido, 255. Após a derrota, o governo militar argentino perdeu credibilidade, e a ditadura terminou no ano seguinte, em 1983.
Já o último conflito oficial entre dois países do continente foi entre Equador e Peru, em 1941. Os dois países tinham disputas territoriais desde a independência, no século 19. Em julho de 1941, após atritos em zonas de fronteira, forças peruanas invadiram áreas sob controle do Equador e começaram uma série de batalhas. O Peru tentou bloquear o acesso ao porto de Guaiaquil, o principal do Equador.
Em janeiro de 1942, os dois países fizeram um acordo de cessar-fogo, em que o Peru desocupou uma provincia e o Equador desistiu do acesso a uma saída para o rio Amazonas. No entanto, os embates diplomáticos sobre as fronteiras seguiram até 1998, quando os dois países assinaram um acordo de paz em Brasília, concordando com uma divisão que havia sido desenhada em 1948.
O Peru também teve um conflito com a Colômbia, nos anos 1930. A disputa envolvia a região de Letícia, que fica na região amazônica e perto da fronteira com o Brasil.
Os dois países fizeram um acordo nos anos 1920, que previa que a cidade de Leticia, fundada por peruanos, se tornasse território da Colômbia, em troca de outras áreas em disputa. No entanto, em 1932, um grupo de cidadãos peruanos pegou em armas e retomou o controle de Leticia, expulsando tropas colombianas.
O governo peruano inicialmente buscou negociar a situação com a Colômbia, mas depois resolveu apoiar os peruanos que invadiram a cidade e alegou que a Colômbia não estava cumprindo termos do acordo.
Um conflito armado começou em setembro de 1932, e as batalhas se estenderam até abril de 1933. O conflito foi encerrado depois que o presidente peruano, Luis Cerro, foi assassinado por um militante. Seu sucessor, Óscar Benavides, fez uma negociação de paz com a Colômbia e entregou o controle de Letícia à Liga das Nações, antecessora da ONU.
Após meses de negociações, foi firmado o Protocolo do Rio de Janeiro, em 1934, que reconheceu o acordo Salomón-Lozano, de 1922, que segue vigente. Letícia ficou sob controle da Colômbia.
Foi o maior conflito na região no século 20: durou três anos e deixou 60 mil paraguaios e 30 mil bolivianos mortos. A disputa envolveu a região do Chaco, disputada por Bolívia e Paraguai. Em 1932, após uma suposta descoberta de petróleo na area, militares bolivianos invadiram uma área, sob controle do Paraguai, e começou um conflito armado.
No entanto, os dois países tinham poucos recursos. O Paraguai teve ajuda da Argentina para obter suprimentos, o que lhe deu vantagem. O país venceu a Bolívia, que se rendeu em 1935. Um acordo de paz, que deu 3/4 da área em disputa ao Paraguai, foi assinado em 1938. E, ao final, não foi encontrado petróleo na região.