Turquia abre a porta para intervenção militar contra Síria
A moção governamental aprovada pelo Parlamento dá permissão para enviar tropas "quando e como se considerar conveniente e com os meios que se estimem oportunos"
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2012 às 15h16.
Istambul - O governo da Turquia reagiu com contundência à morte de cinco pessoas atingidas por granadas de obuses disparadas de território sírio e conseguiu nesta quinta-feira no Parlamento a permissão para enviar tropas à Síria se persistem as agressões.
Apesar da tensão que se respira no país, que compartilha 900 quilômetros de fronteira com a Síria e que acolhe 90 mil refugiados da guerra civil no vizinho, o governo de Ancara apressou-se a esclarecer que esta autorização não representa uma declaração de guerra.
"Não é uma moção a favor da guerra. Aprovamos a medida caso necessitemos no futuro; tem uma função dissuasória. A Síria já pediu desculpas e isso está bem", explicou o vice-primeiro-ministro Besir Atalay ao canal "NTV".
A moção governamental aprovada pelo Parlamento dá permissão para enviar tropas "quando e como se considerar conveniente e com os meios que se estimem oportunos", sempre no prazo de um ano a contar a parti de hoje.
Esta permissão se justifica pelo que se consideram "ações agressivas, dirigidas também contra o território" turco, fruto das "operações militares das Forças Armadas da Síria desde o dia 20 de setembro".
Nos últimos dez dias de setembro ocorreram intensos combates entre as tropas regulares de Damasco e grupos armados rebeldes nos arredores de Tel Abyad, um posto fronteiriço perto do povoado turco de Akçakale, onde caíram as granadas na quarta-feira.
Na explosão, a terceira desse dia, morreu uma mãe e seus quatro filhos e outras 13 pessoas ficaram feridas.
Após o incidente, o Exército turco efetuou um bombardeio de represália na área de onde foi disparado o projétil, uma ação de castigo que voltou a repetir-se hoje.
A moção aprovada não menciona explicitamente que grupo foi responsável pelo disparo que caiu em solo turco, embora várias organizações sírias tenham assegurado que no bombardeio de represália morreram numerosos soldados das tropas governamentais.
No entanto, Atalay anunciou hoje que Damasco havia reconhecido sua responsabilidade, pedido desculpas e garantido que um incidente assim não voltaria a acontecer.
Atalay também ressaltou que a Turquia tomaria todas suas decisões em relação ao conflito sírio em coordenação com a comunidade internacional.
"A decisão que a Otan tomar será muito importante. As declarações de outros países e da ONU estão em primeira linha", assegurou o representante turco.
Ancara está há vários meses embarcada em rota de colisão com Damasco e definiu reiteradamente a crise síria como uma ameaça para sua segurança.
O número de refugiados sírios registrados em acampamentos do sul da Turquia já superou os 93 mil e, segundo o "NTV", outros milhares se amontoam hoje no lado turco da fronteira, esperando para atravessar nas próximas horas.
Até semana passada, a cúpula do Exército Sírio Livre, a organização que agrupa a maior parte dos rebeldes, também operava desde o acampamento de Apaydin na província turca de Hatay, embora recentemente tenha anunciado sua mudança para "território libertado" sírio.
As autoridades turcas criticaram duramente a política do presidente sírio, Bashar al Assad, cuja renúncia pediram em mais de uma ocasião, mas até ontem nunca tinham passado das palavras.
Ancara manteve um tom relativamente moderado inclusive quando vários refugiados sírios morreram em abril nos tiroteios que chegaram até o acampamento turco de Kilis, na fronteira com a Síria, e também quando, em junho, a defesa antiaérea síria derrubou um caça turco que sobrevoava a costa do país árabe matando seus dois pilotos tripulantes.