Trump dá 1º passo para construção do muro na fronteira com México
A construção do muro constitui uma das propostas mais polêmicas da campanha eleitoral de Trump
AFP
Publicado em 25 de janeiro de 2017 às 19h28.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , assinou nesta quarta-feira (25) um decreto sobre o reforço do controle migratório que contém a diretiva para iniciar a construção de um muro na fronteira com o México . Ele defendeu a decisão, afirmando que "uma nação sem fronteiras não é uma nação".
"O secretário de Segurança Interna, trabalhando em conjunto comigo e com a minha equipe, começará imediatamente a construção de um muro na fronteira. Precisamos muito", disse o presidente.
A construção do muro constitui uma das propostas mais polêmicas da campanha eleitoral de Trump, que insiste que de alguma forma o México terá que pagar pela obra.
O decreto assinado por Trump se refere, em geral, ao reforço do controle na fronteira e, segundo o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, inclui medidas para a criação de mais instalações de detenção de imigrantes na zona fronteiriça.
Também veta a libertação de imigrantes ilegais presos e mantém a prioridade de deportação para os que tiverem antecedentes criminais.
Spicer disse que a construção do muro "não é apenas uma promessa de campanha, mas um primeiro passo de sentido comum para assegurar nossa fronteira porosa".
Sem fundos para as "cidades santuários"
O presidente também assinou nesta quarta um segundo decreto que propõe o reforço da vigilância migratória no interior do país. De acordo com Spicer, o governo "eliminará recursos federais para as chamadas 'cidades santuários' e cidades que dão abrigo a imigrantes ilegais".
Tratam-se de cidades onde as autoridades se negam a prender e entregar para deportação imigrantes em situação irregular. Esses "santuários" chegam a 300 e estão espalhados por praticamente todo o país.
No início da manhã, durante declarações à emissora ABC, Trump havia dito que a construção do muro começará "logo que pudermos fazê-lo", possivelmente nos próximos meses, ainda que tenha acrescentando que "seguramente o planejamento começará de imediato".
Partes da fronteira já têm uma cerca e, inclusive, existem trechos com uma enorme barreira, mas Trump pretende cumprir sua promessa de campanha de fazer um "belo muro" em toda a extensão dos 3.200 quilômetros com o objetivo de frear a entrada de imigrantes ilegais.
Trump também disse à ABC que os Estados Unidos "receberão de volta o dinheiro (da construção do muro) em uma data posterior mediante qualquer transação que façamos com o México".
A assinatura desse decreto coincide com a presença do ministro mexicano das Relações Exteriores, Luis Videgaray, em Washington, para preparar uma visita do presidente Enrique Peña Nieto, prevista para o fim de janeiro.
O ministro mexicano de Economia, Ildefonso Guajardo, também se encontra em Washington, e, ao embarcar rumo aos Estados Unidos, disse à imprensa que "há claríssimas linhas vermelhas que devem ser pintadas desde o início".
Oposição mexicana pede cancelamento de reunião
Políticos de oposição no México pediram nesta quarta-feira ao presidente Enrique Peña Nieto que cancele sua visita a Washington - na próxima terça-feira (31) - diante da "ofensa" de seu homólogo Donald Trump de autorizar a construção de um muro ao longo da fronteira.
"É um ato que se manifesta com certa raiva", considerou o senador Armando Ríos Piter, do Partido da Revolução Democrática, em comunicado.
Apesar da "boa disposição" por parte do governo mexicano de "ter um diálogo para uma negociação integral com os Estados Unidos, me parece que neste momento não há condições pertinentes", acrescentou, ao pedir que Peña Nieto "cancele a reunião que tinha prevista".
Consultado pela AFP, o porta-voz de Peña Nieto não fez comentários.
O anúncio de Trump "é algo insultante" para Videgaray, Guajardo, para o presidente do México "e para todos os mexicanos", considerou Jorge Castañeda, chanceler do México durante o mandato do ex-presidente Vicente Fox (2000-2006).
Fraude, a nova polêmica
Trump começou nesta quarta-feira uma nova polêmica ao anunciar no Twitter que solicitará uma investigação sobre uma suposta fraude nas eleições presidenciais de novembro.
"Vou solicitar uma grande investigação sobre fraude eleitoral, incluindo as pessoas que estavam registradas para votar em dois estados, as que estão ilegais e, inclusive, as que estão mortas (algumas há muito tempo). Segundo os resultados, reforçaremos os procedimentos de votação", escreveu.
A polêmica começou na terça-feira (24), quando Spicer disse em coletiva de imprensa que Trump estava convencido de que até cinco milhões de pessoas teriam votado ilegalmente.
"Acho que o presidente acredita há um tempo (que houve fraude) baseando-se em pesquisas e informações que possui", declarou, acrescentando que Trump teve acesso a uma pesquisa que sugeria que 14% das pessoas que votaram "não eram cidadãos".
Em 8 de novembro passado, Trump obteve 2,9 milhões de votos a menos que sua adversária, a democrata Hillary Clinton, no voto popular. No entanto, foi vencedor nos estados mais importantes para o colégio eleitoral.
Um dos mais influentes dirigentes do Partido Republicano, o senador John McCain, não escondeu seu desconforto com a atitude do presidente: "Não vejo nenhum indício ou evidência de que tenha havido fraude eleitoral", afirmou nesta quarta.