Trégua russa começa em Aleppo, mas combates não cessam na cidade
Os confrontos aconteceram no bairro de Bustan al-Qasr, controlado pelos rebeldes, pouco depois do início da "pausa humanitária"
AFP
Publicado em 20 de outubro de 2016 às 10h32.
A trégua "humanitária" decretada por Moscou entrou em vigor nesta quinta-feira na cidade síria de Aleppo , mas, pouco depois, foram registrados combates em um dos oito corredores abertos para a passagem de civis e rebeldes.
Os confrontos aconteceram no bairro de Bustan al-Qasr, controlado pelos rebeldes, pouco depois do início da "pausa humanitária" às 8H00 locais (3h00 de Brasília).
Seis dos oito corredores humanitários instalados servem para a retirada de civis, doentes e feridos, enquanto os outros dois são utilizados para a saída dos rebeldes armados. Mas os civis também poderão utilizar estes dois últimos, de acordo com o exército russo.
A agência oficial Sana acusou os "grupos terroristas" pelos tiros. Um fotógrafo da AFP confirmou que escutou os ataques perto do corredor de Bustan al-Qasr, que liga a zona rebelde com uma área controlada pelo governo.
Com anúncios nos alto-falantes, o exército sírio pediu aos moradores dos bairros da zona leste que "aproveitem a oportunidade" para retirar os feridos e informou que a trégua vai durar três dias, sempre das 8H00 às 16H00.
Há dois dias o regime do presidente Bashar al-Assad e sua aliada Rússia suspenderam os bombardeios contra os bairros da zona leste de Aleppo, onde vivem 250.000 pessoas.
Moradores das áreas controladas por rebeldes manifestaram à AFP o desejo de deixar a região, ao mesmo tempo que não esconderam o ceticismo com o anúncio da trégua "humanitária".
"Preciso sair daqui porque as condições de vida estão muito deterioradas, falta comida e trabalho. Mas não serei o primeiro a passar por estes corredores, arriscando a minha vida e a da minha família", disse à AFP Mohamed Shayah, desempregado e pai de quatro filhos.
Moscou anunciou na quarta-feira que a trégua deveria durar 11 horas, ao invés das oito informadas inicialmente. À noite, o exército sírio ampliou para três dias. Após conversas em Berlim com a chanceler da Alemanha e o presidente da França, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que está disposto a prolongar "o máximo possível" a suspensão dos bombardeios.
Jens Laerke, porta-voz da OCHA, agência da ONU para a ajuda humanitária, afirmou na quarta-feira que as equipes responsáveis pelo envio de auxílio a Aleppo precisavam de uma interrupção dos combates por pelo menos 48 horas.
Há várias semanas, as potências ocidentais acusam Moscou de "crimes de guerra" por bombardeios extremamente violentos, iniciados em 22 de setembro, que mataram centenas de civis e destruíram boa parte da infraestrutura, sobretudo hospitais.
O regime sírio e sua aliada Rússia afirmam, no entanto, que atacam os bairros da zona leste de Aleppo para eliminar os "terroristas", principalmente os extremistas da Frente Fateh al Sham (ex-Frente al Nosra, braço sírio da Al-Qaeda).
Aleppo, que já foi a capital econômica da Síria, se transformou em um dos símbolos da guerra que está destruindo o país desde março de 2011. A cidade está dividida desde 2012 entre a zona oeste pró-governo e a zona leste controlada pelos rebeldes.
Localizados principalmente nas proximidades de escolas e mesquitas, os pontos de entrada dos corredores humanitários serão vigiados por drones, segundo o exército russo.
Ônibus e ambulâncias foram enviados para os corredores, ao norte e ao sul da cidade.
Funcionários da missão das Nações Unidas e voluntários do Crescente Vermelho da Síria devem ajudar na retirada de civis, com um acompanhamento ao longo de todo o trajeto a partir de Aleppo, indicaram os militares russos.
A operação deve ser transmitida em tempo real no portal do ministério russo da Defesa, graças às câmeras de vigilância instaladas nas proximidades dos corredores humanitários, segundo Moscou.
"Não temos nada a fazer com a iniciativa russa. Violaram todas as iniciativas anteriores, não confiamos neles", afirmou Yaser al Yusef, dirigente do grupo rebelde Noureddin al Zinki, que tem forte presença em Aleppo.
"Quem são eles para decidir deslocar o povo sírio que se rebelou contra o ditador Assad? Não renunciaremos ao nosso direito de defender nosso país ante a máquina de matar dos russos e do regime", completou.