Terremoto pode até acelerar economia japonesa, diz especialista
Embora o desastre paralise atividades produtivas no curto prazo, a reconstrução vai exigir estímulos fiscais e monetários que poderão impulsionar o PIB
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2011 às 12h20.
São Paulo – O maior terremoto já ocorrido no Japão em 140 anos de medições vai prejudicar a atividade de montadoras de veículos, fábricas de eletrônicos e refinarias no curto prazo. Porém, o esforço fiscal e monetário que será necessário para reconstruir as áreas atingidas poderá, no final das contas, representar uma expansão para a economia japonesa, na avaliação do economista especializado em Ásia Paulo Yokota.
“A reconstrução vai exigir um esforço muito grande. Será preciso flexibilizar o orçamento, embora o nível de endividamento público já esteja muito elevado”, diz Yokota.
O especialista explica que a dívida japonesa é bem diferente da europeia. “Não há dívida externa no Japão, pois a poupança da própria população financia os gastos públicos. O custo é muito baixo já que os bônus japoneses de longo prazo pagam menos de 0,5% ao ano. Na Europa, por exemplo, a rolagem das dívidas depende de dinheiro chinês, que pede juros maiores.”
Outra medida importante, que poderá ser tomada pelo Banco Central do Japão, é no mercado de crédito. “Será necessário flexibilizar o crédito para as empresas e as famílias, que são muito poupadoras”, afirma Paulo Yokota, que já foi diretor do Banco Central do Brasil. “Ainda é muito cedo para avaliar o real impacto na economia. Meu feeling (sentimento) é de que o efeito será mais positivo do que negativo.”
O economista lembra, no entanto, que a alta do preço do barril petróleo provocada pelos conflitos no mundo árabe e no Oriente Médio prejudica a economia japonesa, que importa todo o óleo que consome.
No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do Japão teve crescimento de 3,9%, totalizando 479,179 trilhões de ienes, ou US$ 5,474 trilhões, atrás dos US$ 5,879 trilhões da China no mesmo ano. Foi a maior expansão entre os países do G-7 (o grupo das setes maiores economias do mundo), após sofrer com a crise nos dois anos anteriores.
Do ponto de vista político, haverá um ganho para o governo japonês, na avaliação do especialista, que edita o site Ásia Comentada. “O prestígio do governo estava muito fraco. O terremoto vai aglutinar a população em torno da reconstrução.”
Paulo Yokota, que tem família no Japão e já fez mais de 100 viagens para a região, está impressionado com o “pequeno” impacto causado pelo terremoto de 8,8 graus. “Pelo tamanho do terremoto, era de se esperar que houvesse até milhões de mortos. O Japão é muito preparado para esses fenômenos. Não foi à toa que veio uma missão japonesa a São Paulo neste início de ano para oferecer assistência às autoridades na questão das enchentes.”