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Tensão no primeiro dia da Conferência de paz sobre a Síria

A conferência de paz de Genebra II, em Montreux, teve um começo difícil em uma atmosfera tensa

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2014 às 17h30.

O primeiro encontro entre autoridades do regime sírio e opositores no exílio para tentar quebrar o ciclo de violência na Síria foi marcado nesta quarta-feira por uma verdadeira guerra de palavras e pela impossibilidade de um acordo sobre o futuro do presidente Bashar al-Assad.

Em meio a acusações de "traição" entre governo e opositores, e um bate-boca entre o secretário-geral da ONU e o chefe da diplomacia síria, a conferência de paz de Genebra II, em Montreux, teve um começo difícil em uma atmosfera tensa.

"Nosso objetivo era enviar uma mensagem às duas delegações sírias e ao povo sírio para dizer que o mundo quer o fim imediato do conflito", declarou Ban Ki-moon em uma entrevista coletiva à imprensa depois do encontro. "Basta, é hora de negociar", acrescentou o secretário-geral das Nações Unidas.

Reunidos à margem do lago Léman, os representantes de 40 países e organizações internacionais não precisaram esperar muito para perceber o enorme fosso entre o regime de Assad e a oposição síria.

A Rússia e os Estados Unidos, que lideraram os esforços para organizar a conferência, pediram que o regime sírio e a oposição aproveitem a "oportunidade histórica" representada pela Conferência de Genebra II para acabar com três anos de guerra civil.

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, alertou que as negociações "não serão simples, nem rápidas".

Ele usou um tom mais brando do que o do americano John Kerry, que afirmou que "Bashar al-Assad não fará parte do governo de transição. De forma alguma, não é possível imaginar que o homem que liderou esta resposta brutal contra seu próprio povo possa recuperar a legitimidade para governar".

As negociações, sob mediação do emissário especial da ONU, devem começar sexta-feira em Genebra.


Em resposta, o ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Mouallem, disse: "Senhor Kerry, ninguém no mundo tem o direito de conceder ou retirar a legitimidade de um presidente, de uma Constituição ou de uma lei, exceto os próprios sírios".

O futuro de Assad, no centro de todos os debates desde o início da contestação em março de 2011, tem pairado sobre a conferência.

Russos e americanos e continuam a divergir quanto à interpretação dos princípios estabelecidos em junho de 2012 na Conferência de Genebra I. Os ocidentais exigem um governo de transição sem Assad, uma condição rejeitada pelos russos e sírios pró-regime.

Fazendo eco a John Kerry, o ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, insistiu que a conferência não tem a intenção de falar de "terrorismo", como deseja Damasco, mas de um "governo de transição"

Ele também denunciou as "elucubrações longas e agressivas" de Mouallem, que chamou os representantes da oposição de "traidores" e "agentes a mando dos inimigos" da Síria.

Entrando abruptamente na sala de imprensa onde trabalham centenas de jornalistas, o ministro da Informação sírio insistiu que no credo do regime. "Assad não vai sair", disse Omran al-Zohbi .

"Traidores e agentes a mando do inimigo"

O discurso de Walid Mouallem também provocou uma discussão com o secretário-geral da ONU.

O ministro sírio, assim como o líder da oposição, tinha dez minutos para falar. Mas depois de 20 minutos de discurso, Ban Ki-moon, decidiu interromper Mouallem, que ignorou os apelos para que concluísse sua fala.


"Você vive em Nova York e eu moro na Síria, tenho o direito de contar a versão síria aqui neste fórum", disse Mouallem ao chefe da ONU.

A observação não agradou o secretário, que lembrou ao chanceler sírio após 35 minutos de discurso, que a sua intervenção era contrária ao "clima construtivo" que se tenta criar na conferência.

A escolha desta "retórica inflamada" pelo regime sírio foi rapidamente denunciada pela porta-voz do Departamento de Estado americano, Jen Psaki.

Já o chefe da Coalizão de oposição síria, Ahmad Jarba, fez um apelo ao presidente sírio, Bashar al-Assad, para que entregue seu poder a um governo de transição.

"Peço (para a delegação do regime) que assine imediatamente o documento de Genebra I (que prevê) a transferência das prerrogativas de Assad, incluindo as do Exército e da segurança, a um governo de transição", afirmou Jarba.

Resumindo o estado de espírito de muitos participantes na conferência, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, considerou que ninguém deve esperar por um "milagre".

Ainda assim, a reunião de Montreux certamente deve ajudar a preparar a reunião de sexta-feira na ONU, em Genebra, envolvendo apenas as duas delegações sírias e o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi.

Este deve ser o início de um processo longo, de sete a dez dias de uma primeira etapa, de acordo com um membro da delegação russa, citado pela agência de notícias Interfax.

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O primeiro encontro entre autoridades do regime sírio e opositores no exílio para tentar quebrar o ciclo de violência na Síria foi marcado nesta quarta-feira por uma verdadeira guerra de palavras e pela impossibilidade de um acordo sobre o futuro do presidente Bashar al-Assad.

Em meio a acusações de "traição" entre governo e opositores, e um bate-boca entre o secretário-geral da ONU e o chefe da diplomacia síria, a conferência de paz de Genebra II, em Montreux, teve um começo difícil em uma atmosfera tensa.

"Nosso objetivo era enviar uma mensagem às duas delegações sírias e ao povo sírio para dizer que o mundo quer o fim imediato do conflito", declarou Ban Ki-moon em uma entrevista coletiva à imprensa depois do encontro. "Basta, é hora de negociar", acrescentou o secretário-geral das Nações Unidas.

Reunidos à margem do lago Léman, os representantes de 40 países e organizações internacionais não precisaram esperar muito para perceber o enorme fosso entre o regime de Assad e a oposição síria.

A Rússia e os Estados Unidos, que lideraram os esforços para organizar a conferência, pediram que o regime sírio e a oposição aproveitem a "oportunidade histórica" representada pela Conferência de Genebra II para acabar com três anos de guerra civil.

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, alertou que as negociações "não serão simples, nem rápidas".

Ele usou um tom mais brando do que o do americano John Kerry, que afirmou que "Bashar al-Assad não fará parte do governo de transição. De forma alguma, não é possível imaginar que o homem que liderou esta resposta brutal contra seu próprio povo possa recuperar a legitimidade para governar".

As negociações, sob mediação do emissário especial da ONU, devem começar sexta-feira em Genebra.


Em resposta, o ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Mouallem, disse: "Senhor Kerry, ninguém no mundo tem o direito de conceder ou retirar a legitimidade de um presidente, de uma Constituição ou de uma lei, exceto os próprios sírios".

O futuro de Assad, no centro de todos os debates desde o início da contestação em março de 2011, tem pairado sobre a conferência.

Russos e americanos e continuam a divergir quanto à interpretação dos princípios estabelecidos em junho de 2012 na Conferência de Genebra I. Os ocidentais exigem um governo de transição sem Assad, uma condição rejeitada pelos russos e sírios pró-regime.

Fazendo eco a John Kerry, o ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, insistiu que a conferência não tem a intenção de falar de "terrorismo", como deseja Damasco, mas de um "governo de transição"

Ele também denunciou as "elucubrações longas e agressivas" de Mouallem, que chamou os representantes da oposição de "traidores" e "agentes a mando dos inimigos" da Síria.

Entrando abruptamente na sala de imprensa onde trabalham centenas de jornalistas, o ministro da Informação sírio insistiu que no credo do regime. "Assad não vai sair", disse Omran al-Zohbi .

"Traidores e agentes a mando do inimigo"

O discurso de Walid Mouallem também provocou uma discussão com o secretário-geral da ONU.

O ministro sírio, assim como o líder da oposição, tinha dez minutos para falar. Mas depois de 20 minutos de discurso, Ban Ki-moon, decidiu interromper Mouallem, que ignorou os apelos para que concluísse sua fala.


"Você vive em Nova York e eu moro na Síria, tenho o direito de contar a versão síria aqui neste fórum", disse Mouallem ao chefe da ONU.

A observação não agradou o secretário, que lembrou ao chanceler sírio após 35 minutos de discurso, que a sua intervenção era contrária ao "clima construtivo" que se tenta criar na conferência.

A escolha desta "retórica inflamada" pelo regime sírio foi rapidamente denunciada pela porta-voz do Departamento de Estado americano, Jen Psaki.

Já o chefe da Coalizão de oposição síria, Ahmad Jarba, fez um apelo ao presidente sírio, Bashar al-Assad, para que entregue seu poder a um governo de transição.

"Peço (para a delegação do regime) que assine imediatamente o documento de Genebra I (que prevê) a transferência das prerrogativas de Assad, incluindo as do Exército e da segurança, a um governo de transição", afirmou Jarba.

Resumindo o estado de espírito de muitos participantes na conferência, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, considerou que ninguém deve esperar por um "milagre".

Ainda assim, a reunião de Montreux certamente deve ajudar a preparar a reunião de sexta-feira na ONU, em Genebra, envolvendo apenas as duas delegações sírias e o enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi.

Este deve ser o início de um processo longo, de sete a dez dias de uma primeira etapa, de acordo com um membro da delegação russa, citado pela agência de notícias Interfax.

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