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Salvar o euro e acalmar os alemães: desafios de Merkel para 2011

Após severo plano de austeridade, alemães não querem pagar pelas dívidas de países "esbanjadores"

Merkel terá de convencer alemães da responsabilidade do país na Zona do Euro (Andreas Rentz/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 2 de janeiro de 2011 às 14h38.

Frankfurt - A chanceler alemã, Angela Merkel, enfrentará em 2011 o duplo desafio de tentar encontrar uma saída para a crise na zona do euro, e acalmar os alemães, que resistem em pagar do próprio bolso o resgate dos vizinhos.

"A Europa se encontra, estes meses, em meio a uma prova crucial. Nós devemos reforçar o euro", que é "a base da nossa prosperidade", advertiu Merkel em sua mensagem de Ano Novo.

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Isto pode significar ter que vir novamente ao socorro de outros países europeus, embora não agrade aos alemães.

"Até o momento as pessoas não se deram conta do que poderiam custar os compromissos feitos pelos políticos: que certos Estados deverão garantir a dívida feita por outros", disse à AFP Thorsten Polleit, economista do Barclays Capital.

Fazer os alemães entenderem isto, depois de terem apertado o cinto, "será problemático, sem dúvida alguma", afirmou Eckhart Tuchtfeld, analista do Commerzbank.

Com sete eleições regionais chave à vista, a coalizão dos conservadores (CDU/CSU) e liberais (FDP) no poder "provavelmente agirá com precaução" em 2011, acrescentou.

Apesar de um crescimento econômico recorde em 2010 e do desemprego em baixa, a Alemanha impôs um plano de austeridade severo que incluiu cortes de gastos e aumentos das retenções sociais.

Neste contexto, será difícil para a chanceler explicar aos seus eleitores porque terão que pagar por outros países europeus, considerados esbanjadores. Ao mesmo tempo, os alemães têm claro que devem o dinamismo de sua economia aos sacrifícios que fizeram ao nível salarial e de impostos sobre as vendas.

Segundo consultas recentes feitas pela televisão pública, 88% dos alemães acreditam que é de seu interesse uma zona do euro estável, mas 62% rejeitam a ideia de resgatar outros países da região, como já aconteceu com a Grécia na primavera (boreal) ou, mais recentemente, com a Irlanda.

Ainda assim, a chanceler da primeira economia europeia - principal contribuinte dos fundos de resgate da região - terá que, possivelmente, explicar aos seus cidadãos que não terão outro remédio que ajudar a cobrir a dívida pública de Portugal e inclusive da Espanha.

"Nós, os alemães, assumimos nossas responsabilidades, mesmo quando, às vezes, são muito pesadas", disse Merkel na sexta-feira.

A chanceler "terá que convencer (a opinião pública) do papel particular da Alemanha na Europa e de sua responsabilidade no processo de integração", acrescentou Thorsten Polleit.

Isto é exatamente o que Merkel vem fazendo nas últimas semanas, assegurando perante o Parlamento alemão que Berlim não abandonará nenhum membro da UE ou recordando que a "Alemanha precisa da Europa e da nossa moeda única".

Até o momento, a chefe de governo alemão tinha jogado a carta da intransigência para responder à opinião pública do país, primeiro freando o resgate da Grécia e depois insistindo na participação de bancos privados nos futuros resgates de parceiros com problemas.

Mas o apego da Alemanha à estabilidade monetária pesa fortemente na balança e se inclina a favor do euro.

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