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Russos mais ricos vão ficar sem suas comidas preferidas

Moscovitas ricos terão que renunciar ao bife australiano e o sushi com salmão norueguês devido à proibição das importações promulgada por Putin

Consumidor escolhendo um salame italiano em um supermercado de Moscou, na Rússia (Andrey Rudakov/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2014 às 17h27.

Moscou - Se não têm pão, comam blini.

Os moscovitas ricos terão que renunciar a pratos favoritos, como o bife australiano e o sushi com salmão norueguês, e pagarão mais por substitutos devido à proibição das importações promulgada pelo presidente Vladimir Putin .

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Putin decretou que as importações de carne, peixes, verduras, queijos e laticínios dos EUA, da União Europeia, da Noruega, do Canadá e da Austrália sejam interrompidas, a partir de ontem, e pediu que fossem substituídos com produtos locais.

A interdição se aplica a países que impuseram sanções contra a Rússia por ter anexado a Crimeia.

“É uma situação extremamente difícil para o mercado de restaurantes, pois cerca de 50 por cento dos ingredientes são importados”, disse Elena Mazur, porta-voz da OAO Rosinter Restaurants Holding.

“A interdição aumentará os preços até que fornecedores alternativos sejam encontrados”.

A Rússia importou US$ 43 bilhões em alimentos e produtos agrícolas no ano passado, segundo estatísticas do governo. Os itens da lista de proibições representaram cerca de US$ 25 bilhões desse total, segundo a Capital Economics.

Alguns produtos difíceis de serem substituídos, como o presunto espanhol, o queijo Grana Padano da Itália e os tomates secos podem desaparecer dos cardápios ou escassear, segundo a Rosinter, a única operadora de restaurantes de capital aberto da Rússia, com 370 estabelecimentos.

Preços mais altos podem levar a uma maior queda no número de clientes e os restaurantes terão que empregar “a máxima criatividade” para se adaptarem, disse Mazur. Os consumidores comerão mais alimentos locais, como o blini, uma panqueca tradicional.

Carne de pior qualidade

“Agora seremos obrigados a comprar carne de pior qualidade a preços mais altos”, disse Zalina Abdusalamova, CEO da Kings Meat, com sede em Moscou, que fornece carne aos hotéis Marriott, Radisson e Novotel.

Os custos da carne já subiram 50 por cento neste ano, disse ela. “A Rússia não produz suficiente carne suína de qualidade. A Bielorrússia já está nos alimentando, mas é um país pequeno e não tem salsichas suficientes para toda a Rússia”.

A operadora das franquias da rede de pizzarias Papa John’s na Rússia, que possui 74 estabelecimentos, poderia congelar seus planos de expansão, pois a proibição das importações aumenta os custos, disse o CEO Chris Wynne em entrevista por telefone.

Ele disse que a companhia tem outras opções, como usar queijo mozarela da Argentina, que é 15 por cento mais caro.

“O objetivo de Putin com essas medidas é colocar pressão no dólar e tentar estimular os produtores domésticos, mas isso prejudicará às pessoas comuns nesse ínterim e não há garantia de que isso funcionará”, disse ele.

Se as histórias da era soviética na Rússia servirem de orientação, o mercado negro proliferou em épocas de bens escassos pelas vias oficiais – e a elite endinheirada sempre os conseguiu, e comeu e bebeu bem.

Apoio

O povo russo, no entanto, apoiou ou não deu importância para a proibição. “Uma interdição de alimentos não vai nos afetar”, disse Olga Safonova, 35, professora de Chelyabinsk. “Eu compro queijo russo e cultivo verduras no meu quintal”.

Para Natalia Pavlenko, 55, pensionista de Birobidjan, Oblast Autônomo Judaico, a resposta de Putin ao Ocidente é fraca demais. Ela defende interromper o fornecimento de gás natural a qualquer país na lista de Putin que o utilize.

“A interdição de alimentos não é suficiente”, disse ela.

Essa não é a opinião dos donos de restaurantes e churrascarias exclusivos, que dizem que serão os mais afetados pela interdição das importações, junto com os restaurantes italianos e espanhóis.

A proibição provavelmente vai provocar uma alta dos preços no curto prazo e poderia acrescentar 0,5 por cento à inflação neste ano e 1 por cento em 2015, disse Natalia Orlova, economista-chefe do Alfa Bank, em entrevista por telefone.

Espera-se que a inflação total seja de 7 por cento neste ano e de 8 por cento em 2015, disse ela.

Nem mesmo o risco da alta dos preços de alimentos parece ter probabilidades de prejudicar o apoio a Putin, que alcançou 87 por cento neste mês, ao passo que a atitude negativa dos russos em relação aos EUA subiu de 44 por cento em janeiro para 74 por cento em julho, segundo dados do Levada Center.

No entanto, isso não significa que algumas coisas não vão fazer falta. “Eu vou sofrer muito sem laticínios italianos”, disse Nelya Lazareva, uma moscovita de 45 anos.

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