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Rússia promete fazer proposta para resolver crise da Crimeia

Sergeuei Lavrov não deu detalhes sobre as propostas, mas parece descartar a criação de um grupo de contato, proposto por Angela Merkel e Barack Obama


	O russo Serguei Lavrov: Ucrânia considerou que Rússia deve apresentar provas concretas de que está pronta para aceitar propostas americanas para solucionar crise
 (Vasily Maximov/AFP)

O russo Serguei Lavrov: Ucrânia considerou que Rússia deve apresentar provas concretas de que está pronta para aceitar propostas americanas para solucionar crise (Vasily Maximov/AFP)

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2014 às 21h23.

Moscou lançou nesta segunda-feira sua contra-ofensiva diplomática sobre a Ucrânia, prometendo aos ocidentais propostas para resolver a crise nessa ex-república soviética, enquanto a Otan enviou aviões de reconhecimento para países vizinhos, a fim de supervisionar a situação.

Enquanto Kiev acusa a Rússia de agressão e pede aos Estados Unidos para interceder neste conflito sem precedentes desde o fim da Guerra Fria, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, anunciou que Moscou apresentará várias propostas aos países ocidentais para solucionar a crise na Ucrânia, dentro do Direito Internacional.

Lavrov não deu detalhes sobre as propostas, mas parece descartar a criação de um grupo de contato, proposto pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente americano, Barack Obama.

Nas propostas ocidentais, "tudo tem sido formulado no sentido de um suposto conflito entre a Rússia e a Ucrânia", disse o ministro russo, insistindo em que as novas autoridades ucranianas chegaram ao poder por meio de um "golpe de Estado".

Depois do anúncio de Moscou, a Ucrânia considerou que a Rússia deve apresentar "provas concretas" de que está pronta para aceitar propostas americanas para solucionar a crise.

O secretário de Estado americano, John Kerry, deu algumas sugestões a Lavrov. Os dois se encontraram três vezes na semana passada e também conversaram no sábado.

Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou contra uma "retórica provocativa" e se declarou altamente alarmado pelo desenvolvimento dos eventos na Crimeia.

A Rússia não reconhece a legitimidade dos novos líderes pró-ocidentais da Ucrânia, que chegaram ao poder após três meses de protestos que levaram à fuga do presidente Viktor Yanukovytch, e ao custo de uma centena de mortos em fevereiro.


Nesse contexto de tensão, o ministro ucraniano da Defesa, Igor Teniukh, declarou que, de acordo com as instruções do presidente interino Olexander Turchynov, as unidades em estado de alerta "haviam se somado aos terrenos militares para participar das manobras".

"As pessoas estão prontas para defender seu Estado", garantiu o ministro.

Já a Otan anunciou o envio de aviões-radares Awacs para missões de reconhecimento sobre Polônia e Romênia. Esses voos "vão reforçar a capacidade de vigilância da situação" pela Otan e "acontecerão unicamente sobre os territórios" de países pertencentes à Aliança Atlântica, segundo uma autoridade da organização.

"Os Awacs (Airborne Early Warning and Control Aircraft) voarão a partir de suas bases de Geilenkirchen (leste da Alemanha) e Waddington (norte da Inglaterra)", acrescentou a Aliança, informando que se trata de uma "decisão apropriada e responsável, em conformidade com a decisão da Otan de intensificar nossa avaliação das implicações da crise para nossa segurança".

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, havia declarado que a crise ucraniana representava "sérias ameaças à segurança e à estabilidade da zona euro-atlântica". Ele acusou a Rússia de "violar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, e de violar seus compromissos internacionais" ao enviar tropas à Crimeia.

Já os Estados Unidos, país mais poderoso da Otan, decidiram intensificar seus treinamentos aéreos conjuntos com a Polônia e aumentar sua participação na proteção do espaço aéreo dos países bálticos.

Na Crimeia, ocupada desde o final de fevereiro por forças russas, as autoridades separatistas defendem a anexação da península à Rússia, incentivados por Vladimir Putin, que ignora as advertências ocidentais.

Um referendo está sendo organizado para 16 de março e o primeiro-ministro da Crimeia, Serguii Axionov, anunciou nesta segunda a preparação para a entrada da península na zona do rublo. Ele foi imediatamente acusado por Kiev de tentar "desestabilizar" ainda mais a situação.

A transição para o rublo "resultaria em caos na Crimeia", reagiu o ministro ucraniano das Finanças, Olexandre Chlapak.


Reforço militar russo e da Otan

As forças russas consolidam dia após dia sua presença na Crimeia, o que torna cada vez mais difícil a possibilidade de as autoridades ucranianas recuperarem o controle da região. Homens armados cortaram a energia elétrica do Estado-Maior da Marinha ucraniana em Sebastopol, que está cercado há vários dias, de acordo com os militares ucranianos.

Em Bruxelas, a União Europeia expressou sua preocupação "com a ausência de sinais de desescalada".

"Parece que há sinais de um reforço militar da posição russa" na Crimeia e de "um isolamento crescente" da península, declarou Maja Kocijancic, a porta-voz da alta representante para Política Externa e Segurança da UE, Catherine Ashton.

Depois de pedir a Putin, no domingo, que reduza a tensão na Ucrânia, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, declarou que "a crise na Crimeia é um teste para a Europa" - em entrevista ao jornal alemão "Bild", na edição que chega às bancas nesta terça-feira.

"A crise na Crimeia é, certamente, um teste para a Europa. Sim, estamos do lado do povo ucraniano e de seu direito de decidir seu futuro. E, não, não aceitamos que a Rússia pise na soberania da Ucrânia e pisoteie nela. Estamos unidos, juntos, pelos direitos da Ucrânia! E vamos impor duras sanções, se Moscou não mudar de direção", advertiu o premier.

Hoje, os Estados Unidos pediram à Rússia que recue.

Washington quer "que a Rússia contenha seus avanços militares" e deseja "a parada de uma marcha na direção da anexação da Crimeia e dos atos de provocação", disse a porta-voz do Departamento de Estado americano, Jennifer Psaki.


Premiê ucraniano nos EUA

O premier ucraniano, Arseni Yatseniuk, deve se encontrar nesta quarta com o presidente Barack Obama, nos Estados Unidos, para discutir um meio de "parar a agressão russa", segundo a diplomacia ucraniana.

"A Casa Branca vai reafirmar seu forte apoio ao povo ucraniano", declarou nesta segunda o embaixador americano Geoffrey Pyatt.

O convite ao premier Yatseniuk é um reconhecimento do papel responsável desempenhado pelo governo de Kiev, assegurou a Casa Branca, indicando que a reunião entre os dois líderes "reforçará o fato de que os Estados Unidos acreditam que o governo ucraniano tem ocupado de forma responsável o vazio deixado pela repentina saída" de Yanukovytch.

Nesta terça, o ex-presidente Viktor Yanukovytch discursará em Rostov-on-Don, sul da Rússia, segundo uma fonte próxima da equipe do ex-chefe de Estado citada pelas agências de notícias russas. Refugiado no país vizinho desde que o Parlamento ucraniano o destituiu do cargo em 22 de fevereiro, o ex-presidente já deu uma entrevista coletiva em Rostov, no dia 28 do mês passado. Na entrevista, Yanukovytch se recusou a reconhecer seu afastamento como legítimo.

Ainda nesta segunda-feira, o Banco Mundial anunciou que está preparado para emprestar US$ 3 bilhões à Ucrânia este ano para ajudar o país a avançar nas reformas necessárias para seu desenvolvimento.

A instituição recebeu um pedido de ajuda do governo interino de Kiev, que assumiu o poder após a destituição de Yanukovytch.

"Estamos comprometidos com apoiar o povo da Ucrânia nesses tempos difíceis e esperamos que a situação no país se estabilize logo", disse o presidente do Bird, Jim Yong Kim.

Recentemente, o governo interino da Ucrânia pediu assistência financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI), avaliando o montante necessário em "pelo menos" US$ 15 bilhões.

Os Estados Unidos, o FMI e as potências europeias afirmam que, para receber ajuda econômica internacional, a Ucrânia deve se comprometer com reformas profundas, incluindo o aumento dos preços de energia, hoje largamente subsidiados.

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