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Rubens Barbosa: tem que esquecer a OMC

Mestre pela London School of Economics and Political Science, Rubens Barbosa é um dos mais experientes diplomatas brasileiros. Foi embaixador em Londres, entre 1994 e 1999, e em Washington, entre 1999 e 2004. Nos últimos anos, se dedica à consultoria de desenvolvimento de negócios e investimentos internacionais.  Este ano, fundou o Instituto de Relações Internacionais e […]

RUBENS BARBOSA: o foco inicial do Mercosul, de abrir mercados, se perdeu totalmente / Germano Lüders
DR

Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2016 às 19h12.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h41.

Mestre pela London School of Economics and Political Science, Rubens Barbosa é um dos mais experientes diplomatas brasileiros. Foi embaixador em Londres, entre 1994 e 1999, e em Washington, entre 1999 e 2004. Nos últimos anos, se dedica à consultoria de desenvolvimento de negócios e investimentos internacionais.  Este ano, fundou o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), para discutir os desafios e as oportunidades da política externa brasileira. Barbosa concedeu a seguinte entrevista a EXAME Hoje sobre as mudanças no Itamaraty com o governo Temer.

Como o senhor recebeu as mudanças recentes no Itamaraty?
Acho que é uma pagina nova que se abre para o Itamaraty. O discurso de posse do Serra foi muito bem recebido, sobretudo por tirar essa pressão político-partidária sobre a política externa e voltar o foco para o interesse comercial, de ter uma voz mais forte do Brasil no exterior. A minha percepção era de que ia ser muito bem recebida a nomeação do Serra, porque restabelece o prestígio, a força do Itamaraty dentro da administração pública brasileira.

A chegada de um ministro político é uma boa notícia?
Fui chefe de gabinete de um ministro político, o Olavo Setúbal. Acho que um ministro de fora da carreira tem muito mais peso político do que um diplomata de carreira. Isso que o Serra está tentando fazer de aumentar o orçamento do Itamaraty, levar a Apex e a Camex, só é possível num começo de governo com um ministro político. Por isso que está havendo uma reação positiva. Para o Itamaraty a ida do Serra foi muito importante porque dá respaldo político às mudanças.

A estratégia deve ser buscar acordos bilaterais?
Não adianta se voltar para a OMC, porque há uma crise do multilateralismo e a OMC não está negociando esses acordos. Eles estão negociados fora da OMC. Cabe ao governo brasileiro propor uma nova lista de acordos comerciais bilaterais dentro de um novo formato. O mundo mudou, a negociação comercial mudou. Nos últimos dez anos foram negociados mais de 400 acordos. No caso do Mercosul, assinamos três ou quatro acordos e só um foi ratificado, com Israel.

Como driblar o Mercosul, que impede que o Brasil negocie acordos bilaterais sem a aprovação de todo o bloco?
Essa resolução foi feita quando havia uma divergência muito grande entre os membros. Agora precisamos examinar isso, e acho que essa é a razão de o Serra estar indo à Argentina, porque mudou a posição argentina e a brasileira. Agora, se tiver resistência, a atitude do Brasil deve ser de avançar e os outros acompanharem. Mas é preciso ver se o Serra vai negociar com a Argentina para que o Mercosul seja modernizado. O foco do Mercosul originalmente foi a abertura de mercados e liberalização comercial. Isso se perdeu totalmente.

Alguns diplomatas e especialistas defendem uma atuação mais ousada na política externa. O senhor concorda?
O governo brasileiro nesses últimos treze anos ficou a reboque dos acontecimentos. Era reflexo, seguindo a política bolivariana, das afinidades ideológicas com a Cristina Kirchner, com o Maduro, com o Hugo Chávez. Agora, o Brasil tem que voltar a ter uma voz assertiva no exterior, com a defesa dos interesses brasileiros em todas as áreas. Para isso, precisa recuperar a economia, porque não adianta querer fazer política externa com a economia em recessão.

Os Estados Unidos têm que ser parceiros prioritários?
Temos que aprofundar mediadas de facilitação de comércio, de convergência regulatória, de harmonização regulatória com os Estados Unidos. Há muita coisa para fazer antes de se pensar em se fazer um acordo que nem os Estados Unidos nem nós hoje estamos preparados. Há muita coisa para fazer. Com a Apex no Itamaraty, pode-se fazer um programa agressivo de promoção comercial nos EUA para promover as exportações brasileiras e continuar esse processos de simplificação de comércio dos dois países e ampliar para outros setores as negociações que já estão em curso para convergência e coerência regulatória.

O comércio exterior passa por problemas internos também, como a baixa produtividade e o custo Brasil. Dá para fazer uma política externa comercial com esses entraves hoje?
As manufaturas brasileiras estão perdendo espaço no exterior, porque os produtos são muitos caros por causa dos impostos, das leis trabalhistas, do preço da energia, da burocracia, da precariedade da infraestrutura. As duas coisas têm que caminhar. Não pode só caminhar a negociação de acordos comerciais se não melhorar a competitividade dos produtos brasileiros.

(Luciano Pádua)

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Mestre pela London School of Economics and Political Science, Rubens Barbosa é um dos mais experientes diplomatas brasileiros. Foi embaixador em Londres, entre 1994 e 1999, e em Washington, entre 1999 e 2004. Nos últimos anos, se dedica à consultoria de desenvolvimento de negócios e investimentos internacionais.  Este ano, fundou o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), para discutir os desafios e as oportunidades da política externa brasileira. Barbosa concedeu a seguinte entrevista a EXAME Hoje sobre as mudanças no Itamaraty com o governo Temer.

Como o senhor recebeu as mudanças recentes no Itamaraty?
Acho que é uma pagina nova que se abre para o Itamaraty. O discurso de posse do Serra foi muito bem recebido, sobretudo por tirar essa pressão político-partidária sobre a política externa e voltar o foco para o interesse comercial, de ter uma voz mais forte do Brasil no exterior. A minha percepção era de que ia ser muito bem recebida a nomeação do Serra, porque restabelece o prestígio, a força do Itamaraty dentro da administração pública brasileira.

A chegada de um ministro político é uma boa notícia?
Fui chefe de gabinete de um ministro político, o Olavo Setúbal. Acho que um ministro de fora da carreira tem muito mais peso político do que um diplomata de carreira. Isso que o Serra está tentando fazer de aumentar o orçamento do Itamaraty, levar a Apex e a Camex, só é possível num começo de governo com um ministro político. Por isso que está havendo uma reação positiva. Para o Itamaraty a ida do Serra foi muito importante porque dá respaldo político às mudanças.

A estratégia deve ser buscar acordos bilaterais?
Não adianta se voltar para a OMC, porque há uma crise do multilateralismo e a OMC não está negociando esses acordos. Eles estão negociados fora da OMC. Cabe ao governo brasileiro propor uma nova lista de acordos comerciais bilaterais dentro de um novo formato. O mundo mudou, a negociação comercial mudou. Nos últimos dez anos foram negociados mais de 400 acordos. No caso do Mercosul, assinamos três ou quatro acordos e só um foi ratificado, com Israel.

Como driblar o Mercosul, que impede que o Brasil negocie acordos bilaterais sem a aprovação de todo o bloco?
Essa resolução foi feita quando havia uma divergência muito grande entre os membros. Agora precisamos examinar isso, e acho que essa é a razão de o Serra estar indo à Argentina, porque mudou a posição argentina e a brasileira. Agora, se tiver resistência, a atitude do Brasil deve ser de avançar e os outros acompanharem. Mas é preciso ver se o Serra vai negociar com a Argentina para que o Mercosul seja modernizado. O foco do Mercosul originalmente foi a abertura de mercados e liberalização comercial. Isso se perdeu totalmente.

Alguns diplomatas e especialistas defendem uma atuação mais ousada na política externa. O senhor concorda?
O governo brasileiro nesses últimos treze anos ficou a reboque dos acontecimentos. Era reflexo, seguindo a política bolivariana, das afinidades ideológicas com a Cristina Kirchner, com o Maduro, com o Hugo Chávez. Agora, o Brasil tem que voltar a ter uma voz assertiva no exterior, com a defesa dos interesses brasileiros em todas as áreas. Para isso, precisa recuperar a economia, porque não adianta querer fazer política externa com a economia em recessão.

Os Estados Unidos têm que ser parceiros prioritários?
Temos que aprofundar mediadas de facilitação de comércio, de convergência regulatória, de harmonização regulatória com os Estados Unidos. Há muita coisa para fazer antes de se pensar em se fazer um acordo que nem os Estados Unidos nem nós hoje estamos preparados. Há muita coisa para fazer. Com a Apex no Itamaraty, pode-se fazer um programa agressivo de promoção comercial nos EUA para promover as exportações brasileiras e continuar esse processos de simplificação de comércio dos dois países e ampliar para outros setores as negociações que já estão em curso para convergência e coerência regulatória.

O comércio exterior passa por problemas internos também, como a baixa produtividade e o custo Brasil. Dá para fazer uma política externa comercial com esses entraves hoje?
As manufaturas brasileiras estão perdendo espaço no exterior, porque os produtos são muitos caros por causa dos impostos, das leis trabalhistas, do preço da energia, da burocracia, da precariedade da infraestrutura. As duas coisas têm que caminhar. Não pode só caminhar a negociação de acordos comerciais se não melhorar a competitividade dos produtos brasileiros.

(Luciano Pádua)

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