Risco de golpe? O que Trump pretende ao trocar a chefia do Pentágono
Fonte ouvida pela CNN classificou movimento como "ditatorial". Não há evidências de que o Pentágono ou outro órgão oficial impediriam posse do governo Biden
Carolina Riveira
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 15h26.
Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 15h49.
O presidente americano, Donald Trump , anunciou nos últimos dias a troca de uma série de posições de liderança no Pentágono , principal órgão de defesa americano. O anúncio vem quatro dias após o presidente perder a reeleição para o democrata Joe Biden, que teve a vitória confirmada no sábado após vencer na Pensilvânia e em Nevada.
Trump acusa fraude na eleição e ainda não reconheceu a derrota, posição na qual é apoiado por parte dos aliados do Partido Republicano.
Desde que o presidente perdeu a reeleição, quatro nomes já foram trocados no Pentágono, incluindo o secretário de Defesa Mark Esper, demitido na segunda-feira.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, também gerou críticas ao dizer publicamente ontem que haverá uma "transição" de governo neste fim de ano rumo a novo mandato de Trump, e não do presidente eleito Joe Biden.
"Haverá uma transição suave para um segundo mandato de Trump. Estamos prontos. O mundo está assistindo ao que está acontecendo", disse, afirmando que a posição está em acordo com a Constituição porque recontagens de votos deixarão claro que Trump venceu, segundo ele.
Das trocas no Pentágono, James Anderson, subsecretário, também pediu demissão ontem após, segundo a imprensa americana, se desentender com a gestão com o governo por tentativas de Trump de colocar aliados republicanos em posições estratégicas.
Os substitutos anunciados até agora são considerados aliados fiéis de Trump. O mais conhecido deles, o general Anthony Tata (que será substituto de Anderson), é convidado frequente da rede de TV Fox News e ficou conhecido no passado por publicar tuítes chamando o ex-presidente Barack Obama de "líder terrorista".
Uma fonte oficial ouvida pela rede de televisão americana CNN classificou as trocas de Trump como "movimentos ditatoriais".
A única chance de Trump reverter o resultado da eleição é com uma recontagem em estados que Biden já venceu. Autoridades da Geórgia, onde Biden lidera e a apuração ainda não acabou, ordenaram hoje que seja feita uma recontagem no estado devido à pequena diferença entre os candidatos. O resultado não interfere na vitória de Biden, que tem votos suficientes em outros lugares.
Os próximos dois meses até a posse, marcada para 20 de janeiro, devem ser de embates intensos. Nesta semana, órgãos do governo Trump negaram a Biden acesso a documentos e milhões de dólares em recursos financeiros, que são historicamente concedidos ao presidente eleito para começar seu processo de transição.
Na prática, o presidente está no comando até a posse do substituto e tem direito de fazer as trocas no Pentágono; é comum que presidentes em fim de mandato façam algumas últimas mudanças, podendo elas permanecerem ou não na gestão do próximo mandatário. Uma suposição de que o Pentágono "ajudaria" Trump a não transferir o poder também não encontra, por ora, nenhum fundamento claro. Não fossem as acusações de fraude, possivelmente as trocas passariam mais despercebidas.
Em junho, Biden, então apenas pré-candidato democrata, disse em entrevista à imprensa americana que estava "absolutamente convencido" de que as Forças Armadas americanas tirariam Trump da Casa Branca caso o presidente se recusasse a transferir o poder.
Tem sido crescente o número de políticos e autoridades do Partido Republicano fazendo coro às acusações contra a eleição. Trump tem usado o Twitter desde a eleição para afirmar que houve fraude e que entrou com ações contra o resultado em diversos estados. "Nós venceremos", escreveu ontem.
Até esta quarta-feira, menos de dez senadores tinham reconhecido a vitória de Biden. Alguns nomes desse grupo, como o ex-pré-candidato à Presidência, senador Marco Rubio, da Flórida, reconheceram a vitória mas seguiram afirmando que Trump está em seu direito de questionar o resultado.
Na outra ponta, reconheceram a vitória de Biden nomes como o ex-candidato republicano na eleição presidencial contra Barack Obama em 2012, senador Mitt Romney, o ex-presidente George W. Bush e seu irmão, o ex-governador da Flórida Jeb Bush.