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Relator da ONU critica declarações de Trump a favor da tortura

Emmerson entregou hoje seu último relatório como relator especial e disse que o novo presidente americano está "mal preparado para governar"

Trump: "Escutar o presidente Trump, pouco após assumir o poder, elogiar as virtudes da tortura como arma para lutar contra o terrorismo me gelou o sangue" (Jim Lo Scalzo/Pool/Reuters)
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EFE

Publicado em 3 de março de 2017 às 16h19.

Genebra - O relator especial de ONU para os direitos humanos e a luta contra o terrorismo, Ben Emmerson, criticou nesta sexta-feira as declarações de Donald Trump a favor da tortura, e pediu que os responsáveis do programa de torturas da CIA durante o governo de George W. Bush sejam levados à justiça.

Emmerson entregou hoje seu último relatório como relator especial, cargo que exerce desde 2011, e disse em entrevista coletiva que o novo presidente americano está "mal preparado para governar".

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"Escutar o presidente Trump, pouco após assumir o poder, elogiar as virtudes da tortura como arma para lutar contra o terrorismo me gelou o sangue", reconheceu o relator especial em seu discurso perante a 34ª sessão do Conselho de Direitos Humanos.

Emmerson teme que a posição do chefe de Estado americano possa representar "um precedente" para outros países.

Trump esclareceu que, embora ele defenda o uso da tortura nos interrogatórios aos suspeitos de terrorismo, deixará que seu secretário de Defesa, que se opõe a essa tática, tome a decisão sobre se é preciso usá-la ou não.

Além disso, Emmerson acusou Trump de alimentar o ressentimento que aumenta o risco de terrorismo e de facilitar os argumentos que o grupo jihadista Estado Islâmico usa para recrutar novos membros nos países do ocidente.

"Se uma das nações mais poderosas do mundo, um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, está preparada outra vez para abandonar os valores coletivos sob o pretexto de defendê-los, me pergunto se algo foi conquistado nos últimos 15 anos", declarou.

O analista da ONU questionou se será possível conseguir algum tipo de progresso na luta antiterrorista no contexto atual, no qual o presidente dos EUA está disposto a repetir por razões "populistas" e de "patriotismo exaltado" o que foi o "maior ato ilegal" perpetrado pela administração Bush.

Emmerson se referiu ao programa secreto de prisões, de detenção e de rendição executado pela CIA na era de George W. Bush, sob a qual a tortura foi aplicada nos interrogatórios de suspeitos de terrorismo.

O relator voltou a exigir "a prestação de contas de funcionários implicados em violações graves e sistemáticas dos direitos humanos no decorrer de operações antiterroristas".

"Reitero minha consternação perante o fracasso de Estados relevantes, e especificamente dos EUA, na hora de tomar medidas efetivas para levar à justiça os responsáveis das detenções secretas e do programa de torturas" da CIA, disse o analista.

Emmerson lamentou que, embora as identidades dos responsáveis "sejam conhecidas" e as provas para condená-los estejam disponíveis, "nenhum deles teve que responder a um juiz pelo que fez".

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