Raqqa, a "ex-capital" dos extremistas do Estado Islâmico na Síria
A primeira grande cidade a cair nas mãos do grupo extremista teve, nesta terça-feira, sua libertação anunciada pelas Forças Democráticas Sírias
AFP
Publicado em 17 de outubro de 2017 às 11h35.
Última atualização em 17 de outubro de 2017 às 11h52.
Raqa, localidade milenar no norte da Síria , foi a primeira grande cidade do país a cair nas mãos dos extremistas do grupo Estado Islâmico ( EI ). Posteriormente, converteu-se em sua "capital".
Depois de entrar na cidade no início de junho, as Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança de combatentes árabes e curdos apoiada por forças especiais americanas, anunciaram nesta terça-feira o controle "total", após vários meses de combates.
Ex-capital abássida
Raqa viveu o seu apogeu durante o Califado dos Abássidas. Em 772 d.C., o califa Al-Mansur ordenou a construção, seguindo o modelo de Bagdá, de uma cidade-guarnição, Al-Rafiqa, junto à antiga Raqa. Mais tarde as duas localidades se uniram.
De 796 a 809, o poderoso califa Harun al-Rashid decidiu transferir a capital dos abássidas, que era Bagdá, para Raqa, no cruzamento das estradas entre Bizâncio, Damasco e Mesopotâmia. Lançou grandes obras e dotou a cidade de palácios, mansões e mesquitas.
Em 1258, a cidade foi devastada pela invasão dos mongóis.
Às margens do Eufrates
Raqa, de maioria sunita, está estrategicamente situada no Vale do Eufrates: perto da fronteira com a Turquia, a 160 km de Aleppo e a menos de 200 km da fronteira iraquiana.
A construção de uma represa perto da cidade de Tabqa, mais a oeste, permitiu que Raqa desempenhasse um papel importante na economia graças à agricultura.
Nas mãos dos rebeldes
Raqa se tornou em março de 2013 a primeira capital provincial síria a cair nas mãos de grupos rebeldes opostos ao governo de Bashar al-Assad.
Os insurgentes capturaram seu governador e se apoderaram da sede da Inteligência militar, um dos piores centros de detenção na província, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Reduto do EI
No início de 2014, a organização que em junho daquele ano passou a se chamar grupo Estado Islâmico, expulsou os rebeldes da cidade e tomou o seu controle.
Em junho de 2014, o EI proclamou um "califado" nos territórios conquistados entre Síria e Iraque. Em agosto daquele ano, o EI controlou completamente a província de Raqa.
Rapidamente, o grupo extremista sunita impôs sua lei mediante o terror.
A partir de junho de 2015 começou a perder cidades na província - Tal Abyad e Ain Isa - para combatentes curdos.
Execuções e sequestros
O EI multiplicou as atrocidades: decapitações, execuções em massa, estupros, sequestros e limpeza étnica. O grupo apedrejou mulheres suspeitas de adultério e infligiu mortes violentas aos homossexuais.
Algumas de suas ações foram gravadas em vídeos convertidos em armas de propaganda.
Batalha de Raqa
Raqa foi nos últimos dois anos um alvo constante dos ataques aéreos do governo sírio, da Rússia e da coalizão internacional antiextremista liderada pelos Estados Unidos.
Em 5 de novembro de 2016, as Forças Democráticas Sírias (FDS, formadas por combatentes curdos e árabes) lançam uma grande ofensiva chamada "Fúria do Eufrates" para reconquistar Raqa.
As FDS contaram com o apoio aéreo da coalizão internacional, e terrestre de conselheiros militares americanos.
Em 10 de maio de 2017, as FDS conquistaram a cidade de Tabqa e sua represa, posição-chave a 50 km a oeste de Raqa.
Em 6 de junho, entraram em Raqa.
Em 1º de setembro, a aliança, que já expulsou os extremistas de mais de 60% da localidade, se apodera da Cidade Velha.
Em 20 de setembro, o OSDH informa que as FDS controlam 90% da cidade. A batalha "chega ao fim", afirma a aliança.
Um dia depois, a ONG anuncia que o EI controla poucos redutos.
Em 17 de outubro, as FDS anunciam a libertação da cidade, após a conquista das últimas posições jihadistas.