Quadrilha rouba US$45 mi de bancos do Oriente Médio
Criminosos teriam invadido empresas de processamento de cartões de crédito e sacado dinheiro de caixas eletrônicos em 27 países
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2013 às 11h05.
Em um dos maiores ataques a bancos já registrados, uma quadrilha roubou 45 milhões de dólares de dois bancos do Oriente Médio ao invadir empresas de processamento de cartões de crédito e sacar dinheiro de caixas eletrônicos em 27 países, informaram promotores dos Estados Unidos, na quinta-feira.
O Departamento de Justiça dos EUA acusou oito homens de supostamente formar a célula da organização em Nova York, e disse que sete deles foram presos. O oitavo, supostamente líder da célula, havia sido assassinado na República Dominicana, em 27 de abril, segundo informações.
Autoridades acreditam que os líderes da quadrilha estejam fora dos Estados Unidos, mas os promotores não quiseram dar detalhes, alegando que a investigação estava em curso. O que está claro é o enorme alcance e velocidade dos crimes: em um dos ataques, em pouco mais de 10 horas, 40 milhões de dólares foram sacados de caixas eletrônicos em 24 países, envolvendo 36 mil transações.
"No lugar de armas e máscaras, esta organização de crimes cibernéticos usou laptops e a Internet", afirmou a promotora dos EUA para o Distrito Leste de Nova York, Loretta Lynch, em uma coletiva de imprensa.
A promotoria destacou a "precisão cirúrgica" da quadrilha, a natureza global da sua organização, e a velocidade e coordenação com os quais executaram operações em 27 países.
Segundo a denúncia, a quadrilha invadiu os computadores de duas empresas processadoras de cartões de crédito, uma na Índia, em dezembro de 2012, e outra nos Estados Unidos, em fevereiro deste ano. As empresas não foram identificadas.
O grupo elevou o saldo disponível e limites de retirada de cartões de débito pré-pagos MasterCard emitidos pelo Bank of Muscat, de Omã, e pelo Banco Nacional de Ras Al Khaimah PSC (RAKBANK), dos Emirados Árabes Unidos, de acordo com a acusação.
A partir daí, a quadrilha distribuiu cartões de débito falsificados para "sacadores" ao redor do mundo, o que permitiu ao grupo retirar milhões de dólares de caixas eletrônicos em questão de horas.
Quarenta mil saques
Em Nova York, por exemplo, membros da célula da quadrilha se espalharam pela cidade na tarde de 19 de fevereiro, armados com cartões de uma única conta do Bank of Muscat. Dez horas depois, o grupo completou 2.904 saques, levantando 2,4 milhões de dólares no total. A última retirada ocorreu por volta das 1h26 da manhã, afirmaram os promotores.
Enquanto isso, equipes de "sacadores" em outros países estavam ocupadas fazendo o mesmo, retirando cerca de 40 milhões de dólares do Bank of Muscat, além dos 5 milhões que já tinham roubado do RAKBANK em dezembro, segundo a acusação. No total, o grupo fez cerca de 40.500 saques em caixas eletrônicos em 27 países durante os dois ataques.
Promotores afirmaram que o método de ação empregado pelo grupo é conhecido como "Operações sem Limite".
Representantes dos dois bancos não puderam ser contatados para comentar o assunto fora do horário de expediente.
Em comunicado, a Mastercard disse que tinha cooperado com a polícia na investigação, e salientou que os seus sistemas não estavam envolvidos ou comprometidos nos ataques.
No final de fevereiro, o Bank Muscat revelou que assumiria um encargo de até 15 milhões de rials (39 milhões de dólares) porque havia sofrido uma fraude internacional promovida com 12 cartões de débito pré-pagos usados em viagens. A despesa foi igual a mais que a metade dos 25 milhões de rials em lucro que a instituição registrou no primeiro trimestre deste ano.
Autoridades afirmam que a operação provavelmente exigiu o trabalho de centenas de pessoas e que várias delas tinham alto nível de conhecimento técnico para invadir os sistemas financeiros das instituições.
O grupo pode ter atingido os bancos do Oriente Médio porque tendem a permitir que os clientes coloquem somas muito maiores em cartões de débito e a não monitorá-los mais de perto como ocorre com bancos de outras regiões, disse Shane Shook, vice-presidente global da consultoria de segurança Cylance.
Os sete detidos nos EUA são: Jael Mejia Collado, Joan Luis Minier Lara, Evan Jose Peña, Jose Familia Reyes, Elvis Rafael Rodriguez, Emir Yasser Yeje e Chung Yu-Holguin (conhecido como "Chino El Abusador").
Todos, com exceção de Rodriguez, declararam inocência. O advogado de Rodriguez não estava disponível para comentar o assunto. Apenas Peña foi liberado após pagamento de fiança. O acusado que foi considerado morto é Alberto Yusi Lajud-Peña, também conhecido como "Prime" e "Albertico." Lynch, da promotoria de Nova York, disse que não ficou claro se a morte dele tem relação com o caso.