Protestos contra aumento da gasolina no Irã deixam um policial morto
O tenente foi atingido no sábado por um tiro durante um confronto na cidade de Kermanshah, oeste do país
AFP
Publicado em 17 de novembro de 2019 às 10h57.
Um policial morreu e dezenas de pessoas foram detidas no Irã durante manifestações contra o aumento do preço da gasolina, medida que recebeu o apoio neste domingo do guia supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
O tenente Iraj Javaheri faleceu neste domingo. Ele foi atingido no sábado por um tiro durante um confronto na cidade de Kermanshah, oeste do país.
Desde sexta-feira várias cidades do Irã registram protestos contra o anúncio de um aumento de pelo menos 50% do preço do combustível. Quarenta pessoas foram detidas em Yazd, no centro do país.
Os distúrbios deixaram outro morto e vários feridos na cidade de Sirjan, também na região central do país.
"Ontem à noite e na anterior aconteceram problemas em várias cidades do país, alguns perderam a vida e as infraestruturas foram danificadas", declarou o aiatolá Khamenei, sem revelar detalhes sobre o número de vítimas.
"Não sou um especialista e há opiniões diferentes, mas eu disse que se os líderes dos três poderes tomam uma decisão, eu apoiarei", declarou, de acordo com a televisão estatal.
O aumento do preço da gasolina foi decidido na sexta-feira pelo Alto Conselho de Coordenação Econômica, formado pelo presidente do país, o presidente do Parlamento e o diretor da Autoridade Judicial.
Após o discurso do guia supremo, o Parlamento retirou uma moção que defendia um recuo no aumento, de acordo com a agência.
"Algumas pessoas estão contrariadas por esta decisão (...) mas danificar e atear fogo não é algo de uma pessoa normal", completou Khamenei.
Em várias cidades, os motoristas bloquearam estradas e alguns manifestantes atacaram infraestruturas públicas e postos de gasolina.
O preço da gasolina deve aumentar 50% para os primeiros 60 litros comprados a cada mês e 300% para os litros adicionais.
O guia supremo afirmou que há dois dias algumas entidades contrárias ao governo "comemoram" a situação do país.
Ele fez referência à dinastia Pahlevi, expulsa do poder em 1979 pela Revolução Islâmica, e também ao grupo de oposição iraniano Mujahedines do Povo (MEK), que Teerã considera uma organização "terrorista".
"Peço que ninguém ajude estes criminosos", afirmou o aiatolá Khamenei.
O ministério da Inteligência anunciou ter identificado os principais elementos por trás dos distúrbios dos últimos dias, de acordo com a agência Isna.
Os detidos em Yazd são "perturbadores" acusados de vandalismo que em sua maioria não são da cidade, afirmou o promotor da província homônima, Mohammad Hadadzadeh, citado pela agência.
As autoridades reduziram drasticamente o acesso à internet desde o início das manifestações, informou a Isna.
O Irã enfrenta uma crise econômica agravada pela retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018 do acordo sobre o programa nuclear iraniano, que provocou o retorno das sanções contra o país.
A moeda local, o rial, registrou forte desvalorização, a inflação supera 40% e o FMI prevê para este ano uma queda de 9,5% do PIB iraniano.