Nicolás Maduro: presidente disse ter sofrido ataque com drones carregados com explosivo (Miraflores Palace/Handout/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de agosto de 2018 às 19h12.
A Procuradoria venezuelana informou nesta segunda-feira (6) que vai agir para "extirpar" as conspirações contra Nicolás Maduro, após o atentado que o presidente disse ter sofrido com drones carregados com explosivos.
O procurador-geral, Tarek William Saab, qualificou de "tentativa de magnicídio" a explosão de um drone carregado com explosivo C4 em frente ao palanque onde Maduro acompanhava uma parada militar, no sábado, em Caracas.
A Procuradoria "vai perseguir, no âmbito da lei, quem conspirar contra a paz cidadã", disse Saab, de orientação governista e que acompanhava Maduro no palanque.
Após repassar o frustrado golpe de Estado de 2002 contra o falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013) e a violência desatada durante protestos da oposição contra Maduro nos últimos anos, o procurador sustentou que chegou a hora de acabar com as conspirações.
"Que este fato sirva para extirpar de uma vez por todas qualquer tentativa violenta de atentar contra a paz", advertiu.
Maduro tem previsto reaparecer em público nesta segunda-feira para receber uma marcha de simpatizantes no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas.
"Viemos apoiar o presidente depois do ato terrorista que sofreu. Para além do descontentamento, essa não é a forma de agir", disse à AFP Francisca Harvey, de 53 anos, vestindo camiseta vermelha com estampa de Chávez.
O procurador confirmou que dois homens foram detidos em flagrante, enquanto operavam de um carro um segundo drone que colidiu contra um prédio.
Ele não os identificou, como havia prometido, e tampouco se referiu às outras quatro capturas anunciadas pelo governo. Nos incidentes, ocorridos durante o aniversário da Guarda Nacional, sete militares ficaram feridos.
Diante dos fatos, o secretário-geral da ONU, António Guterres, "está preocupado" e "rejeita qualquer ato de violência", declarou nesta segunda um porta-voz da organização.
O presidente assegurou no sábado que por trás do ataque estaria seu contraparte colombiano, Juan Manuel Santos, que passará o poder na terça-feira ao direitista Iván Duque.
Durante um evento em Bogotá, Santos afirmou que de todas as loucas acusações feitas a ele, a de Maduro foi a mais estranha.
"Ontem descubro que há outra ainda mais insólita: que estou associado à Inteligência americana, à direita venezuelana, armando complôs para assassinar o presidente da Venezuela. Por Deus!", exclamou Santos, durante um fórum na capital colombiana.
O presidente, que nos últimos dias declarou à AFP que via "próxima" a queda de Maduro por conta da severa crise econômica que a Venezuela atravessa, já tinha reagido à acusação do colega em um tuíte, afirmando que no fim de semana estava ocupado com assuntos "mais importantes" do que os relacionados com o líder venezuelano.
"Não se preocupe. No sábado estava ocupado com coisas mais importantes, batizando a minha neta", respondeu Santos a Maduro em um tuíte postado nesta segunda, véspera da transferência do cargo.
Um relatório da Polícia venezuelana, ao qual a AFP teve acesso, identifica um dos detidos como César Saavedra, que foi preso perto do edifício onde explodiu o segundo artefato.
"Foram identificados todos os autores materiais do ato e seus colaboradores", declarou o procurador. O governo sustenta que os financiadores do alegado ataque estariam nos Estados Unidos.
Um suposto grupo de militares e civis rebeldes, que se apresenta como Movimento Nacional Soldados de Camisetas, até agora desconhecido, reivindicou o ataque.
O governo vincula um dos detidos ao ataque ao forte militar Paramacay (estado de Carabobo), ocorrido há exatamente um ano e durante o qual cerca de 20 homens, comandados por um ex-capitão da Guarda Nacional, roubou 21 fuzis.
A invasão em Paramacay foi reivindicada pelo policial Óscar Pérez, executado junto com outras seis pessoas em 15 de janeiro, seis meses depois de lançar de um helicóptero duas granadas sobre a sede da Suprema corte e atirar contra o Ministério do Interior em Caracas. Não houve feridos.
Maduro enfrenta uma forte rejeição popular devido à profunda crise econômica, marcada por falta de alimentos e medicamentos e uma inflação que chegará a 1.000.000% em 2018, segundo o FMI.
O presidente pretende "reforçar sua narrativa de que a crise se deve a agentes externos", assegurou à AFP o diretor do centro de pesquisas Diálogo Interamericano, Michael Shifter.
No domingo, o alto comando militar reiterou sua "irrestrita lealdade" a Maduro.
Com grande poder, a Força Armada é considerada a principal sustentação do presidente socialista, cuja reeleição em 20 de maio não foi reconhecida nem pela oposição, nem por boa parte da comunidade internacional.
A ameaça do presidente de perseguir os responsáveis com mão de ferro foi considerada pela opositora Frente Ampla uma "tentativa de intensificar a repressão". Este grupo denuncia que na Venezuela há mais de duas centenas de presos políticos.
O ministro do Interior, Néstor Reverol, declarou que cada drone continha 1 quilo de explosivo C4. Um foi desativado com inibidores de sinal perto do palanque, e o outro perdeu o controle e se chocou contra o edifício.
A TV estatal exibiu uma imagem na qual Maduro aparece desorientado após a explosão do artefato, ao lado da primeira-dama, Cilia Flores, e de altos funcionários.
Depois disso, é retirado do local por seguranças, e depois de uma segunda explosão, dezenas de militares aparecem correndo assustados.
Apesar dos detalhes fornecidos pelas autoridades, restam várias dúvidas.
Embora Reverol tenha explicado que os dois drones eram controlados por "terroristas", o procurador afirmou no sábado que um destes aparelhos efetuava a gravação oficial do ato. "Pude observar como o drone que filmava os fatos explodiu", disse à CNN.
Na Venezuela exige-se uma permissão especial para manipular estes aparelhos e é muito difícil fazê-lo durante atos oficiais.