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Primeiro-ministro do Haiti oficializa renúncia após conselho de transição tomar posse

Expectativa é de que processo traga alguma estabilidade ao país, que não realiza eleições desde 2016; gangues expressaram descontentamento por terem sido excluídas

Premier do Haiti, Ariel Henry, discursa em universidade no Quênia (Simon Maina/AFP)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 25 de abril de 2024 às 14h50.

Última atualização em 25 de abril de 2024 às 14h51.

Como prometido após anunciar sua renúncia em março, o primeiro-ministro Ariel Henry oficializou sua demissão, nesta quinta-feira, após os nove membros do Conselho Presidencial de Transição do Haiti , encarregados de supervisionar a transição política e impor alguma estabilidade ao p aís devastado pelas gangues, terem prestaram juramento no Palácio Nacional e tomarem posse.

A cerimônia foi marcada pela violência dos grupos armados, e um tiroteio obrigou o evento a ser transferido para o gabinete do premier, conhecido como Villa d'Accueil, em Porto Príncipe, segundo a BBC.

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O premier, que deveria ter deixado o governo em fevereiro, oficializou sua saída em uma carta. O anúncio segue a promessa feita por Henry, no dia 11 de março, de que deixaria o cargo após a instalação do conselho. "Senhoras e senhores, membros do Conselho de Ministros, [...] confirmo-vos que, por motivos pessoais, optei por retirar-me imediatamente do cargo de primeiro-ministro e de todas as responsabilidades ministeriais", afirmou Henry em sua carta, citada pelo Le Nouvelliste. E concluiu:

"Agradeço ao povo haitiano pela oportunidade de servir ao nosso país com integridade, sabedoria e honra. O Haiti renascerá".

Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram os membros do conselho — composto por oito homens e uma mulher, sendo sete votante e dois observadores — durante a cerimônia de posse, sendo recebidos com festa no palácio presidencial de Porto Príncipe, acompanhados pela música de uma fanfarra.

O Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti (BINUH) saudou a instalação, informou o jornal haitiano Le Nouvelliste. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que a posse do conselho "um passo crucial rumo a eleições livres e justas", acrescentando que os EUA entregaram um primeiro carregamento de equipamento não letal à polícia nacional haitiana.

A formação do conselho foi confirmado em 12 de abril. Sua instalação, adiada várias vezes devido a semanas de lutas internas, tem agora a tarefa de preparar o país, que não realiza eleições desde 2016, para novas eleições até 2026. O próximo passo é a nomeação de um novo primeiro-ministro.

Nesse meio tempo, o Haiti funcionará com um governo interino, dirigido pelo ministro da Economia, Michel Patrick Boisvert, nomeado por decreto na quarta-feira. O dirigente já tinha assumido algumas comunicações oficiais nas últimas semanas, uma vez que Henry está em Los Angeles, nos EUA, e impossibilitado de regressar ao país após uma viagem ao Quênia.

A posso do novo conselho renova as expectativas sobre a missão internacional liderada pelo Quênia, cujo envio ao Haiti foi condicionado à sua instalação. O envio de uma força de segurança foi aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU em outubro do ano passado, mas o acordo havia sido alcançado com o primeiro-ministro Henry.

Violência em Porto Príncipe

Como nas últimas, a cerimônia de posse foi marcada pela violência. Tiroteios foram registrados em vários locais da capital e próximo ao Palácio Nacional, obrigando, segundo a BBC, a transferência do evento para o gabinete do premier. As gangues, que expressarem descontentamento por terem sido excluídas das negociações, já haviam prometido inviabilizar a cerimônia. No dia anterior, a polícia teve que usar gás lacrimogêneo para dispersar as multidões nos arredores, informou a rede britânica.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais na terça-feira, um dos mais poderosos líderes de gangue, Jimmy "Barbecue" ameaçou os membros do conselho: "Estejam ou não instalados, esta mensagem é para vocês. Preparem-se". Segundo a rede britânica, no mês passado, ele prometeu depor as armas se as gangues pudessem participar das negociações para o conselho de transição.

Depois de enfrentar uma série de crises, incluindo vulnerabilidade econômica e desastres naturais, a instabilidade política do Haiti só piorou desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021. O quadro da violência teve uma guinada em fevereiro: as ruas de Porto Príncipe foram tomadas pelo caos desde o fim de fevereiro, quando gangues criminosas lançaram ataques a delegacias de polícia, prisões, sedes oficiais e ao aeroporto da capital, exigindo a renúncia de Henry.

Os grupos armados controlam mais de 80% da capital e têm cometido vários abusos, incluindo assassinatos, estupros, saques e sequestros. De acordo com as Nações Unidas, o conflito deslocou cerca de 360 mil haitianos internamente, em um país com cerca de 11,6 milhões de habitantes.

A violência das gangues também forçou 95 mil pessoas a fugirem da capital e mergulhou cinco milhões em uma "fome aguda", de acordo com especialistas da ONU. Os hospitais no momento estão sobrecarregados e à beira do colapso, e a organização relatou a falta de suprimentos médicos como remédios, luvas cirúrgicas, anestésicos. O combustível para geradores também tornou-se inacessível.

Um acordo político alcançado pelos membros do conselho presidencial determinou, entre suas prioridades, "restabelecer as condições de segurança pública" ou "adotar medidas excepcionais para reativar a economia, melhorar a oferta de serviços básicos e combater a insegurança alimentar". Mas, antes, eles terão que assumiu o poder.

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