Prevenção de futuras pandemias e desafios diplomáticos no G7
Declaração para prevenir futuras pandemias será adotada pelos líderes das maiores potências mundiais
AFP
Publicado em 12 de junho de 2021 às 10h12.
Última atualização em 12 de junho de 2021 às 10h19.
Os líderes do G7 vão adotar, neste sábado (12), uma declaração, considerada "histórica", para prevenir futuras pandemias, no segundo dia de uma cúpula na Inglaterra que insistirá no multilateralismo diante dos desafios apresentados pela Rússia e pela China.
Após um primeiro dia de encontro na sexta-feira (11), com fotos na praia e recepção com a rainha Elizabeth II, a agenda de trabalho se intensificou.
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Aos chefes de Estado e de Governo da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido se unirão seus colegas da Coreia do Sul, África do Sul e Austrália, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Londres, que preside o clube este ano, também convidou a Índia, em uma clara tentativa de neutralizar a influência da China na Ásia e na África, mas seu primeiro-ministro, Narendra Modi, não viajou ao Reino Unido devido à grave situação de saúde em seu país.
Mas a suposta união que o anfitrião Boris Johnson quis mostrar foi ofuscada pelo Brexit e suas complicadas consequências na região britânica da Irlanda do Norte.
O presidente francês, Emmanuel Macron, exortou Johnson a implementar os compromissos assinados com a União Europeia, referindo-se ao "protocolo da Irlanda do Norte" que visa preservar a frágil paz estabelecida pelo acordo da Sexta-feira Santa, que em 1998 encerrou três décadas de conflito entre católicos republicanos e protestantes unionistas.
"O acordo da Sexta-feira Santa e a paz na ilha da Irlanda são primordiais. Negociamos um protocolo para preservá-los, assinado e ratificado pelo Reino Unido e pela União Europeia" e "ambas as partes devem implementar o que foi acordado", afirmaram a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
Para Johnson, preservar este pacto também é essencial, mas ele pediu aos europeus que mostrem "pragmatismo e concessões" na aplicação das disposições especiais.
E, em declaração à Sky News, advertiu que o governo britânico "não hesitará" em suspender o acordo do Brexit com a Irlanda do Norte se os europeus se recusarem a mostrar flexibilidade.
"Se o protocolo continuar a ser aplicado dessa forma, não hesitaremos em invocar o Artigo 16" do acordo da Irlanda do Norte, que permite que certas disposições sejam suspensas.
Evitar outro desastre sanitário
No plano sanitário, depois da promessa de doar um bilhão de vacinas a outros países para acabar com a covid-19 o mais rápido possível, os líderes querem encontrar uma maneira de evitar outras crises como esta.
O G7 assinará a "Declaração de Carbis Bay", descrita por Johnson como um "momento histórico".
"Com este acordo, as principais democracias do mundo se comprometerão a evitar que uma pandemia global volte a ocorrer, para que a devastação causada pela covid-19 não se repita", tuitou.
Entre seus compromissos, está a redução do tempo para desenvolver vacinas, tratamentos e diagnósticos, na esperança de estar prontos em menos de 100 dias para enfrentar uma doença repentina.
Também fortalecer a vigilância sanitária e reformar a Organização Mundial da Saúde (OMS) para torná-la mais forte.
O comunicado, no entanto, silencia sobre a espinhosa questão da suspensão das patentes de vacinas para acelerar sua produção, uma ideia apoiada pelos Estados Unidos e pela França, mas rejeitada pela Alemanha.
Na opinião da ONG Oxfam, o G7 é muito brando com a indústria farmacêutica. "Esta declaração não resolve os problemas fundamentais que impedem que as vacinas sejam acessíveis à maioria da humanidade", denunciou.
Conter a influência da China
O segundo dia da cúpula, que se encerra no domingo (13), também tem um tom marcadamente diplomático, com a defesa do multilateralismo e atenção especial à China e à Rússia.
Os líderes pretendem afirmar seus "valores" como democracias liberais, de acordo com a chanceler alemã Angela Merkel.
No entanto, a Casa Branca garantiu que não quer se concentrar em Pequim.
"Não se trata de pressionar os países a escolherem entre os Estados Unidos e a China. Trata-se de oferecer outra visão e outra abordagem", declarou uma autoridade americana.
Neste contexto, os Estados Unidos anunciaram o lançamento pelo G7 de uma nova iniciativa de infraestruturas que investirá centenas de bilhões de dólares em "países de baixa e média renda", buscando competir com a iniciativa da China das "Novas Rotas da Seda", que consiste em grandes obras destinadas a fortalecer sua influência internacional.
Este projeto das grandes potências, denominado "Reconstruir o mundo melhor", deve ajudar esses países a se recuperarem da pandemia, com foco no clima, na saúde, na tecnologia digital e no combate às desigualdades, anunciou a Casa Branca em comunicado.
Embora "os diferentes parceiros do G7 tenham orientações geográficas diferentes", o projeto "terá um alcance global, desde a América Latina e Caribe até a África e o Indo-Pacífico", disse a Casa Branca.
Os líderes encerrarão o dia com um ambiente mais cordial, compartilhando um churrasco ao pôr do sol na praia de Carbis Bay, cidade litorânea do sudoeste do país onde se celebra a cúpula, com marshmallows assados em fogo de lenha.
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