Presidente turco acusa Alemanha de práticas nazistas
"Suas práticas não são diferentes das dos nazistas", declarou Erdogan em um comício em Istambul
AFP
Publicado em 5 de março de 2017 às 13h48.
Última atualização em 5 de março de 2017 às 13h49.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan afirmou neste domingo que a decisão da Alemanha de cancelar comícios de seus partidários não é algo muito diferente das "práticas nazistas".
"Suas práticas não são diferentes das dos nazistas", declarou Erdogan em um comício em Istambul a favor do referendo sobre a ampliação de seus poderes.
"Acreditava que a Alemanha havia renunciado há tempos (a essas práticas). Nós nos enganamos", acrescentou.
"Os alemães nos dão lição de democracia e depois impedem os ministros desse país (Turquia) de expressá-la", lamentou Erdogan.
As relações entre os governos alemão e turco estão cada vez mais em atrito, principalmente desde que a Alemanha cancelou três comícios organizados em seu território e que pretendiam apoiar o referendo com o qual o governo turco tem por finalidade aumentar os poderes do presidente Erdogan.
A chanceler alemã Angela Merkel explicou que a decisão de autorizar ou não os comícios não era competência do Estado federal e sim dos municípios.
Merkel ligou no sábado para o primeiro-ministro turco Binali Yildirim para tentar abaixar a tensão, e os chanceleres dos dois países devem se reunir na próxima quarta-feira.
Grande comunidade turca
A Alemanha conta com uma grande comunidade turca de três milhões de pessoas implantada desde anos 60, quando o país precisava de mão de obra para a indústria.
O embate entre os governos alemão e turco são constantes desde o falido golpe de Estado ocorrido em julho na Turquia, e alcançaram seu ápice após o encarceramento na segunda-feira (27) do correspondente turco-germânico Deniz Yücel, do jornal Die Welt na Turquia, sob alegação de "propaganda terrorista".
Em seu discurso, Ergodan apresentou Yücel como um "agente alemão" e "representante do PKK", o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, organização considerada "terrorista" por Ancara, assim como a União Europeia (UE) e Estados Unidos. Essa acusação foi classificada de "aberrante" por Berlim.
Outros dirigentes europeus se somaram ao debate.
O chanceler austríaco Christian Kern opinou neste domingo que a UE deveria proibir em seu território comícios organizados pelos dirigentes turcos.
O deputado holandês de extrema-direita Geert Wilders também se opôs que o chanceler turco Mevlut Cavusoglu vá a Rotterdã para defender o referendo que reforças os poderes de Erdogan.
O governo holandês considerou na sexta-feira que é indesejável a realização, em 11 de março, do comício favorável a Erdogan em Rotterdã, organizado pelos membros da também importante comunidade turca nessa cidade portuária.
O evento está previsto quatro dias antes de os holandeses votarem nas legislativas do país.
Segundo as últimas pesquisas, o Partido para a Liberdade (PVV) de Wilders está empatado em intenções de voto com o Partido Liberal (VVD) do primeiro-ministro Mark Rutte.