Premier polonês diz que Europa vive momento mais crítico desde 1945: 'estamos em uma era pré-guerra'
Para Donald Tusk, não importa quem vença as eleições nos EUA, é tarefa da Europa proteger a Ucrânia para evitar 'cenário pessimistas'
Agência de notícias
Publicado em 29 de março de 2024 às 11h40.
Donald Tusk, de 66 anos, tem uma imagem de sua infância gravada na memória. É uma fotografia que estava na casa de sua família em Sopot, às margens do Mar Báltico, próxima à sua cidade natal: uma praia cheia de pessoas sorridentes e felizes. A foto foi tirada em 31 de agosto de 1939.
"Algumas horas depois, a cinco quilômetros de distância, a Segunda Guerra Mundial começou", lembra. Agora, o primeiro-ministro polonês alerta que a Europa está novamente "em uma era pré-guerra" e deve se preparar para se defender.
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— Não quero assustar ninguém, mas a guerra não é mais um conceito do passado. Ela é real e começou há mais de dois anos — disse Tusk em entrevista a jornalistas europeus em seu escritório em Varsóvia, argumentando que o compromisso da Otan, a aliança militar ocidental encabeçada pelos EUA, de dedicar 2% do PIB à Defesa deve ser cumprido e que é preciso aumentar a ajuda à Ucrânia para evitar "cenários pessimistas".
Tusk, um líder democrata-cristão que gera tanto ódio quanto admiração na Polônia, foi primeiro-ministro entre 2007 e 2014 e retornou ao poder após vencer as eleições em outubro passado. Sua principal promessa de campanha foi restaurar o Estado de direito após oito anos de governo do ultraconservador Lei e Justiça (PiS) e devolver o país ao centro da Europa, uma tarefa que assumiu com mão de ferro e algumas decisões controversas.
Ele tem sido a principal figura do espaço liberal-conservador na Polônia nas últimas duas décadas e retornou ao cenário político de seu país vindo de Bruxelas, onde presidiu o Conselho Europeu e, mais tarde, o Partido Popular Europeu (PPE), que nas próximas eleições europeias deve decidir se faz parceria com a extrema direita ou se opta pelas alianças dos últimos 60 anos.
Seus comentários foram feitos em um momento em que uma nova barragem de mísseis russos atingiu a Ucrânia, em meio à intensificação dos ataques aéreos russos nas últimas semanas. A Força Aérea ucraniana afirma ter abatido 58 drones e 26 mísseis na madrugada desta sexta-feira, e a infraestrutura de energia foi danificada em seis regiões, no oeste, centro e leste do país, segundo o primeiro-ministro Denys Shmyhal.
— O que é mais preocupante agora é que literalmente qualquer cenário é possível. Não tivemos uma situação como essa desde 1945 — comentou o premier sobre a inevitabilidade de uma guerra entre a Rússia e países europeus. — Sei que isso parece devastador, especialmente para as pessoas da geração mais jovem, mas temos de nos acostumar mentalmente a uma nova era. Estamos em uma era pré-guerra. Não estou exagerando. Isso está se tornando cada vez mais evidente a cada dia.
No final de dezembro, o espaço aéreo polonês foi invadido brevemente por um míssil de cruzeiro russo direcionado para o território da Ucrânia, num dia marcado por intensos bombardeios contra várias cidades ucranianas. A violação fez com que a Polônia enviasse, três dias depois, quatro de seus caças F-16 para o leste do país para proteger sua fronteira.
— Esse foi outro incidente preocupante — destacou Tusk. — Quando Lviv ou outras cidades do oeste da Ucrânia são atacadas, o som das explosões pode ser ouvido do nosso lado da fronteira. No último Conselho Europeu, tive uma discussão interessante com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. Ele nos pediu que parássemos de usar a palavra "guerra" em declarações. Argumentou que as pessoas não querem ser ameaçadas dessa forma, que na Espanha isso soa abstrato. Respondi que, em minha parte da Europa, a guerra não é mais uma abstração e que nosso dever não é discutir, mas agir e nos preparar para nos defender.
O premier defende que proteger a Ucrânia é uma tarefa da Europa, que não pode ficar à mercê das iniciativas do governo americano na Otan.
— Independentemente de Joe Biden ou Donald Trump vencerem a próxima eleição [nos EUA], é a Europa que precisa fazer mais no que diz respeito à Defesa — afirma. — Não para obter autonomia militar em relação aos EUA ou para criar estruturas paralelas à Otan, mas para fazer melhor uso do nosso potencial, das nossas capacidades e da nossa força. Seremos um parceiro mais atraente para os EUA se formos mais autossuficientes em questões de Defesa.
Para Tusk, “não há razão para que os europeus não respeitem o princípio fundamental [da Otan] e gastem um mínimo de 2% do PIB em Defesa ”. Na opinião do líder polonês, a Europa precisa gastar “o máximo que puder para comprar equipamentos e munição para a Ucrânia, porque estamos vivendo o momento mais crítico desde o fim da Segunda Guerra Mundial”. Ainda segundo ele, “os próximos dois anos decidirão tudo”:
— Se não pudermos apoiar a Ucrânia com equipamentos e munição suficientes, se a Ucrânia perder, ninguém na Europa poderá se sentir seguro.