Premiê da França diz que vai dialogar com sindicatos para "apaziguar" país, mas que reforma continua
A França vive protestos massivos contra uma reforma da Previdência. A premiê Élisabeth Borne afirmou que se reunirá com atores sociais nas próximas semanas
Redação Exame
Publicado em 26 de março de 2023 às 20h26.
Última atualização em 26 de março de 2023 às 20h27.
A premiê da França , Élisabeth Borne, anunciou quese reunirá nas próximas três semanas com parlamentares, partidos, sindicatos e outras associações da sociedade civil com o intuito de "apaziguar o país".
A França tem sido palco de protestos massivos contra uma reforma da Previdência defendida pelo governo do presidente Emmanuel Macron , do qual Borne faz parte.
"Estou à disposição dos agentes sociais. É preciso chegar a um bom caminho: encontros bilaterais? Uma [reunião] intersindical? É preciso acalmar as coisas. E que possamos retomar o trabalho sobre todas essas questões", afirmou a primeira-ministra, em entrevista à agência de notícias francesa AFP.
Borne, no entanto, lembrou que a reforma da Previdência foi aprovada e "seguirá seu curso" até que o Conselho Constitucional emita o seu parecer. A premiê disse que, ao término do processo,o presidente Emmanuel Macron "deverá promulgar a lei".
Macron já afirmou em entrevistas anteriores que a reforma é necessária e que não voltará atrás na medida.
Borne responde a críticas de reforma por decreto
A reforma da Previdência apoiada por Macron aumenta de 62 para 64 anos a idade mínima de aposentadoria, o que originou os protestos em âmbito nacional e a maior crise para o governo desde o episódio dos "coletes amarelos" há seis anos.
Macron usou um dispositivo na lei francesa para conseguir implementar a reforma por decreto, sem precisar de aprovação no Parlamento. Sobre as críticas a esse dispositivo, Borne assinalou que, "desde o início da legislatura, foram aprovados definitivamente 11 projetos de lei e 12 propostas legislativas" e que "se recorreu ao 49.3 [artigo que permite a aprovação de leis sem votação parlamentar] em apenas três textos".
O artigo 49.3 da Constituição permite legislar por decreto, mas expõe o governo a uma moção de censura. No dia 17 de março, duas moções foram votadas e superadas pelo Executivo. O governo Macron, porém, sobreviveu a ambas as votações, uma vez que seu grupo partidário tem maioria no Parlamento.
A mando do presidente, Borne também deve construir um programa de governo e um programa legislativo para o qual "desenvolverá" um "plano de ação" nas próximas três semanas "que mobilize todos os atores que querem fazer o país avançar", explicou a primeira-ministra.
O que está na reforma da Previdência francesa
Macron reiterou que as alterações nas regras das aposentadorias francesas buscam evitar um "déficit" na Previdência local.
- A proposta inclui aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030;
- Antecipação para 2027 da exigência de tempo de contribuição por 43 anos, e não mais 42, para ter direito a uma pensão completa.
Os movimentos sociais, sindicatos e outros grupos têm feito protestos praticamente diários em Paris e outras cidades, nas maiores manifestações contra uma reforma social em três décadas no país.
Embora não precise do Parlamento diretamente para aprovar a medida por decreto,Macron também foi alvo de moção de confiança, mas saiu vitorioso.
Na segunda-feira, 20, o governo Macron sobreviveu a duas moções de confiança no Parlamento, que, na prática, chancelaram a reforma. Uma das moções chegou a ter 278 votos contra o governo, ainda assim ficando abaixo dos 287 necessários. A aliança de centro que apoia o governo tem maioria no Parlamento.
Com o resultado, Macron chegou a dizer na entrevista que, se algum grupo de oposição tiver votos suficientes no Parlamento, "que se apresente".
O líder do sindicato CGT, Philippe Martinez, disse que as declarações de Macron foram "um desprezo pelos milhões de manifestantes". O chefe do Partido Socialista, Olivier Faure,disse que o presidente "colocou mais lenha em uma fogueira muito acesa".
(Com informações da AFP)