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Por que a eleição na Argentina não preocupa o CEO da Flybondi, segunda maior aérea do país

Mauricio Sana diz que país aprendeu a lidar com turbulências econômicas e espera melhora em 2024

Mauricio Sana, CEO da companhia aérea argentina Flybondi (Divulgação/Divulgação)
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 27 de outubro de 2023 às 06h17.

Neste ano, a inflação na Argentina chegou perto de 140% ao ano, o preço do dólar paralelo quase dobrou e há temores de que a economia possa piorar depois do resultado das eleições, que será conhecido em 19 de novembro.

O cenário turbulento, no entanto, não preocupa Mauricio Sana, CEO da Flybondi, segunda maior empresa aérea da Argentina, com cerca de 20% do mercado doméstico do país, e que opera no modelo de baixo custo.

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Nascido na Colômbia, Sana trabalha no país há mais de uma década e diz que a Argentina se acostumou a lidar com problemas graves na economia. Em conversa com a EXAME, ele falou também sobre os planos da empresa de abrir uma filial no Brasil para operar voos domésticos no país.

Como a empresa faz para operar em um cenário de dólar instável e inflação elevada na Argentina?

A Argentina e o mercado argentino já têm certa resiliência a todos os movimentos econômicos. Eu estou na Argentina há uns 12 anos, e normalmente os termos de inflação e desvalorização têm estado sempre no manejo de todos. É comum que as pessoas falem de inflação, de valorização, como um termo já entranhando na cultura popular. Então, nesta linha, nos ajuda muito primeiro entender [a situação] e entender que nosso cliente também sabe, e tratá-los de uma maneira inteligente e transparente. E nosso negócio é sermos eficientes. Quando somos muito eficientes no aproveitamento de recursos, podemos oferecer uma opção muito competitiva de viagens. Com isso, chegamos à Argentina com os preços nominais em dólares, a taxa de câmbio não importa. Conseguimos baixar os preços em 30%, e com esses números, podemos ser viáveis financeiramente. Entramos em círculo virtuoso e podemos crescer.

Qual o cenário que espera para depois das eleições?

Ao olhar a conjuntura econômica da Argentina, as coisas ficaram um pouco mais críticas, com o pós-pandemia, a seca, e outras situações que geraram mais pressão econômica. Mas vemos que podemos terminar 2024 com a economia um pouco melhor do que tivemos nos últimos dois anos. Assim, o cenário que vemos do nosso ponto de vista econômico, passando essa conjuntura, na verdade é positivo. E está alinhando ao que vários economistas e analistas de mercado veem.

Espera alguma mudança radical na economia com a posse do novo presidente?

Temos conseguido ter um peso grande dentro do mercado, como a segunda maior empresa aérea, e isso faz com que nos tenham em conta. Quando uma empresa demonstra que está aportando na economia nacional e regional, digamos que a relação política se suaviza, independentemente da coloração política que haja. Temos avançado muito neste terreno, no que dizemos que venha o que venha dentro do panorama político, vamos estar lá para colaborar, ajudar com que o mercado siga crescendo, porque já demonstramos que se pode. Somos bastante positivos para os próximos meses.

Mas especialistas apontam que a Argentina precisa de um ajuste fiscal. Isso não pode gerar uma nova crise e reduzir o poder de compra da população?

Sim, mas, para nós, low cost significa ser eficiente. Então, independentemente do ressentimento que possa haver no bolso dos argentinos, a Flybondi vai seguir sendo a melhor opção em termos de preço. Nos vemos como um aliado do cliente neste momento difícil para todos. Digamos que este é um pouco do jogo, e é assim que nos colocamos no tabuleiro.

Avião da Flybondi (Divulgação/Divulgação)

Como avalia o movimento de alianças e uniões entre empresas aéreas na região, como a de Avianca e Gol?

Somos muito críticos a isso. Primeiro, é difícil encontrar outro operador que compartilhe nosso DNA. Estamos nos mercados para ser a melhor opção e gerar crescimento, e normalmente as fusões que temos visto até agora são fusões muito financeiras. Como "compartilhamos mercados, então o que queremos é nos proteger para que os ganhos fiquem aqui". E, normalmente, as fusões são resposta a outra fusão. Uma fusão válida para nós seria algo como: nos damos conta que os brasileiros gostam de ir a Bariloche, então podia haver uma oportunidade de fusão para facilitar a vida desse passageiro. Mas não temos tido nenhuma proposta.

Como vê o momento atual da operação da Flybondi no Brasil?

Temos presença em três destinos do Brasil, conectando Buenos Aires com Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis. Temos tido resultados muito bons, com boa aceitação dos passageiros vindos dos dois países. Claramente há possibilidade de crescimento nestas rotas, e estamos analisando novas rotas, como Porto Alegre. Estamos analisando voltar. E temos outros destinos em análise, como Belo Horizonte e Brasília. Creio que vamos resolver os planos nas próximas semanas e nos próximos meses, definir qual será o esquema de operação. O mercado brasileiro é muito importante para nós. No tráfego entre Argentina e Brasil, temos uma participação de cerca de 5%.

Como andam os planos de operar no mercado brasileiro doméstico?

Como mercado próprio, o Brasil tem um potencial enorme, mais de 200 milhões de habitantes. As últimas medições mosram que estão chegando a 100 milhões de viagens [por ano], o que faz com que haja muito potencial para crescer. Estamos avaliando a possibilidade e criando planos de negócios sobre uma possível entrada da Flybondi para operar no mercado doméstico do Brasil. Estamos falando com os reguladores, porque a entrada de uma empresa aérea no Brasil tem muito a ver com as regulações, é muito complicado. Estamos avaliando toda a parte regulatória.

Há uma data prevista para que essa operação seja iniciada?

O processo já começou, e estamos avançando, mas ainda não sabemos se vamos terminar operando no Brasil ou não. Tudo depende das melhoras que possamos gerar. Estamos falando com Anac [agência reguladora do setor], [os ministérios de] Turismo, Transporte.  Buscamos gerar conscientização sobre se realmente interessa ao Brasil que novas empresas aéreas entrem no mercado. Há certas barreiras regulatórias que temos de trabalhar.

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