Ashutosh Maharaj: seguidores defendem que Maharaj se encontrava em um estado espiritual de "samadhi" (Religion World / Facebook/Reprodução)
EFE
Publicado em 7 de julho de 2017 às 09h00.
Última atualização em 7 de julho de 2017 às 13h26.
Nova Déli - Para a satisfação dos seguidores e graças a uma decisão judicial, o guru indiano Ashutosh Maharaj, declarado clinicamente morto em 2014, poderá permanecer em uma câmara frigorífica no oeste da Índia até que desperte do estado de transcendência em que se encontra, como argumentam seus devotos.
"O tribunal fez valer o nosso direito constitucional à liberdade de fé. Vamos continuar sendo coerentes com a nossa fé e as nossas crenças", explicou à Agência Efe Jaya Bharti, porta-voz do grupo Divya Jyoti Sansthan, fundado pelo guru.
O litígio, resolvido na última quarta-feira pelo Tribunal Superior de Punjab e Haryana, começou quando Dalip Kumar Jha, um homem que afirmava ser filho do guru declarado morto em 28 de janeiro de 2014, pediu que o pai fosse cremado segundo o rito hindu.
Os seguidores se opuseram ao pedido, defendendo que Maharaj se encontrava em um estado espiritual de "samadhi", no qual de acordo com várias correntes místicas da Índia a consciência está tão dissociada do corpo que este permanece insensível, mas vivo, motivo pelo qual o guru foi mantido em uma câmara frigorífica no próprio templo.
"Não é nada novo, há muitos exemplos ao longo da história da Índia com evidências de estados transcendentais deste tipo", defendeu Bharti.
Perante a rejeição dos seguidores, Kumar recorreu à Justiça, que deu a razão a ele em primeira instância em 2014 e ordenou que os seguidores se desfizesem do corpo. No entanto, quando a decisão foi revertida na quarta-feira passada.
"Declinamos invadir o território sagrado das crenças pessoais e discordamos (da sentença anterior) da ordem de se desfazer do corpo a não ser que haja provas evidentes de sua degeneração ou que isso gere problemas relacionados com a saúde pública, a ordem ou a moralidade", determinou o tribunal.
A Justiça considerou que se desfazer do corpo contra a vontade dos seguidores de Ashutosh seria atentar contra o direito à liberdade de culto previsto no artigo 25 da Constituição indiana.
Na sentença é explicado que no estado de Punjab, no norte da Índia, não existem leis que regulem ou obriguem a se desfazer dos corpos dos mortos. Além disso, o tribunal não encontrou provas conclusivas para determinar que Dalip Kumar Jha era realmente filho do guru.
O tribunal ordenou também a criação de um equipamento médico que avaliará periodicamente o estado do corpo e cujas despesas serão custeadas pela congregação, que deverá ter um fundo de 5 milhões de rúpias (R$ 255 mil) em uma conta bancária.
"Estudaremos esse ponto e faremos tudo o que os juízes decretarem porque o nosso principal desejo é respeitar a lei", explicou a porta-voz da congregação.
Maharaj fundou sua associação religiosa em 1983 para promover "o autodespertar e a paz global", e com os anos o grupo cresceu ao longo do mundo até alcançar mais de 30 milhões de seguidores e 350 sedes em mais de 15 países.
Durante os últimos três anos, o suposto filho do guru e a associação se acusaram mutuamente de querer se apropriar da fortuna de Maharaj, já que as propriedades da associação têm um valor estimado de mais de US$ 160 milhões (R$ 528 milhões).