População mundial atinge oito bilhões em um mundo bem diverso
Seria preciso ter 103 mil Maracanãs para acomodar número de habitantes atual
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de novembro de 2022 às 18h36.
Foram necessários milhares de anos para que, por volta de 1804, a humanidade atingisse o marco de 1 bilhão de pessoas. Quase dois séculos depois, em 1985, o número bateu os 5 bilhões. Com avanços da Medicina, que causaram declínio da mortalidade e aumento da expectativa de vida, só 12 anos foram necessários para passar de 7 bilhões para 8 bilhões, atingidos neste mês, segundo as projeções da Organização das Nações Unidas (ONU).
Se o número assusta ou parece inimaginável - para se ter ideia, seria preciso ter 103 mil Maracanãs para acomodar tanta gente -, a tendência é de que a população siga crescendo e atinja os 10 bilhões em 2058. Porém, com a redução na fertilidade, a velocidade do crescimento será menor.
Em 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus, pela primeira vez desde 1950 a taxa de incremento anual ficou abaixo de 1%.
Segundo as Nações Unidas, há 50% de chance de que a população mundial chegue ao pico - e que seu tamanho estabilize ou comece a cair - antes do fim do século. Embora a ONU destaque que a crise da covid-19 afetou "todos os componentes da mudança populacional", com queda da expectativa de vida para 71 anos em 2021 - era de 72,8 em 2019 -, o real impacto ainda não é claro, pois a pandemia prejudicou operações de coleta de dados.
Para António Guterres, secretário-geral da ONU, o marco expõe a urgência do combate às desigualdades. "A menos que superemos o abismo entre os que têm e os que não têm, estamos nos preparando para um mundo de 8 bilhões de pessoas cheio de tensões e desconfiança, crise e conflito." Uma melhor distribuição de riquezas, segurança alimentar, produção de energia limpa e controle de epidemias são alguns dos principais desafios.
"Não podemos confiar em soluções de tamanho único em um mundo onde a idade média é de 41 anos na Europa, ante 17 na África Subsaariana", afirma a diretora executiva do Fundo de População das Nações Unidas, Natalia Kanem.
Considerando o cenário previsto para julho de 2023, quase seis de cada dez pessoas no mundo estarão na Ásia. Índia e China serão as nações mais populosas, concentrando cerca de 35% da população mundial. Só uma a cada dez pessoas tem 65 anos ou mais.
Crianças de até 14 anos representam quase um quarto da população. Adultos, de 25 a 59 anos, respondem por pouco mais de 34%.
Cerca de oito em cada dez pessoas vivem em uma nação com renda média-baixa, média ou média-alta. Segundo a classificação do Banco Mundial, significa que elas estão em países com renda nacional bruta anual por habitante de US$ 1.086 a US$ 13.205 (de R$ 5,8 mil a R$ 70,4 mil).
Que o mundo continua a crescer não há dúvida, mas isso não é regra para todos os países. Mais da metade da alta projetada até 2050 será em apenas oito países: República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Índia, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Tanzânia.
O incremento populacional será puxado por nações menos desenvolvidas, o que impõe desafios para atingir metas sustentáveis, como frear a crise climática, em cenários de menor disponibilidade de verba e estrutura. Enquanto isso, 61 países devem encolher 1% ou mais entre este ano e 2050.
As maiores reduções, com perdas de 20% ou mais, devem ser de Bulgária, Letônia, Lituânia, Sérvia e Ucrânia, que neste ano virou o centro de uma guerra após invasão pela Rússia.
As faixas de idade também mudam. Em 2018, pela primeira vez, idosos superaram as crianças menores de 5 anos. A ONU espera que haja 1,6 bilhão de idosos em 2050 - 16% dos moradores da Terra.
Essa transformação muda as demandas de políticas públicas, como da rede hospitalar, da assistência social (como abrigos, moradias para idosos e na necessidade de cuidadores), previdência social (com elevação de gastos em aposentadorias) e de educação (com turmas menores diante da redução do número de crianças e adolescentes e uma janela de oportunidade para elevar investimentos na qualidade do ensino, por exemplo). Em relação ao gênero, hoje o número de homens é 0,5% maior do que o de mulheres. Em 2050, se iguala.
Quantas pessoas tem no Brasil?
Já a população brasileira será de 216,42 milhões em julho. O ritmo de crescimento já está abaixo de 1 ponto porcentual desde 2008. Com isso, deve atingir o pico populacional, com 231 milhões ainda em 2046 e, a partir daí, começa a decrescer. Em 2100, a ONU estima 184,54 milhões de habitantes. Se, por ora, pessoas com 65 anos ou mais representam cerca de 10,2% do País, a mesma taxa deve ser de 33% em 2100.
Para especialistas, o Brasil vem falhando em aproveitar o bônus demográfico das últimas décadas, quando houve uma proporção mais alta de jovens em idade economicamente produtiva. A maior fatia populacional nessa faixa etária, segundo economistas, deveria ser uma oportunidade para elevar a geração de riquezas.
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