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Política de Obama no Oriente Médio está em encruzilhada

Analistas atribuíram a morte de quatro cidadãos americanos na Líbia às fracas medidas de segurança em um país que apenas começa a se transformar em uma democracia

Manifestantes protestam no Cairo, Egito: o governo de Obama também está em uma "posição difícil" perante a virulência dos protestos em países como o Egito (Khaled Desouki/AFP)
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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2012 às 13h39.

Washington - Os protestos antiamericanos que se estenderam pelo mundo árabe, e que resultaram nos ataques às legações diplomáticas dos Estados Unidos na Líbia, Egito e Iêmen, puseram em uma encruzilhada a política do presidente Barack Obama no Oriente Médio, segundo analistas.

O claro apoio que o governo americano outorgou às revoltas da Primavera Árabe em 2011 entranhava riscos, como demonstra o longo conflito na Síria, que levou muitas vozes no EUA a questionar a posição oficial.

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Porém, o momento mais incômodo para Obama aconteceu na terça-feira, quando o embaixador na Líbia, Chris Stevens, que tinha sido seu enviado especial a Benghazi e seu contato com os rebeldes que tentavam derrubar Muammar Kadafi, morreu em um ataque motivado por um vídeo antimuçulmano.

Os analistas atribuíram a morte de Stevens e outros três americanos às fracas medidas de segurança em um país que apenas começa a se transformar em uma democracia, o que indignou uma parte da opinião pública que considera que ajudou a salvar o país com o estímulo à intervenção da Otan contra Kadafi.

Vários congressistas tentaram responder a essa confusão com um pedido para suspender a ajuda financeira e de segurança tanto à Líbia como ao Egito, justo quando o governo americano finaliza os preparativos para um pacote de US$ 1 bilhão destinado a aliviar a avultada dívida pública egípcia.

"Estamos falando de governos que não têm muita experiência governando e se encontram em uma posição muito difícil no que se refere à segurança", disse à Agência Efe Aaron D. Miller, um especialista em Oriente Médio do Wilson Center de Washington.

"Mas está claro que se o governo egípcio não é capaz de proteger às instalações americanas e a nossa gente, não deveria receber US$ 1 bilhão", acrescentou.

No entanto, Miller não acredita que a política americana na região vá mudar substancialmente, a não ser "que morram americanos no Egito ou em alguma outra embaixada".

Para Robert M. Danin, analista do Conselho para Relações Exteriores (CFR), os EUA devem ser cautelosos em suas relações com países onde há "situações sem precedentes", como é o caso do Egito, que elegeu o primeiro presidente islamita de sua história, Mohammed Mursi, explicou no site do centro de estudos.

Para Shadi Hamid, diretor para o Oriente Médio do centro de estudos Brookings, mudar a política na região por causa dos ataques seria "um grave erro".

"Após décadas solapando a democracia árabe com seu apoio constante a autocratas, os EUA finalmente estão desempenhando um papel positivo, inclusive crucial, no apoio à recuperação econômica de governos democraticamente escolhidos", escreveu Hamid em artigo na revista "Foreign Policy".

Como lembra Miller, o Oriente Médio já era "profundamente antiamericano antes da Primavera Árabe", uma tendência que Obama se propôs a mudar no começo de seu mandato, com seu celebrado discurso no Cairo.

Porém, em parte pela frustrada tentativa de uma negociação bem-sucedida do conflito palestino-israelense, "as pessoas do mundo árabe perderam muita fé e esperança no que o presidente disse que queria fazer", apontou Miller.

"Talvez o que eles queriam fosse pouco realista e o que ele propôs era um pouco idealista. Seja como for, nossa credibilidade ali foi bastante afetada", considerou.

O ocorrido na Líbia é algo que os EUA não podem controlar, segundo o analista, que lembrou que os protestos pelas caricaturas de Maomé no jornal "Jyllands-Posten" em 2006 causaram mais de 100 mortes, e que vão além do sentimento antiamericano na região.

Em qualquer caso, conclui Danin, o governo de Obama está em uma "posição difícil" perante a virulência dos protestos em países como o Egito, onde o presidente Mursi não só demorou a condenar os ataques, mas convocou uma manifestação que hoje promete se transformar em um novo momento embaraçoso para Washington.

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