Exame Logo

Pesquisadores avaliam energia solar no Brasil

País tem 20 MW de capacidade instalada para geração de energia fotovoltaica

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

A crise energética e a busca por energias renováveis têm reacendido o debate sobre fontes alternativas como a fotovoltaica, na qual células solares convertem luz diretamente em eletricidade. Mas no Brasil, país que pela área, geografia e localização, entre outros fatores, é potencialmente favorável para o desenvolvimento de sistemas fotovoltaicos, existe um atraso em relação a outros países.

Esse foi um dos diagnósticos apresentados durante o Workshop em Energia Fotovoltaica, realizado na semana passada na sede da FAPESP. O objetivo do evento foi reunir especialistas para discutir desafios científicos e tecnológicos de curto, médio e longo prazos no setor, além de expor o panorama mundial de desenvolvimento da pesquisa e inovação, recursos e lacunas existentes nas universidades e centros de pesquisa no Estado de São Paulo.

Veja também

De acordo com Cylon Gonçalves da Silva, professor emérito do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador adjunto da FAPESP para Programas Especiais, o objetivo maior do workshop foi fazer uma prospecção do que já existe no Estado de São Paulo em pesquisa e desenvolvimento na área de eletricidade fotovoltaica.

"A partir disso, pretendemos avaliar se caberia ou não à FAPESP a criação de um programa específico nessa área. Como todo programa específico da Fundação, será necessário demonstrar não apenas sua relevância técnico-científica, mas também o diferencial de contribuição para o desenvolvimento de São Paulo que ele pode propiciar", disse à Agência FAPESP.

 <hr>  <p class="pagina">Os participantes, ligados a grupos de pesquisa no Estado de São Paulo,  apresentaram diversos aspectos relacionados ao tema. As palestras  abordaram, em linhas gerais, o desenvolvimento de células solares e de  módulos fotovoltaicos, a necessidade de se produzir silício de alta  pureza (o chamado silício de grau solar), a reativação dos laboratórios e  a necessidade de uma política nacional na área para viabilizar a  produção em larga escala, entre outros aspectos.<br> <br> A energia solar fotovoltaica é a forma de produção de eletricidade que  mais cresce no mundo atualmente. Segundo estudos do Instituto de Energia  da Universidade da Califórnia e da Associação das Indústrias  Fotovoltaicas Europeias, desde 2003 o índice de expansão dessa indústria  ultrapassa 50% ao ano.<br> <br> Para o professor Francisco Marques, do Instituto de Física da Unicamp,  que apresentou o panorama da pesquisa fotovoltaica no mundo, esse índice  extraordinário só foi possível devido à integração dos sistemas  fotovoltaicos integrados à rede pública convencional de energia.<br> <br> "Como é uma energia intermitente, acoplada à rede, não há necessidade de  baterias para armazenamento. O Brasil tem tido um crescimento muito  lento em aplicações isoladas. Para ter uma expansão acelerada – como a  que vem ocorrendo em vários países da Europa –, terá de desenvolver  sistemas integrados à rede elétrica", afirmou.<br> <br> Roberto Zilles, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da  Universidade de São Paulo (USP), abordou os sistemas periféricos de  armazenamento das energias fotovoltaicas e destacou a reduzida produção  nacional por esse sistema.<br> <br> "Temos apenas cerca de 20 MW de capacidade instalada para geração de  energia fotovoltaica em sistemas isolados, que são empregados em  bombeamentos de água e eletrificação rural, em áreas na Amazônia, no  Norte e no Nordeste", disse. Esse valor daria, por exemplo, para o  consumo de uma pequena cidade com cerca de 2 mil a 3 mil habitantes.</p>       <hr>  <p class="pagina">Segundo Zilles, a iniciativa com sistemas isolados está contemplada na  resolução 83 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 2004,  que estabelece os procedimentos e as condições de fornecimento de  sistemas individuais de geração de energia elétrica com fontes  intermitentes, que contempla as fontes solar, eólica, biomassa e  pequenas centrais hidrelétricas.<br> <br> <strong>Custo energético</strong><br> <br> "A raiz do problema que emperra a expansão brasileira na área esbarra na  produção do silício. As células mais importantes e consolidadas no  mercado são as fabricadas à base de silício", disse Henrique Toma,  professor do Laboratório de Nanotecnologia Molecular da USP, que  apresentou estudos desenvolvidos sobre síntese de novas moléculas e de  fotossíntese artificial, uma área ainda em desenvolvimento no país.<br> <br> Depois do oxigênio, o silício é o elemento químico mais abundante na  crosta terrestre. Para o professor Paulo Roberto Mei, do Departamento de  Engenharia de Materiais, da Unicamp, não faz sentido investir em um  produto em que se tem perdido mercado, no caso o silício metalúrgico. O  Brasil exporta essa forma impura do mineral a US$ 2 o quilo, enquanto  importa o silício de alta pureza, para uso na indústria eletrônica, a  US$ 60 o quilo.<br> <br> "Vendemos a forma impura, que é muito fácil de fazer e não usa  praticamente nenhuma tecnologia. Mas o problema é que, para isso,  gasta-se muita energia, além de produzir muito material particulado, que  polui o meio ambiente. No Brasil, temos uma legislação rigorosa que  obriga a usar filtros muito eficientes, o que é muito bom. Mas,  resumindo, o processo é caro e a venda não é lucrativa", explicou.</p>       <hr> <p>Segundo ele, o país vem perdendo espaço para a China e para a Índia  nessa produção. "Eles conseguem produzir o mesmo silício metalúrgico com  um custo menor. A China detinha 25% do mercado mundial há alguns anos e  hoje tem quase 70%. Indústrias brasileiras têm sido compradas por  empresas norte-americanas para transformar o silício metalúrgico em  silício de alta pureza. Do ponto de vista estratégico para o país, isso é  um desastre", disse Mei.</p> <p> </p> <p>O professor da Unicamp destaca que o silício poderia ser usado não  apenas para a produção de energia fotovoltaica, mas na indústria de  microeletrônica, isto é, de semicondutores.</p> <p> </p> <p>Outra discussão importante no workshop foi o custo energético. Entre  todas as formas de energia limpa, a fotovoltaica ainda é a mais cara. "Em uma análise apenas econômica, talvez se conclua que importar é mais  fácil, por ser mais barato. Mas existem outros aspectos. Quando os  norte-americanos levaram o homem à Lua, pode não ter significado muito  do ponto de vista econômico em um primeiro momento, mas gerou um parque  industrial incrível", disse Mei.</p> <p> </p> <p>Mas a discussão política na área de fotovoltaicos parece caminhar na  direção da importação. Já está em curso no Senado o projeto de número  336/2009 que isenta do imposto de importação, que é de 12%, as empresas  estrangeiras que fornecerem células fotovoltaicas, módulos em painéis e  seus periféricos.</p> <p> </p> <p>Pelo projeto proposto, todos os estádios da Copa de 2014, que será no  Brasil, utilizariam energia fotovoltaica. De acordo com Roberto Zilles, o  projeto, que tem apenas um parágrafo, tem grandes chances de aprovação.</p> <p> </p> <p>"Mas, se o objetivo é incentivar o desenvolvimento de tecnologia  fotovoltaica – seja a produção de células ou de elementos periféricos –,  isentar de impostos os produtos prontos tira a perspectiva em relação à  pesquisa, desenvolvimento e inovação nessa área no país", disse.</p> <p> </p> <p><strong>Geração potencial</strong></p> <p> </p> <p>No campo do desenvolvimento de células fotovoltaicas, o Brasil tem  acompanhado as pesquisas de ponta internacionais, mas ainda em nível  experimental. De acordo com Ana Flávia Nogueira, do Instituto de Química  da Unicamp, atualmente o Laboratório de Nanotecnologia e Energia Solar  (LNES) da Unicamp já desenvolve células com materiais nanoestruturados,  as chamadas células de terceira geração.</p> <p> </p> <p>"A grande vantagem é que o custo desses materiais é baixo. Já  conseguimos utilizar em aplicações menores, como em mochilas solares,  utilizadas para carregar baterias de notebooks, por exemplo", disse no  workshop na FAPESP.</p> <p> </p> <p>O problema, segundo ela, é que a eficiência energética da conversão da  energia da radiação solar em energia elétrica ainda não é satisfatória,  girando em torno de 6,5%. Atualmente, a média mundial de eficiência é de  14% e as melhores células no mercado não ultrapassam os 20%.</p> <p> </p> <p>As células da primeira geração utilizavam o silício monocristalino. As  de segunda, os filmes finos e, atualmente, as da terceira geração  empregam células fotovoltaicas orgânicas ou células fotovoltaicas  híbridas orgânicas/inorgânicas.</p> <p> </p> <p>"Os dispositivos fotovoltaicos baseados em silício monocristalino  representam uma tecnologia completamente dominada e que apresenta  elevado índice de conversão de energia solar em elétrica. Mas o custo de  produção e de manutenção torna inviável seu uso em larga escala", disse  Roberto Mendonça Faria, do Instituto de Física de São Carlos da USP.</p> <p> </p> <p>Segundo ele, a tecnologia produzida a partir dos semicondutores amorfos e  de óxidos, na forma de filmes finos (segunda geração), vem se mostrando  viável do ponto de vista econômico. Mas o destaque está mesmo na  terceira geração.</p> <p> </p> <p>"A nova geração de tecnologia dos dispositivos orgânicos é de fácil  processamento, baixo custo de fabricação e muito versátil. Eles ainda  não apresentaram eficiências energéticas aceitáveis, mas as pesquisas  vêm se desenvolvendo rapidamente. É preciso um mecanismo para coordenar  os vários grupos de pesquisa no Brasil a fim de viabilizar a fabricação  desses dispositivos para torná-los mais eficientes na aplicação",  defendeu.</p> <p> </p> <p>Nos encaminhamentos do workshop, os participantes se dividiram em três  grupos de trabalho. Cada um elaborará um documento com a análise dos  principais aspectos discutidos no workshop, focados principalmente nas  três gerações de células solares. O objetivo é que, a partir dos  documentos, seja realizado um novo encontro.     </p> 
Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame