Para Putin, ano foi favorável para seus planos
Durante sua tradicional coletiva de imprensa de fim de ano, o líder russo relembrou fatos de um ano dedicado a suas políticas na Síria, EUA e Europa
AFP
Publicado em 23 de dezembro de 2016 às 12h35.
Vladimir Putin expressou nesta sexta-feira a sua confiança no futuro, depois de um ano muito favorável a seus planos, com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e uma virada na guerra na Síria em favor do regime.
Questionado durante sua tradicional coletiva de imprensa de fim de ano, o chefe do Estado russo relembrou fatos de um ano dedicado a sua política militar na Síria e as suas políticas na Europa e nos Estados Unidos, onde a influência russa nunca foi mais forte desde a queda da União Soviética, há exatamente 25 anos.
"Ninguém, exceto nós", os russos, acreditou que Donald Trump poderia ser eleito presidente, declarou Putin, criticando ao mesmo tempo os democratas Barack Obama e Hillary Clinton por sua falta de "dignidade" na derrota.
A Rússia, e Putin pessoalmente, foram acusados por Washington de perturbar as eleições presidenciais por meio de ciberpirataria para favorecer a vitória de Trump, que defende uma "normalização" das relações com Moscou.
"O Partido Democrata não só perdeu a eleição presidencial, mas também o Senado e o Congresso, onde os republicanos têm a maioria. Isso foi por causa de algo que nós, que eu, fizemos?", ironizou o presidente russo.
"Eles estão perdendo em todas as frentes, mas colocam seus fracassos na conta dos outros, de fatores externos. Eu acho que isso prejudica a sua dignidade. Deve-se perder com dignidade", disse Putin.
Descontraído, seguro de si, o chefe de Estado se permitiu brincar sobre o status de "mestre do mundo" dado por alguns comentaristas.
A um jornalista americano que perguntou sobre eventuais eleições presidenciais antecipadas, Putin respondeu com um sorriso: "Em que país?"
Corrida armamentista
Putin também acusou o governo americano de ter colocado os dois países em uma nova corrida armamentista após se retirar do tratado ABM sobre a limitação de armas estratégicas em 2002.
"Quando uma parte se retira unilateralmente do tratado e diz que vai criar um guarda-chuva anti-nuclear para si mesmo, então a segunda parte deve criar o mesmo guarda-chuva ou criar sistemas eficazes para superar este sistema de defesa antimísseis, o que fazemos com sucesso", disse Putin.
"Não fomos nós que começamos (este processo). Fomos obrigados a responder a este desafio", acrescentou.
No dia anterior, ele havia ordenado o fortalecimento da força de ataque nuclear do país, especialmente para torná-la capaz de superar qualquer escudo antimísseis.
Na sequência, Donald Trump considerou fortalecer e aumentar a capacidade dos Estados Unidos em matéria de armas nucleares. Putin assegurou nesta sexta-feira não ver "nada de anormal" e "nada de novo" nesta posição.
O homem forte do Kremlin reiterou que considera a Rússia "mais poderosa do que qualquer agressor potencial."
Mestre na Síria
Estas declarações ocorrem após o anúncio, pelo exército sírio, da retomada completa da cidade de Aleppo, a maior vitória para o presidente Bashar al-Assad desde o início da guerra em 2011, um sucesso que não teria sido possível sem o apoio militar decisivo da Rússia.
Vladimir Putin, que se fez mestre do jogo na Síria ao ponto de conseguir retirar quase completamente Washington do processo de resolução do conflito, considerou nesta sexta que a retomada de Aleppo era "um passo muito importante" para a paz.
Para o próximo ano, o presidente fixou o objetivo: o fim da guerra e das negociações de paz entre Damasco e a oposição sob os auspícios da Rússia, Turquia e Irã.
"Temos de fazer tudo o possível para parar os combates em todo o território sírio. Em qualquer caso, isto é o que procuramos", disse ele, argumentando que o exército russo conduziu em Aleppo "a maior operação humanitária internacional contemporânea" na evacuação de civis das áreas rebeldes.
Sinal de que a Rússia está agora fortemente estabelecida na Síria, Putin ordenou uma expansão das instalações portuárias militares em Tartus, noroeste do país, que deve se tornar uma base naval permanente.