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Países bombardeiam jihadistas na esperança de mudar Síria

Monarquias do Golfo se uniram aos bombardeios contra os jihadistas na Síria com a esperança de derrubar o regime sírio

Pilotos sauditas posam após uma missão contra posições jihadistas na Síria (AFP)

Pilotos sauditas posam após uma missão contra posições jihadistas na Síria (AFP)

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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2014 às 12h54.

Dubai - As monarquias do Golfo se uniram aos bombardeios contra os jihadistas na Síria depois de conseguir envolver militarmente os Estados Unidos, com a esperança de que a ação leve à queda do presidente Bashar al-Assad, estimam especialistas.

No curto prazo, a aliança com os Estados Unidos apresenta um risco duplo para estas monarquias: o possível reforço do regime de Assad e a oposição de parte da opinião pública de seus países sunitas a combater grupos de sua mesma confissão, como o Estado Islâmico (EI), acrescentam.

Desde 2011, os países do Golfo precisaram lidar com as hesitações do presidente americano Barack Obama, que primeiro teve dúvidas, depois se mostrou reticente e ao fim se mostrou contrário ao envolvimento militar contra Assad.

Além disso, alguns destes Estados foram acusados de financiar grupos islamitas sunitas na Síria.

Para se unir à coalizão idealizada por Washington, as monarquias do Golfo impuseram "uma condição muito clara: não haveria apoio à política americana (contra o) EI no Iraque sem uma ação militar na Síria", explica Mustafa Alani, analista do Gulf Research Center, com sede em Genebra.

A aliança se tornou oficial no dia 11 de setembro na cidade saudita de Jidá, onde dez ministros árabes se comprometeram, ante o secretário americano de Estado, John Kerry, a participar da luta global contra o EI, incluindo a campanha militar coordenada.

Esta participação é explicada, principalmente, pelo fato de que estes países eram acusados de ajudar e financiar o EI e outros grupos terroristas, afirma Abdulkhaleq Abdula, professor de ciência política da Universidade dos Emirados.

Mas "o EI é, na realidade, uma ameaça para a segurança (destas monarquias) e também para a legitimidade ideológica da Arábia Saudita", berço do wahabismo (versão fundamentalista do Islã), acrescenta Abdullah.

Também é significativo ver a Arábia Saudita e o Catar no mesmo lado meses depois de Riad acusar os catarianos de terem apoiado os islamitas e ameaçado a segurança regional, explica Frederic Wehrey, especialista do Golfo e da política americana no Oriente Médio no Institut Carnegie Endowment for International Peace.

Segundo François Heisbourg, da Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS), a campanha na Síria é uma versão ampliada da guerra de 2011 na Líbia com a intervenção de aviões dos Emirados Árabes Unidos e do Catar.

Mas, assim como na época, as ações de hoje contra o EI não significam que os países envolvidos tenham os mesmos objetivos, ressalta. "Com o tempo veremos as divergências nas agendas dos que apoiam a Irmandade Muçulmana (Catar, Turquia) e dos outros Estados da região".

Torcida pela queda de Assad

Frederic Wehrey afirma que em um primeiro momento a intervenção dos países do Golfo pode beneficiar Damasco, mas Mustafa Alani tem outra visão.

Para Alani, "a presença de aviões americanos no espaço aéreo sírio, principalmente no norte, transforma esta parte da Síria em uma 'No Fly zone' (zona de exclusão aérea) para o exército sírio".

Segundo Abdullah, além da eliminação dos grupos islamitas radicais, o objetivo final dos países do Golfo é que Assad "volte a um ciclo de negociações, 'Genebra III', com a esperança de que ao final vá embora, como aconteceu com (Nuri) al-Maliki", o ex-primeiro-ministro iraquiano.

Paralelamente à campanha aérea, Riad decidiu treinar rebeldes da oposição síria moderada.

No entanto, estima Wehrey, os Estados do Golfo podem se ver diante de "uma agitação por participar de uma coalizão dirigida pelos Estados Unidos".

Na Arábia Saudita, "os bombardeios contra o EI são impopulares entre um segmento da população".

"No Golfo também acredita-se que os Estados Unidos atacam os sunitas e priorizam as minorias como os curdos ou os yazidis, e, em particular, os xiitas", acrescenta Wehrey.

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